CXLVIII

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Poema do descanso.

Depois de voar em céus escuros
Raia o sol, em fracos fiapos de luz.
Cicatrizes marcam frase
Onde desaguava o sangue corrente.
Se ardeu chama em meu pobre corpo,
Descansa dormente de novo.
Palavras foram soltas, dispostas, empoetadas.
Ficarão logo elas, empoeiradas na estante
De todos os poemas sobre perturbação.

Ando só, vendo tudo ao redor
Rabiscando palavras pouquinhas, pequenas e belas
Palavras estas, que se estivessem fortemente acompanhadas, elas não seriam nada.

Se me despi de pele e ossos diante do fogo,
Encoberta fui pelo véu fosco.
Se saí feito criança sem pai, que tudo faz
E se fere em ferros pontiagudos,
Em redor de mim, reluz um novo escudo.

Às petúnias, os lírios deste bosque tão verde.
Sentirei o perfume doce todas as manhãs em que tiver vida em mim.
Ao velho banco cinza, que abriga meu corpo
Dias tão cansado, e ferido.
Tudo o poema dirá;
Diz poema, a todas as flores desse reino inventado
Que tudo em mim é novo
Não há lugar mal habitado.

Diz poema, diz com pressa todas as coisa que te peço.
Guarda em todos os peitos que me amaram,
Parte do verso que mais gostei em vida.

Declama poema, os lugares que andei,
Os toques na pele que nunca se quer encostei.
Relata aos amados, o quanto foram por mim sentidos e esmagados,
Feito vinho caro, pisado a pé.

Fala tudo poema, nada te cales.
Fala e faça correr um pranto pouquinho,
Nos corações em que habitaste.

L.e

Poemas sobre amor e outros sentimentos caóticosOnde histórias criam vida. Descubra agora