Um novo (re)começo

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"Agora são 09 horas e quinze minutos no horário de Brasília..."

Fui acordada pelo som do notíciario na televisão, deveria ter ficado ligada a noite toda, não me surpreende afinal, apaguei completamente na noite anterior e sequer vi que horas eram.

Essa é a desvantagem de se morar sozinha, não se tem ninguém para fazer as coisas mais simples pra você como desligar a TV e evitar que se gaste energia, ou te acordar quando você está desesperadamente atrasada para um compromisso qualquer.
O que me fez lembrar, eu tinha um compromisso, não que estivesse atrasada mas, sair para entregar currículos em Brasília é o tipo de coisa que é preferível se fazer o mais cedo possível, considerando o trânsito e toda a movimentação nas ruas.

Me aprontei o mais rápido que consegui ainda tentando espantar o sono, mal engoli o café da manhã e pra piorar a situação tive que gastar mais alguns minutos pra limpar o tapete que Frida havia feito o favor de sujar de xixi.

Frida é minha gatinha e a única companhia que tenho aqui, exceto quando minha irmã vem me visitar.

- Se comporte só por algumas horas, eu prometo que volto para o almoço, ok? - eu disse acariciando seu pelo e ela soltou um grunhido manhoso em resposta.

Peguei a bolsa sobre a mesa e não pude ignorar o porta retrato ao lado dela.

- Queria tanto que você estivesse aqui... Me deseje sorte por favor, eu vou precisar! - eu disse acariciando o rosto de Miguel na foto onde ele sorria espontâneamente.

Quando o perdi todos me garantiram que eu iria ficar bem, que aquela dor seria passageira e que logo eu conseguiria forças pra seguir em frente e recomeçar.

Hoje, um ano depois eu começo a ter certeza que eles mentiram, a dor não foi embora, pelo contrário, continua tão viva quanto nunca, e a saudade então, essa já é de casa.

Miguel foi o grande amor da minha vida, não acho que esse seja o tipo de perda que se supera, assim como não tenho nenhuma esperança nem mesmo vontade de amar alguém novamente.

Mas mesmo com toda a dor eu me vi obrigada a seguir em frente, e é por isso que estou indo atrás de um emprego, não quero mais depender de ninguém para pagar o aluguel do apartamento, e talvez, um trabalho possa me distrair um pouco de toda essa monotonia.

Eu já havia deixado alguns currículos nas principais lojas de Brasília, isso sem mencionar os shoppings.
Mas estou um pouco mais esperançosa hoje, isso porque minha irmã me falou sobre uma fábrica de chocolates bastante famosa, eles estão precisando de uma nova secretária, e eu tenho qualificação para o cargo.

Quem sabe não é o meu dia de sorte? Não tenho dúvidas de que Miguel estaria ao meu lado, ou melhor, está!

A fábrica é realmente enorme, eu poderia facilmente me perder ali dentro.

Havia uma entrada onde provavelmente eles recebem os clientes ou candidatos à funcionários como eu.

Uma mulher estava naquela espécie de recepção e eu resolvi me aproximar.

Ela me olhou de cima abaixo como se eu fosse algum tipo de petisco e sorriu, estava usando algo que julguei ser um uniforme, e tinha um crachá onde se lia "Carla", agora a recepcionista misteriosa e nada discreta tinha um nome.

- Bom dia! Veio pra entrevista de emprego? - ela questionou.

- Ãn, não, eu vim apenas entregar um currículo, aliás, com quem eu devo falar?

- Comigo querida! Eu quem recolho os currículos e faço as entrevistas.

- Ah me desculpe eu não sabia!

- Tudo bem, não tem que se desculpar - ela abriu um sorriso indecifrável e podia jurar que estava flertando comigo - Com licença.

Ela retirou o currículo da minha mão e analisou minuciosamente.

- É para a vaga de secretária?

- Isso mesmo - assenti.

- Hm... Você parece boa... Quero dizer qualificada, tem grandes chances!

- Ah, eu fico feliz, confesso que estou bastante esperançosa.

Mais uma vez aquele sorriso indecifrável, quem ela está pensando que eu sou?

- Bem, vou analisar melhor e entrarei em contato caso você fique com a vaga,boa sorte.

- Muito Obrigada, eu vou aguardar!

Eu acenei e me virei para ir embora mas ela chamou minha atenção.

-Ah, pode manter suas esperanças, você tem o perfil que procuramos.

Assenti forçando um sorriso e me apressei a sair dali.

Perfil? para ser secretária em uma fábrica de chocolates?

Não era coisa da minha cabeça, ela literalmente estava flertando comigo.

Não que isso seja um problema pra mim, afinal sou bissexual, mas ela não é bem o meu "tipo", e a última coisa no mundo que eu preciso agora é me relacionar com alguém de um suposto trabalho, isso arruinaria tudo.

Mas fiquei realmente animada em pensar que aquela vaga poderia ser minha, trabalhar naquele lugar parecia um sonho, o salário é bom e eu poderia fazer novas amizades.

- Preciso contar isso pra Estella! - foi a primeira coisa que pensei e imediatamente peguei o telefone.


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