Pane no sistema

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Minhas mãos suavam frio, mesmo com o ar gelado dentro do uber.
Tentei controlar a respiração mas a ansiedade tomava conta de mim em um nível absurdo, e parecia piorar quanto mais o motorista avançava em direção à fábrica.

Saí mais cedo o possível com medo de me atrasar, já que como Carla observou, minha quase chefe odeia atrasos, se quero causar boa impressão a hora é essa.

Quase saltei do carro quando chegamos, fui colocada mais uma vez de molho naquela recepção, o que só me deixou duas vezes mais nervosa.

Já se aproximava das oito quando Carla apareceu e veio até mim.

- Micaella não é?

- Exatamente!

- Me acompanhe por favor, Dona Marta está te esperando!

"Dona Marta", ao menos agora ela tem um nome, imediatamente me veio a mente a imagem de uma senhora rica que mora em uma mansão e faz viagens internacionais três vezes por ano.

A sala estava vazia, e Carla me convidou a sentar e esperar por ela, em seguida foi chamá-la.

Era um escritório amplo, bem arejado, a decoração sofisticada sem nada muito exagerado, ela tinha bom gosto.

Ouvi passos pelo corredor e imediatamente fiquei de pé, pensei que seria muito deselegante esperar por ela sentada em sua sala como se já fosse "de casa."

A primeira figura que vi foi a de Carla que parou junto a porta com um sorriso gentil para aguardar ela.

E então aconteceu, a seguir surgiu a figura de uma mulher que fez meu coração parar de bater por alguns segundos.

MEU DEUS QUE MULHER É ESSA? Era tudo que eu conseguia pensar enquanto ela caminhava na minha direção quase que em câmera lenta, o cabelo brilhante de tão preto se movimentava a cada passo, e parecia armonizar perfeitamente com cada detalhe dela, linda da cabeça aos pés, bem vestida, elegante, e eu já não estava mais naquela sala, viajei pra um mundo paralelo onde meus olhos passaeavam nas curvas dela, e seus cabelos longos me conduziam.

Fui desperta do meu transe quando ela estendeu a mão para me cumprimentar.

- Então, você é Micaella Dias? A nova secretária?

Até a voz dela é perfeita? ela é mesmo real? me questionei mentalmente.

- Ah... Sim, eu sou... Sou eu mesma! - foco Micaella!

- Muito prazer,  sou Marta Goulart, a proprietária da fábrica de chocolates Goulart, e ao que tudo indica, sua chefe - ela finalizou sorrindo, e que sorriso...

Mas... COMO ASSIM ELA É A DONA? O QUE ACONTECEU COM A SENHORA RICA E ESNOBE? PRA ONDE FOI TODA A ARROGÂNCIA E PREPOTÊNCIA? E PORQUE ELA NÃO SE PARECE NADA COM AS VILÃS ESTÉRICAS DE NOVELA?

Ela é totalmente o oposto de tudo que havia imaginado, a gentileza e o olhar doce, quase me deixavam sem graça, e definitivamente não é uma senhora, deve ter algo entre 35 a 40 anos.
Julguei cedo demais.

- Não precisa ficar em pé, eu quero conhecer você antes de definir qualquer coisa, e talvez demore um pouquinho.

- Ah, claro! - me sentei sentindo minha pressão descer junto comigo.

Ela quer ME conhecer? como se eu pudesse focar em algo que não seja ela.

- E então? Porque quer trabalhar aqui?

Porque pagam bem? porque é uma das maiores empresas da cidade? porque eu não fui chamada pra nenhum outro lugar? Ou talvez porque eu precise urgentemente de um emprego pra não surtar pensando no meu namorado morto?

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