É inevitável

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Após o carro alugado por Marta me deixar no condomínio onde moram minha mãe e Estella - após eu insistir em não ir direto pra casa - passei pela portaria e fui direto bater na porta torcendo para que minha irmã estivesse em casa.

Ela abriu, com Frida no colo, me senti tão bem ao ver minha gatinha que logo a tomei nos braços a acariciando.

- Como vai a coisinha mais gostosa da mamãe? - imitei voz de bebê e ela se aninhou toda manhosa - que saudade minha bebezinha.

- Eu tô bem, obrigada - Estella protestou revirando os olhos.

Eu ri e deixei Frida livre pra ir cumprimenta-la.

- Desculpa, você sabe que nunca fiquei longe dela tanto tempo, vem cá, senti tanto sua falta - a abracei.

- Sentiu mesmo? Jurava que não ia nem lembrar que eu existia, estava em salvador com sua linda pattoa, o máximo que poderia sentir falta era da sua gata.

- Para de drama! Aliás, eu preferia mil vezes que você estivesse lá comigo, ao contrário da Frida, você me impediria de fazer besteira.

- Ah meu Deus! O que você fez? - ela arregalou os olhos.

- A mamãe tá em casa?

- Não, já foi pra confeitaria, vem vamos pro meu quarto e você vai me contar absolutamente tudo!

A segui até o quarto, levando Frida no meu colo.

...

Ao chegar em casa tomei um banho esperando que o chuveiro fizesse o trabalho de lavar e me fazer esquecer tudo o que aconteceu naquela viagem.

Sabia que era em vão, quando fechava os olhos a imagem de Micaella ainda era viva e quase palpável em minha mente, como se ela estivesse ali debaixo do chuveiro comigo, dentro daquele box, e meu corpo se arrepiava com a ideia.

Quando sai do banho, Sérgio estava no quarto desfazendo as malas, ele me encarou sorrindo e me deu um beijo na testa.

- Tenho que reconhecer que você se esforçou dessa vez, conseguiu conciliar o trabalho e ainda participou da viagem com a gente, os garotos adoraram, devíamos fazer isso mais vezes.

- Prometo que vou tentar flexibilizar a agenda de vez em quando - eu disse.

- Estou orgulhoso de você, sei que não foi fácil, desculpa se te cobro demais, você sabe que me preocupo com nossa família.

Assenti.

- Não tem que se desculpar Sérgio, você não fez nada errado... É uma pessoa incrível, talvez até melhor que eu.

- Não se subestime, você é forte Marta - ele disse - vou tomar um banho, se quiser descansar eu desfaço suas malas depois.

Ele seguiu pro banheiro, então tive privacidade pra me sentar na cama e chorar toda a culpa que senti, parecia que o destino queria me torturar, aquelas palavras, toda aquela atenção, me fizeram sentir mais culpa pelo que fiz, e o que mais me corria não era o fato de sentir culpa, mas o fato de não conseguir me arrepender do que fiz, e o desejo incontrolável de querer denovo.

Eu sabia que aquele era só o começo, que tudo seria mais difícil quando tivesse que encara-la na empresa e fingir que não sentia o que estava sentindo, ter que carregar comigo todos os dias o fardo de que eu cheguei tão perto da felicidade e não pude alcançar, era isso que tornava especial minha relação com Micaella, nossa história - se é que posso chamar assim - com ela tive a sensação de uma liberdade que nunca havia provado antes, de uma felicidade nova, uma espécie de alegria que eu nunca senti.

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