Doce criatura

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Assim que terminei meu almoço tentei ligar pra casa, mas ninguém atendeu.
Henrique não deve estar em casa, pensei, ou não quis falar comigo.

Nunca fantasiei que a maternidade pudesse ser fácil, mas também nunca pensei que pudesse ser tão complicado ser mãe de um adolescente, alguma coisa mudou drasticamente entre mim e Henrique desde que ele fez 15 anos, e cada vez ele se distancia mais.

Alguém bateu na porta e autorizei a entrada, era a secretária.

- Com licença, seu marido ligou, ele disse que não vai poder buscar Samuel na escola, parece que teve um imprevisto com um cliente.

- Logo hoje que não tô conseguindo falar com meu outro filho.

- Quer que eu tente ligar pra ele?

- Não, não precisa - pensei um pouco - faz assim, liga pro meu motorista e diz pra ele buscar ele pra mim por favor.

- Está bem, mais alguma coisa?

- Só isso, obrigada!

Ela sorriu e se retirou.

Tenho uma simpatia por essa garota, ela nunca se mete nos meus assuntos, não tenta arrancar nada da minha vida pessoal como a maioria das secretárias faziam, está sempre pronta quando chamo e é sempre objetiva,  e isso me agrada.

Acho que vamos nos dar muito bem.

...


Liguei pro motorista do qual eu não fazia ideia de quem era, pra falar a verdade eu sequer sabia que ela tinha um motorista, por sorte minha antecessora havia deixado uma agenda com todos os números de "emergência".

Fiquei me perguntando se eles de alguma forma tem tempo pra essa criança? A mãe sempre fora, o pai advogado, e esse irmão que nem atende a própria mãe... E isso não é da minha conta.

Me concentrei no meu trabalho após resolver a questão do motorista.

Cerca de meia hora depois, estava eu organizando as próximas reuniões da agenda de Marta quando fui interrompida por uma voz meiga, e infantil?? Desde quando tem crianças aqui? Me perguntei.

- Oi!

Me dirigi ao dono daquela voz, um garotinho de aparentes 8 anos, dócil e adorável, e uma das crianças mais lindas que já vi.

- Ah...Oi, posso ajudar você?

- Eu vim ver minha mamãe!

- Quem é sua mãe? Você está perdido?

- Não, me leva na minha mamãe moça, você conhece ela?

- Qual é o nome da sua mãe?

- Marta!

Meu coração falhou uma batida.

Olhando melhor pra ele agora, realmente era notável a semelhança, eram quase idênticos, eu devia ter percebido, mas estava tão imersa em meus pensamentos que nem liguei os pontos.

Como eu ia explicar pra ela que o filho dela estava ali na fábrica?
Mas isso  é um problema do motorista não meu, certo? Meu Deus e se ele fugiu do motorista?

- Quem trouxe você?

- O tio Ricardo!

- Graças a Deus - Ricardo era o nome do motorista.

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