Bomba relógio

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Durante os minutos em que dançamos foi como se só existisse eu e ela, como se estivessemos flutuando em algum lugar do universo onde ninguém podia nos alcançar, eu só senti algo assim uma vez na vida, quando estava com Miguel e eu sabia o que isso significava, mas não queria ver porque não estava preparada pra falar isso em voz alta.

A música acabou e isso nos trouxe de volta a realidade, e a realidade naquele momento eram uns muitos pares de olhos curiosiosos nos encarando, eu estava feliz demais pra ligar pra isso e acho que Marta também, porque ela simplesmente deu de ombros e se virou ao garçom pra pegar mais uma bebida.

Não ficamos ali por muito mais tempo depois disso, não queríamos dar a ninguém mais motivos pra desconfiarem de nossa relação e eu agradeci mentalmente quando ela me chamou pra ir embora, não sei se aguentaria mais tempo no papel de amiga secretária - embora essa fosse a minha função - não dava pra ignorar a voz na minha mente implorando pra puxa-la pra mim e beijá-la como se minha vida dependesse disso.

Quando entramos no carro - ainda rindo da forma desajeitada que Marta tentava se equilibrar no salto que, a essa altura estava a machucando - paramos de sorrir e nos encaramos em silêncio por alguns segundos e; por mais rápidos que fossem eu consegui ter coragem suficiente pra aproximar meu rosto do seu desejando mais do que tudo que ela me desse permissão pra fazer aquilo que nós duas queríamos desde o início da noite.

Ela não me repeliu, pelo contrário, fechou os olhos como se esperasse por aquilo, mas quando estava a poucos centímetros ela se deu conta, e se afastou olhando em meus olhos.

- Eu não...Me desculpa Micaella mas eu não posso!

Me afastei imediatamente e baixei o olhar me recriminando por ter tentado.

- Não, tudo bem... Eu que peço desculpas, eu não devia, esquece isso.

Ela suspirou e ligou o carro, fomos em silêncio durante todo o trajeto que parecia maior agora, quando paramos em frente ao prédio eu me virei pra ela, apenas pra me despedir.

- Até mais Marta, mais uma vez me desculpe por qualquer coisa...

- Tudo bem, você não precisa se desculpar - ela suspirou - obrigada pela noite, por me acompanhar, você tornou tudo isso incrível!

- Eu só fiz o que qualquer um faria, qualquer um que tenha noção do quanto você é especial...

- Sérgio não fez! - ela disse me interrompendo - essa noite tinha tudo pra ser um fracasso, mas você mudou isso, então eu preciso agradecer, se tiver qualquer coisa que eu possa fazer por você...

- Não pode - eu disse - a única coisa que eu quero de você, é algo que eu não posso ter Marta.

- Eu sinto muito... Mas nós prometemos isso, prometemos fingir que nada aconteceu, se lembra?

- Sim eu me lembro, mas existe um abismo enorme entre prometer algo e conseguir cumprir Marta, e eu infelizmente não consigo, não consigo fingir que não quero algo quando cada molécula do meu corpo diz o contrário, não consigo ignorar o fato de que tudo aquilo aconteceu e foi incrível, e não consigo apagar tudo, agora me diz olhando nos meus olhos, você consegue?

Ela buscou meus olhos, mordeu os lábios devagar antes de finamente falar.

- Eu...quem eu estou tentando enganar, é claro que não, eu queria muito conseguir mas, não consigo.

- Então você entende - eu disse - talvez seja melhor procurar outro emprego ou...

- Não! - ela disse - por favor, eu preciso de você, você tem me ajudado tanto, sei que não posso te obrigar a nada mas, eu quero que fique.

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