um outro ponto de vista

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Fiquei paralisada por alguns minutos tentando processar aquela informação, não sabia se estava entendendo direito,  e ela deve ter notado porque logo prosseguiu dando resposta as minhas perguntas.

- O Sérgio não é? - balbuciei.

- Não, ele não é o pai do Henrique - ela suspirou mais uma vez - claro que ele sabe disso, ambos sabem enfim, você já vai entender.

- Estou surpresa - comentei.

- E vai ficar mais - ela deu um breve sorriso - Bem, como eu estava dizendo, me apaixonei por ele e pra minha sorte foi recíproco, passamos a nos encontrar todos os finais de semana, ele dava um jeito de escapar até onde eu morava, pra minha sorte meu primo foi um grande aliado nisso, ele me dava cobertura quando eu saia pra encontrar  o Gustavo... esse era o nome dele. - senti sua voz falhar e interrompi pra questionar.

- E então sua família descobriu sobre vocês?

- Bem os 18 anos chegaram, eu conclui os estudos e como era de se esperar eles viriam me buscar, contei ao Gustavo sobre isso e disse a ele que não queria ir, a essa altura já estávamos namorando mesmo sem ninguém saber, ninguém além do meu primo. Ele disse que não ia me deixar ir, que se casava comigo e que se eles não aceitassem a gente poderia fugir, que o pai dele podia nos ajudar.

- E o que aconteceu? eles aceitaram ele?

- Quando meus pais chegaram no final de semana deram de cara com ele, ele segurou minha mão, disse que me amava e que queria se casar comigo, que a intenção dele era a melhor possível, e eu disse que não queria ir embora, que queria viver ali com ele, ter minha família, minha própria vida, de início eles não gostaram muito da ideia, mas após conhecer ele melhor, e saber por fontes seguras de que ele era uma boa pessoa, acabaram concordando.

- Deve ter ficado muito feliz - conclui.

- Eu nem sabia expressar minha alegria, ele me pediu em casamento no mesmo dia, ficamos noivos por cerca de dois ou três meses, só o tempo de organizar a cerimônia, não era nada luxuoso, os pais dele tinham uma casa na cidade e nos deixaram viver lá, eles me adoravam.

- Imagino que devia ser muito feliz lá.

- Eu era, durante o tempo que ficamos juntos posso dizer que ele cumpriu a promessa de me fazer a mulher mais feliz do mundo, eu tive tanta sorte.

- E o que deu errado?

- Estávamos vivendo felizes, ele ainda jogava, eu o acompanhava na maior parte dos jogos, adorava torcer por ele, ele ganhou nome, foi para o time estadual e eu não podia sentir mais orgulho, foi quando descobri que estava grávida do meu primeiro filho, então parei de acompanhar os jogos pra cuidar da gestação, logo quando Henrique nasceu eu percebi que a rotina de segui-lo nos jogos tinha acabado, era impossível viajar com uma criança tão pequena pra um lugar barulhento.

- Sem dúvidas, seria algo bem cansativo.

- Exatamente, eu passei a ir apenas nos jogos mais próximos, os outros eu acompanhava pela rádio local, até que quando Henrique fez um ano, cerca de dois meses depois pra ser exata, Gustavo viajou com o time pra uma cidade um pouco distante, eles tinham a final de um campeonato e sabe como é, todas as vezes que ganhavam bebiam pra comemorar e depois, pegavam o caminho de volta, céus eu nunca gostei da ideia.

- Não me diga que ele... - não ousei terminar a frase.

- Eles estavam voltando, o time todo no ônibus, já estava anoitecendo, lembro que eu estava fazendo o jantar enquanto Henrique dormia em um cercadinho de madeira que o tio dele havia feito, eu costumava ouvir a rádio o tempo todo quando ele não estava, era um jeito de não me sentir sozinha, foi aí que veio a noticia, me lembro como se fosse ontem quando anunciaram que o ônibus havia capotado com todo o time dentro, e ali começou a minha angústia, a cada atualização a incerteza, sem saber se haviam mortos e se haviam, se Gustavo estava entre eles.

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