A um passo da verdade

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Um misto de ansiedade e nervosismo se apoderou de mim desde a entrevista, e eu decidi não pensar  mais nisso, pro meu próprio bem.

Fui ao McDonald's com a Estella, é um dos meus lugares favoritos quando se trata de um bom lanche em tempo hábil.

- Uma preocupação de cada vez, ou você pensa no que vai fazer caso não consiga o trabalho, ou pensa em quem é essa tal dona misteriosa que te causa tanto terror e você nem conhece - Estella aconselhou enquanto comia quase desesperadamente uma porção de batata frita especial.

- Não é terror é só que... Eu não sei, acho que só estou preocupada em não atender as expectativas dela, eu nem a conheço e fiquei muito tempo sem fazer isso, acho que é natural estar insegura, não é? - girei o canudo entre os dedos antes de coloca - lo no copo de refrigerante, ansiedade.

- Querida, você vai sim! Sabe eu desconheço alguém tão determinada quanto você, se disser que vai ser uma boa secretária, então é porque você VAI ser uma boa secretária.

- Obrigada pelo incentivo, espero que esteja certa, porque eu sinceramente não consigo pensar em nenhum outro emprego que pague tão bem quanto esse e com a vantagem de não ser tão longe de casa, é perfeito pra mim.

- Eu tenho uma boa impressão a respeito disso, acho de verdade que você vai conseguir!

- Eu também, é estranho dizer isso mas, pela primeira vez durante muito tempo eu me sinto animada... Tá, talvez ânimo seja uma palavra muito forte, acho que é mais como uma confiança.

- Uau! Isso já é muito, tipo MUITO animador! - ela comemorou e eu precisei rir da situação - tô falando sério, depois de todo esse tempo pela primeira vez te ouvir mencionar "eu e confiança" na mesma frase é uma grande coisa!

- Você é hilaria!

Meu celular vibrou e senti meu coração falhar por um instante até checar o visor.

- É da fábrica?

- Não... É a Vitória

- Vitória? Não é aquela garota que você tinha um crush no ensino médio? Vocês ainda sem falam?

- Não, quer dizer, mais ou menos já tem muito tempo que não nos vemos.

- Não vai atender?

Fiquei olhando para o visor me perguntando o que ela poderia querer.

- Não, mais tarde eu retorno, já tenho muito com o que me preocupar por agora.

- Eu não sei como você consegue, eu morreria de curiosidade!

- Como se já não estivesse morrendo não é? - nós rimos.

Ao sairmos de lá, Estella me acompanhou até em casa e foi embora em seguida.

Não retornei pra Vitória, porque sinceramente não acho que tenhamos algo pra conversar, e sei que ela vai querer me arrastar pra vida dela novamente, e o meu estilo de vida atual não tem nada haver com o jeito Vitória de ser. 

Minha preocupação se voltou única e exclusivamente à aguardar uma ligação de Carla, dizendo que a vaga era minha.

E ela não demorou a vir.

Ao passar de dois dias, o toque do telefone me despertou novamente.

- Alô!? - atendi com um bocejo.

- Micaella Dias Araújo?

Me sentei imediatamente assim que percebi do que se tratava.

- É ela!

- Você deve se lembrar de mim, Carla da fábrica de chocolates Goulart!

- Claro, me lembro sim.

- Estou ligando pra comunicar que você foi escolhida, parabéns, a vaga de secretária é sua!

Mesmo com toda a confiança que senti todos esses dias a notícia não me surpreendeu menos.

- É sério? Aí meu Deus eu não... Quando eu começo?

- Então, sobre isso, venha até a fábrica amanhã às oito, a chefe quer conhecê-la pessoalmente, se ela gostar de você, o emprego é seu!

- ah claro, tudo bem!

- Por favor não se atrase, ela detesta atrasos, é só uma dica.

- eu não vou, obrigada!

- até amanhã

- até amanhã!

Minhas mãos nunca haviam tremido tanto, o emprego é meu, não é um sonho, é real, eu vou realmente trabalhar em uma fábrica de chocolates, uma das maiores do país.
Precisei tomar um copo de água, e Frida pulou em meu colo como se tentasse me acalmar.

Quando a adrenalina finalmente sessou tive tempo pra finalmente me concentrar no que estava pra acontecer.

- Ela quer me conhecer! Frida e se ela não gostar de mim? Eu vou perder tudo, vou perder uma das maiores opurtunidades da minha vida, ela precisa gostar de mim, ela TEM que gostar de mim! - disse em tom de aflição como se ela pudesse me ajudar.

Nessas horas apenas Estella é capaz de me acalmar, mas naquele momento era impossível falar com ela, visto que ela passa boa parte do tempo na confeitaria.

A única outra pessoa capaz de me acalmar era o motivo pelo qual estive parada todo esse tempo: Miguel.

- Eu sei que você diria pra eu não me desesperar, mas estou desesperada! - acariciei sua foto - por favor, sei que é pedir muito mas, faça ela gostar de mim, que ela não seja uma senhora antipática e esnobe, por favor! - implorei.

Amanhã, amanhã eu vou saber quem é ela, todas as minhas dúvidas vão acabar, e eu finalmente vou descobrir o rosto por trás daquele império e, se tiver sorte, me tornar parte dele.

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