O que o sol nos trouxe

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Normalmente eu me sentiria desconfortável, envergonhada devido as circunstâncias, e um silêncio constrangedor se instalaria entre nós tornando insuportável continuarmos ali perante à gigante torta de climão o que nos obrigaria a irmos dormir sem dizer nem um boa noite.

Mas para minha sorte (ou não), não foi isso que aconteceu, o fato é que estava tão a vontade com Marta que beijar ela não me pareceu tão errado depois de ela me tranquilizar, não era como se eu tivesse me esquecido de que ela era casada, e era minha chefe mas, eu consegui me convencer a não pensar nisso naquele momento, me concentrei apenas em viver o presente sem pensar nas consequências que isso traria amanhã ou depois.

Existia uma paz tão grande em estar com ela naquela praia, uma paz gigantesca daquelas que antecede a guerra nos filmes de ação, era como se cada parte do meu corpo estivesse relaxada e em harmonia com minha mente, como se eu esperasse aquilo há um ano.

E eu acho que eu esperava.

- Vamos - ela me chamou ficando de pé.

- Mas já? - questionei automaticamente.

- Não pro hotel querida, dar um mergulho - disse rindo.

- Mergulho a essa hora? - olhei o céu acima de nós constatando a vasta escuridão.

- Qual o problema? Mergulhar a noite é a oitava maravilha do mundo, sabia?

Talvez pudesse ser a nona, pensei, a oitava já estava diante de mim.

- Não sei, tá meio frio não acha?

- Eu te esquento depois - ela disse sem esboçar nenhum ar de brincadeira.

- É sério?

- Não do jeito que você tá pensando Micaella - ela revirou os olhos.

- O que? Eu não pensei em nada - eu disse rindo.

- Vamos logo - ela me puxou pela mão me forçando a levantar.

- Não tem ninguém mais aqui Marta, não devíamos voltar?

- É só um mergulho Micaella! É uma ordem - ela fingiu autoridade.

Fui arrastada para o mar, não posso dizer que tenha sido uma ideia ruim, a água apesar de fria estava deliciosa, e com o tempo até nos acostumamos com a temperatura, Marta não parava de rir e me jogar água, e eu a perseguia tentando alcançá-la pra devolver, gerando uma guerra de água salgada digna de um filme de romance do início dos anos 2000.

Aquilo tinha muito cheiro de clichê pra ser real pra mim, Estella não acreditaria nem em mil anos se não fosse eu quem fosse contar a ela, e é por isso que eu não queria que acabasse, não queria lidar com tudo de ruim que poderia acontecer depois, sempre fui tão acostumada a tragédias que quando algo realmente bom acontecia eu já temia pelo que pudesse vir depois.

Marta me despertou dos meus pensamentos quando começou a cantarolar uma canção familiar.

- Isso é... Cindy Lauper? - perguntei tentando decifrar o inglês nada fluente que ela tentava pronunciar sem sucesso.

- É... Eu adoro essa música, passava o dia ouvindo ela na época da faculdade.

- Jura? Minha irmã e eu cantamos ela pra minha mãe no dia das mães uma vez, é uma das músicas favoritas dela.

- Não me lembre que tenho idade pra ser sua mãe - ela riu.

- Desculpa não foi a intenção - eu disse e logo depois nós gargalhamos.

- Vai ficar rindo ou vai me ajudar a cantar, eu não sou uma negação em inglês as vezes.

- As vezes depois de tomar sex on the beach?

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