des(a)tino

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Conforme me aproximava da fábrica, sentia meu coração saltar pela boca. A noite anterior com Sérgio tinha sido péssima, cortei todas as aproximações dele inventando mil desculpas, ele respeitou apesar de parecer magoado.

Mas até quando eu conseguiria fingir que estava tudo bem? Eu saberia que desmontaria no instante em que colocasse os olhos nos de Micaella novamente.

Por isso fiquei cerca de trinta minutos parada no estacionamento da fábrica, sem coragem pra descer do carro e encarar a realidade, mas eu precisava, então tomei fôlego pra fazer o que devia ser feito.

Eu estava certa, logo que pousei os olhos em Micaella, minhas mãos soaram, meu coração palpitou, e só não desmontei de fato porque a vergonha me impediu, ela estava lá, tão linda e eu não podia nem sequer me aproximar, não do jeito que eu queria.

Ela ergueu o olhar e pareceu totalmente perdida, sem reação, estávamos no mesmo barco, sem saber o que dizer ou como agir depois de tudo.

- Bom dia Micaella - tomei coragem pra dizer.

- Bom dia... Marta - ela cumprimentou com um sorriso fraco, e continuamos nos olhando, com um abismo entre nós, era estranho pensar que até ontem estávamos juntas, e agora tínhamos que agir como se fossemos duas estranhas.

Senti vontade de chorar então suspirei e entrei em minha sala, não iria me prestar a esse papel na frente dela; me sentei em minha encarando minhas mãos enquanto tentava buscar algum sentido em tudo o que estava acontecendo, ou tentava resistir a vontade de abrir aquela porta e dizer tudo o que estava entalado na minha garganta.

Carla entrou na sala, trazendo uma pasta com dezenas de papéis e me despertando dos meus pensamentos.

- O que é isso? - perguntei.

- Um balanço do que aconteceu enquanto viajava, comprovantes dos gastos e lucros dos últimos sete dias, e uma lista com os nomes dos nossos novos parceiros e suas respectivas empresas.

- Ah claro, obrigada - agradeci tentando me concentrar no que estava fazendo - o lucro dessa semana foi menor, o que aconteceu?

- Problemas com o transporte, um dos caminhões que iria transportar nossos produtos para as redondezas se envolveu em uma batida.

- Ah meu Deus, foi grave? Alguém se feriu?

- Não, não se preocupe, ele só saiu da pista e bateu em uma árvore, ninguém se machucou, mas o caminhão precisou ser levado pra um concerto e houve atraso nas entregas.

- Isso explica os gastos também terem aumentado - conclui.

- Acho que vamos lucrar muito com o evento dos colaboradores.

- Droga, eu esqueci completamente, é essa semana não é?

- É na sexta feira, como se esqueceu? - ela riu - você não falava em outra coisa.

- A viagem sugou toda a minha energia, preciso falar com a moça do ateliê, aquele vestido precisa estar impecável, e preciso saber se Sérgio vai poder me acompanhar, ele remarcou todos os compromissos pra essa semana devido a viagem.

- Quer que eu peça pra Micaella fazer isso?

Só de ouvir o nome dela, meu rosto começou a esquentar, e senti meus estômago dar mil voltas.

- Por favor - tentei parecer tranquila - melhor, traga ela aqui!

Ela assentiu e saiu da sala.

Se eu tinha que fazer isso, então era melhor encarar de uma vez.

...

Eu estava organizando uma planilha com o valor gasto em matéria prima e investimentos do último mês quando Carla surgiu diante de mim.

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