Capítulo 26

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Esse capítulo pode conter gatilho de abuso sexual, caso seja um assunto delicado para você recomendo que não leia!
......

Sarah pov

Eu não consigo parar de pensar pensar tudo que aconteceu noite passada. As lembranças vem a minha memória a todo tempo. É óbvio que Bernardo fez algo muito grave, mas pelo menos ele não consumou o ato. Porém, eu não tive essa mesma sorte ano atrás.

Com 16 anos eu comecei a ser alisada pelo meu vizinho e por minha mãe nunca ter me explicado sobre essas coisas, pra mim era apenas um carinho como o mesmo dizia. Mas aquilo me trazia sensações tão ruins, afetou tudo na minha vida esse tal "carinho" que eu estava recebendo.

Até aí as coisas já estavam ruins, mas chegou o dia que foi o meu fim. Com 17 anos, eu estava voltando de uma festa a noite e meus amigos da época não puderam me acompanhar até em casa. E como não queria incomodar meus pais, pois estava bem tarde, resolvi que iria sozinha mesmo. Não era longe de casa e eu não tinha medo de andar sozinha.

Mas chegando perto da minha rua, vejo um homem me seguindo, apresso meus passos com a intenção de fugir dele. Infelizmente, minhas tentativas não valeram de nada, aquele homem me alcançou. Por conta do escuro não consegui reconhecer sei rosto, mas eu sabia que era meu vizinho por conta de sua voz.

Ele fez o que quis comigo, tirou minha virgindade, minha pureza, e o pior, ele me tirou de mim. Dias após o que foi consumado em casa abandonada que fica a uma quadra da minha casa, eu vivi uma verdadeira tortura psicológica. Além das frequentes ameaças que eu sofri por parte daquele maldito homem, a minha mente também se tornou a minha pior inimiga.

Os dias iam passando e a dor só aumentava, eu já não tinha mais vontade de viver! Por sorte, eu estava de férias e não precisava viver no ambiente escolar.

A minha vida se tornou um verdadeiro inferno, eu não fazia nada além de chorar e relembrar de tudo o que aconteceu naquela noite. O jeito que aquele homem brincou comigo, me usou de tantas formas e ficará marcado pra sempre em minha vida.

Os meus dias se resumiam em chorar, ficar deitada na minha cama e só sair pra comer ou tomar banho quando eu me lembrava.

Eu pensei em denunciar, cheguei a ir a delegacia mesmo sozinha, mas o que eu não sabia é que ele estaria lá. Não sei exatamente o que ele faz lá, mas como posso pedir proteção em um lugar que a pessoa que me machucou está?

Infelizmente, ele me viu chegando na delegacia. Quando eu o vi, eu corri tanto que se estivesse competindo em uma maratona, tenho certeza que ganharia. Foi tão rápido que eu pensei que ele não tivesse me visto lá. Mas ele me viu e me fez pagar por isso.

Naquele mesmo dia, a noite, eu estava sozinha em casa. Ele entrou no meu quarto pela janela. Abusou de mim novamente, me bateu tanto que tenho marcas desse dia até hoje. Lembro que ele tocou em meu corpo de várias formas, mas em nenhum dos dias que abusou de mim, ele beijou minha boca. Pelo menos uma única coisa ele não tirou de mim.

Nesse dia eu jurei a mim mesma que jamais pisaria em uma delegacia. As pessoas que mais nos deveriam defender, estão ajudando de nós. Eu não consigo confiar e nem acreditar na justiça.

E com tudo isso que aconteceu eu desenvolvi muitos problemas psicológicos. A depressão, ansiedade, crise de pânico... eu fui diagnosticada por um especialista e tomo alguns remédios para me tratar. Mas ninguém dá minha família sabe sobre isso, muito menos dos abusos.

Por conta da insistência daquele homem, eu não consigo acreditar que a culpa não foi minha. Inúmeras vezes ele afirmou isso que acabou por se tornar verdade na minha mente. Eu penso em tudo e me sinto tão culpada, suja. E o que as pessoas pensariam de mim? Tenho certeza de que elas também me culpariam. Afinal, ele trabalha com a justiça e eu sou apenas mais uma mulher no meio de tanta gente. Ele tem voz e conseguiu calar a minha.

E por essa noite as lembranças vieram mais fortes, só de pensar que poderia ter acontecido tudo de novo meu coração acelera e se aperta. Pensar que eu poderia entrar transe que fiquei naquele época. Eu perdi todos os meus amigos, fracassei com a minha família e ainda teve a separação dos meus pais que de qualquer forma, acabou me abalando um pouco mais.

Também com a separação deles, eu me mudei e nunca mais vi aquele homem que era meu vizinho de muro. O que de certa forma me deu um alívio tão grande, ir embora e nunca mais vê-lo. Tenho medo de o encontro na rua de repente, não sei qual seria a minha reação diante dessa situação. Hoje posso dizer que estou um pouco melhor comparado a anos atrás, mas não estou bem ainda. Carregar esse fardo, essa ferida aberta só pra mim me dói tanto. Eu tentei contar uma vez a minha mãe sobre o acontecido, mas naquele mesmo dia ela desabafou comigo sobre o quando estava chateada com meu pai e também com todos os seus problemas e preocupações de não conseguir nos manter sozinha. Então, para poupá-la dessa informação que é um baque na vida de qualquer um, eu não contei e mais uma vez guardei pra mim. Desde então eu nunca mais tente contar pra ninguém, eu também tenho medo dos julgamentos das pessoas. Será que eu seria defendida mesmo ele sendo uma pessoa com autoridade e influência na cidade? Será que meus amigos e família acreditariam em mim? Eu confio tanto neles, mas dizer essas informações me fazem ter a sensação que eu me decepcionaria e nunca mais iria confiar em ninguém. Entre ir e não ir, eu prefiro não arriscar. Mesmo que precise carregar essa dor para o resto da minha vida sozinha.

Quando percebo já estou chorando horrores sentada no chão da sala, tomo um susto ao olhar o relógio e ver que já são 20h da noite. Resolvo então me levantar e tomar um banho bem gelado pra afastar esses pensamentos.

...

Já sai do banho a algum tempo. Banho é algo que me faz muito bem, mas ainda estou com vontade de jogar minhas dores pra fora de outra forma. A gilete poderia seu uma ótima saída agora, mas não estou afim de me entregar para essa maldita mais um vez.

Devido que vou a praia mergulhar um pouco mesmo que já esteja tarde. O que também é bom, já que não haverá muitas pessoas e eu não terei vergonha das marcas de machucados que são evidentes em minha pele. Vou para o meu quarto, coloco um biquíni, um shorts jeans e uma blusa qualquer. Chamo um uber e saio de casa.

Chego na praia e coloco meu celular no modo avião para não sei incomodada por ninguém. Sento na areia e coloco meu celular na canga que eu trouxe em minha bolsa com mais algumas coisas.

Estou no lugar de paz da Juliette, que acabou se tornando meu lugar também. E eu não estou falando da praia...

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Esse capítulo é meio que um desabafo meu, demorei pra ter coragem de escrever ele, também demorei pra ter coragem pra falar sobre esse assunto. Eu sofri muito com abuso também. Enfim é isso se vocês também passaram por isso e precisarem de alguém pra conversar podem me chamar. Não sei se vou soltar mais um hoje então até amanhã

Por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora