LXXV - Cartas Aos Mortos

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"Meus planos se foram
Não posso continuar
Minha metade ardente
Partiu na noite sem luar
Será que algum dia poderemos nos tocar?
— As Cinzas".

CAPÍTULO 75

Frio algum tomava meu corpo, mesmo com meus pés descalços sobre a neve. Fogo esquentava minha pele e derretia tudo à minha volta, despertando a natureza adormecida pelo inverno e deixando uma trilha por onde quer que eu passasse.

As sapatilhas estavam em minha mão e com os olhos vendados, mais uma vez, não sabia para qual lugar estava indo. Era Stella quem me guiava para o nosso destino e impedia que eu tropeçasse e caísse pelos cantos, coisa que aconteceria caso ela tivesse me deixado livre. A natureza pulsando em meu peito me deixava um pouco abobalhada.

— Não imaginava que seu poder pudesse te deixar tão feliz. — Comentou ao me puxar pelo antebraço por eu provavelmente estar indo para o caminho errado. — Está rodopiando que nem uma idiota.

A risada alta que deixou minha garganta foi plenamente genuína.

— É tão bom, Stella! — Afirmei saltitante ao me desviar do seu toque. — Me sinto tão viva, é como se eu fosse a natureza do mundo, vibrando e crescendo, se espalhando por todas as partes em grandeza e felicidade... chega a ser tão amável que me dá vontade de suspirar.

— Credo, que meloso... — Murmurou em som quase inaudível. — Uma hora vou te deixar tropeçar e você vai acabar sujando esse vestido caso cair.

Seria uma pena, de fato. O vestido azul que ela escolheu era tão belo e confortável que caso estragasse eu chegaria a chorar, mas a natureza... ela era ainda mais majestosa e com Terra me conectando a ela, como se eu fosse uma parte do seu coração pulsante, tornava todas as sensações ainda mais inebriantes. Eu apenas queria me tornar ligada a ela. Me afundar na terra congelante e ser envolvida pelas raízes das árvores, por mais que fosse loucura, chegava a soar como uma boa ideia.

— Eu adoraria me afundar na terra!

— Céus, parece que você está chapada... — Comentou ao me puxar pelo ombro e me colocar de volta no caminho certo. — Falta pouco para chegarmos, segura essa emoção.

Assenti e coloquei minhas sapatilhas, deixando que ela me guiasse. Paramos apenas quando chegamos em um lugar mais quente por conta uma fogueira acesa com magia, percebi quando meu poder se acendeu em mim e conectou-se diretamente a ela, como se fosse uma extensão de si. Stella se afastou de mim e com isso pude sentir que mais pessoas me rodeavam. Usando minha conexão com Terra até mesmo poderia contar todos os pares de pés que pisavam no solo.

Soltei um suspiro com a felicidade que tomou conta de mim. Ian era maravilhoso por ter preparado isso, por mais que eu não pudesse ver, conseguia imaginar. Seu gesto me deixou completamente radiante.

— Saber que você se sente assim é uma verdadeira poesia. — O sussurro suave de Ian causou cócegas em meu ouvido.

Por mais que sua chegada tivesse sido repentina, não me assustei, pois meu peito vibrou delatando sua presença antes mesmo que ele se manifestasse. Com nossos pensamentos ainda ligados, motivo de suas palavras, Ian sabia exatamente o que se passava em meu interior.

— Poderia escrever sobre você e sua beleza durante horas... — Suas mãos repousaram em minhas têmporas a fim de retirar a venda de meus olhos.

Quer que eu me apaixone ainda mais por você? Lancei a sua mente.

Todos os dias. Respondeu com o ar do seu sorriso tocando a pele da minha bochecha.

— Sei que você não gosta muito de comemorar seu aniversário, mas eu não podia deixar que o dia do amor da minha vida passasse em branco, então... — Retirou a venda dos meus olhos. — Surpresa!

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora