LXVIII - Deus do Rock

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"Nos anos que passaram
Minha vida foi solidão
Os tempos que se foram
Aos poucos me matarão
— As Cinzas".

CAPÍTULO 68

A sensação do vento frio contra a minha pele ainda era inusitada. Eu não conseguia me acostumar com o fato de estar sem meus poderes, na realidade era um pouco assustador graças ao trauma que vivi enfrentando os Bloodusks, mas eu estava com Ian, em segurança, dentro do seu carro e com uma sensação imensa de liberdade percorrendo meu interior. Sua companhia, um conversível de luxo e uma estrada era tudo o que eu precisava. Respirar o ar puro como alguém comum trazia uma sensação maravilhosa.

As pulseiras de contenção que Stella entregou a Ian eram tão eficientes quanto qualquer poder vindo de um Rei do inferno. O feitiço embainhado nela era genial, conseguia deter meus poderes sem que eles me fizessem falta. Escuridão não era um incômodo enquanto eu estava com ela, nem mesmo sua presença obscura tocava meu mais profundo interior.

Estar em uma estrada vazia e deserta, praticamente no meio do nada, não fazia com que Ian pisasse um pouco mais no acelerador. Não ultrapassávamos sessenta por hora, algo que era muito lento para quem quebrara a barreira do som, mas havia algo bom nisso. Pelo menos eu conseguia ler o Livro da Quebra sem que meus olhos se cansassem, mas era quase impossível manter-me completamente focada. Hora ou outra desviava meu olhar para Ian, que estava vidrado em mim, ele nem mesmo prestava atenção no caminho adiante.

— Acredito que seu foco deveria ser a estrada, não o meu rosto. — Brinquei com um sorriso despontando dos lábios.

— É impossível me concentrar nesse lugar tão sem graça com uma obra-prima como você ao meu lado. — Se defendeu ao repousar uma das mãos sobre minha coxa.

Por um momento pensei que deveria ter colocado uma saia, mas, infelizmente, estava com frio. Perdi a oportunidade de aproveitar um pouco mais do seu toque.

Fechei o livro e o coloquei debaixo do banco. Apoiei minha mão sobre a sua e entrelaçamos os dedos. Ian voltou sua atenção à estrada e o encarei, apreciando a bela vista em silêncio. Foi difícil não notar seus olhos inquietos, como se algo estivesse o incomodando.

— Vamos fazer uma parada daqui a cinco quilômetros. — Ian contou ao quebrar o silêncio entre nós.

— Você parece nervoso. — Comentei. — No que está pensando?

— Em nada. — Tratou de responder no mesmo instante, mas a voz vacilou um pouco.

O modo com o qual ele disse deixou transparecer o que era.

— É por causa da dança que tive com Joshua? — Ergui uma sobrancelha ao perguntar.

Uma leve contração na mandíbula indicou que era exatamente esse o problema.

— Não. — Negou, mesmo demonstrando sinais que diziam o contrário.

— Ian! — Chamei sua atenção ao protestar.

— Lyanna! — Falou meu nome usando o mesmo tom que eu. Revirei os olhos. — Sim, é por causa da dança.

Um suspiro deixou meus lábios. Deveria ter imaginado bem antes dessa questão vir à tona.

— Foi apenas uma dança, Ian, nada mais do que isso. — Me defendi.

— O problema não foi vê-los dançando enquanto ele te encarava como se você pertencesse a ele. — Contou, direcionando o olhar para mim. — Por mais que ele ficasse te observando com aquele olhar maníaco e apaixonado, esse não foi o real problema.

— Então o que houve, Ian?

— Não temos nada, Lyanna? — A pergunta fez com que eu erguesse as sobrancelhas, entendendo seu conflito. — O que há entre nós não é nada? — Foi nesse momento que vi o quanto pisei na bola. — Gostaria de ouvir essas palavras saírem da minha boca enquanto danço com a sua rival?

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora