A Rainha das Chamas I

VIII - Eu, Vilã?

"Minha querida
Amor da minha vida
Jamais suportarei
Não te ver com vida
Sem você nesta Terra
Minha alma está perdida
— As Cinzas".

CAPÍTULO 8

Retornar a minha casa foi mais difícil do que eu imaginei. Mal consegui manter os olhos abertos no interior do ônibus e passei o restante do caminho quase me arrastando. Nem mesmo andei até minha cama ou me deitei no sofá. O chão da sala me pareceu bem confortável quando meus olhos se fecharam antes mesmo de eu tocá-lo. Para a minha sorte a manutenção da OMH deixara aquele lugar brilhando, caso contrário eu teria que lidar com inúmeros cacos fincando minha pele quando acordasse.

A noite tortuosa passou como um sopro cercado de tormento. Flashes rondaram minha mente no lugar de qualquer sonho. As faces dos Waydusks cercaram meus pesadelos, se dividindo com uma destruição caótica de uma terra cercada de ruínas, imagens que me soaram muito familiares, como se eu estivesse revivendo algum momento de minha vida, uma guerra, um medo sem medidas, gritos tão altos, tão apavorantes, que me fizeram acordar em um sobressalto.

Abri os olhos com o sol invadindo o recinto. Repousei a mão no peito e tentei acalmar minha respiração ofegante. Nem mesmo percebi que meus pelos estavam arrepiados, como se o medo congelasse minha espinha. Ao mesmo tempo em que isso me assustava, meus pensamentos se confundiam. Era apenas um sonho. Nada mais do que isso.

Me recompus em pouco tempo e tratei de me levantar, mas não fui rápida o suficiente para impedir que Caluna visse meu estado ao entrar na sala.

— Céus, o que aconteceu com você? — Questionou e não respondi de imediato, apenas escondi a mão enfaixada para que ela não conseguisse ver o ferimento do qual estava muito pior do que o arranhão em meu braço.

Ian me dissera que em breve estaria curado, mas se passaram horas e nada parecia ter acontecido. Eu não sabia se podia confiar em qualquer coisa vinda dele, aliás, eu não sabia se podia acreditar no que ele disse a mim. Suas palavras pareciam querer apenas me confundir.

— Nada demais. — Menti. Se eu dissesse a verdade não conseguia imaginar o que seria de mim. — Vou tomar um banho, Luna, você pode fazer o café hoje, por favor?

Minha irmã semicerrou os olhos e por fim assentiu. Me afastei sem que ela visse o corte na minha manga ou a atadura em minha mão. Eu não podia contar a ela sobre a minha luta, muito menos sobre Ian.

Durante o dia todo eu teria que disfarçar minha fome voraz e o cansaço insistente, pois suplemento algum, muito menos horas e mais horas de descanso seriam capazes de me satisfazer.

Eu precisava arranjar uma saída para isso, não queria ficar sendo vigiada o tempo todo ou tendo que escolher as palavras que dizer. Aos poucos estava começando a me ver sem saídas. Eu precisava me apoiar em um dos lados, mesmo que não concordasse com os ideais de ambos.

Era angustiante não saber exatamente quais consequências minhas escolhas poderiam causar.

Entrei no banheiro e tranquei a porta atrás de mim. Por um pequeno instante observei meus olhos através do espelho e suspirei ao relembrar da forma com a qual Ian me encarou antes de batalharmos contra os Waydusks.

Eu não conseguia decifrar o que aquele olhar queria me dizer, pois era muito difícil que um brilho tão intenso significasse que ele apenas estava admirando o verde-esmeralda de minhas íris. Eu sentia que palavras estavam por trás daquilo, mas era uma derrota tentar encontrar uma explicação sabendo que dificilmente o veria novamente, a não ser que...

Abaixei a cabeça e os longos fios escuros de meus cabelos caíram sobre meu rosto. Até então eu não pensara direito de que forma, exatamente, Ian cobraria a dívida que eu tinha com ele. Se ele, de repente, me pedisse para que eu me juntasse ao seu Clã, de que forma eu poderia recusar essa proposta sem colocar a minha vida em perigo?