XXX - Eu Já Sei de Tudo

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"A saudade pesa
Como há de pesar
No peito aperta
De se por a chorar
Quando a noite celebra
Nosso último olhar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 30

— Se continuarmos assim não chegaremos a conclusão alguma! — Reclamei frustrada, caminhando de um lado para o outro.

Horas se passaram enquanto eu tentava arrancar, sem sucesso, as migalhas de Ian. Ele parecia gostar de me ouvir falar, o tempo todo vinha com suas gracinhas para cima de mim, o que me deixava bem irritada, outra coisa da qual ele parecia gostar mais do que o normal, me tirar do sério.

— Errado, meu bem. — Ian tomou um gole de seu conhaque. Após começarmos a discutir, ele esvaziou garrafas de nove bebidas diferentes, não estava sóbrio há um bom tempo, coisa que aumentava ainda mais seu sarcasmo. — Você é quem não está chegando à conclusão alguma. Eu já sei de tudo. — Um sorriso cínico, deveras estonteante, despontou de seus lábios.

Revirei os olhos e suspirei, quase desistindo dessa conversa. Embriagado ele ficou ainda mais insuportável.

— Você pode, por favor, parar de encher a cara por um segundo? — Fiz uma careta. A essas horas até mesmo eu deveria estar fedendo a álcool. — Assim você não me ajuda em nada!

Uma gargalhada ecoou de seus lábios. Ele estava, literalmente, zombando da minha cara, me fazendo de palhaça e se divertindo com minha confusão. Isso estava me deixando tão cansada...

— Ah, querida... — Ele bebeu mais um gole. — Você até que estava indo por um bom caminho...

Soltei o ar de meus pulmões de uma vez em um suspiro. Eu apenas chegara ao óbvio e estava quase amanhecendo. Eu sabia que meus poderes pertenceram a alguém e ao que Ian deu a entender, não exatamente aos falecidos Reis, como todos pensavam. Parecia que havia algo a mais aí, eu acreditava fielmente que possuía relação com um quinto Rei ou Rainha — pensei na hipótese quando ele deu a entender que era a mulher das lembranças. A única coisa que eu conseguia imaginar era que cada Rei possuía um elemento, já Escuridão ficava nas mãos dessa Rainha, mas e seu Rei? Será que ela realmente se casara com o pai de Zac?

Pensar em como a canção deixava implícito que existia outro, podia supor que não.

O silêncio nos atingiu com força quando fiquei perdida em meus próprios pensamentos e Ian em sua embriaguez. Apesar de toda a minha confusão com tudo o que ele dissera, não podia deixar de pensar em algo sobre mim. Meus poderes.

Escuridão era algo completamente novo e arrebatador. Dominava de uma maneira que parecia ter vontade própria, coisa que se demonstrou evidente quando ela lançou aquelas palavras estranhas a Bolton. Era como se ela soubesse mais sobre passado do que eu e levando em conta que meus poderes eram uma herança, não deveria imaginar outra coisa, mas pensar nela... isso me fazia criar suposições.

— Lembro que quando fiz os testes para quantificar meus poderes, dois deles ficaram em oculto. — Coloquei meus cabelos para trás em sinal de tensão. — Um eu descobri que é Escuridão, e o outro, você sabe?

Relacionando essa dúvida com a canção do Waydusk, eu só conseguia imaginar que era esse o poder do quinto Rei.

— Em nosso universo tudo há uma contrapartida. O equilíbrio das forças. O oposto. O certo e o errado. — Disse enigmático. — O fogo tem como seu oposto a água, o ar tem como oposto a terra, a escuridão...

— Luz... — Respondi quase que imediatamente. — Para que a escuridão exista, deve existir a luz.

— Exatamente, seu poder que ainda não se manifestou é Luz... — Falou com gosto nas palavras.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora