A Rainha das Chamas I

LXXXI - Parasita

"Lutarei até o fim da minha vida por você, nem que para isso eu tenha que morrer.
Meu espírito apenas terá paz quando você voltar a viver.
— As Cinzas".

CAPÍTULO 81

Um pequeno floco de neve se prendeu em um fio do meu cabelo. Flagrei o exato momento em que ele derreteu. Isso me fez lembrar de uma coisa, um flashback talvez, mas em um piscar de olhos a sensação desapareceu.

Fazia quatro dias desde o meu desentendimento com Ian. Essas imagens esquisitas me atingiam desde então. Eu me via em um carro, ao lado de Joshua, mas de repente tudo sumia como se fosse soprado.

Eu sabia que algo não estava certo. Tive tempo para lamentar, tempo para refletir, mas ainda não conseguira me recuperar. Meu coração estava quebrado, frio e desolado, nem mesmo meu poder era capaz de aquecê-lo, como se ele realmente tivesse se tornado uma pedra de gelo.

Por muitas vezes não quis pensar nele, nem em seus olhos ou seu sorriso, porém, por mais que estivesse me sentindo traída, imaginar seu rosto era o paraíso. Não me sentia capaz de deixar de amá-lo e isso doía ainda mais.

Ian... como ele teve coragem?

Outro floco rodopiou bem na minha frente. No quintal de casa me encontrava no frio e sozinha, por mais que meus familiares estivessem lá dentro, aquecidos. Eu nem mesmo consegui falar com eles sobre Caluna, apenas avisei Zac para que ele iniciasse sua procura. Mal falei com ele também, pois reconhecia sua fúria. Graças a mim e a minha estupidez, a missão se tornou um fracasso.

Nesses dias apenas esperei pelo seu contato, pois sabia que, em breve, uma nova reunião seria marcada, tanto para dar um sermão em todos os que participaram, quanto para reaver nossos planos, mas talvez ele apenas estivesse me deixando de fora... bem, eu não ligava.

— Se continuar aí vai congelar. — Sophia disse enquanto caminhava até mim.

Notei quando ela saiu de casa, porém ignorei a sua aproximação, nem mesmo desviei meus olhos do nada quando ela parou em frente a mim, parecendo esconder algo em suas costas.

— Lyanna, o que houve? — Perguntou demonstrando preocupação. — Você não sai daí, não conversou com ninguém, além do mais não para de nevar... acho que você está afetando o clima com aquele seu poder de natureza.

— É Terra. — A corrigi. — O nome dele é Terra.

— Ah, por um momento me esqueci de que você é vaidosa, nem mesmo pareceu tomar banho durante esses dias...

Quase revirei os olhos, ela sabia muito bem que havia um banheiro em meu quarto, mas ela estava certa em suspeitar, era em momentos assim que não sentia vontade alguma de fazer minha higiene. Não dessa vez, pois vivi a minha dor mergulhada na água da banheira, querendo afogar todos os meus pensamentos.

— Eu tomei banho, não se preocupe.

— Hum... — Minha irmã pareceu bem pensativa quanto a isso. — Sabe, Dante veio aqui, mas sabia que você não estava bem então tive que dispensá-lo...

Pobre Sierg, não tinha nada a ver com isso, mas também não queria ver a cara dele.

— Fez certo.

— Porém ele pediu para que eu lhe entregasse uma coisa...

Ergui minha cabeça para encarar a belíssima coroa estendida para mim. Quase trinquei meus dentes e quis jogar o presente longe, mas não fiz. Aquilo era meu há, provavelmente, mais tempo do que eu conhecia Ian no passado. Não iria fazer desfeita com algo que meu antigo eu tanto prezava.