A Rainha das Chamas I

LXXXIII - Eu Mereço Perdão?

"De olhos fechados
E joelhos ao chão
Procuro um sinal
Tudo isso em vão
Meu peito sufoca
E perco a razão
Por não ouvir as batidas
Do seu coração
— As Cinzas".

CAPÍTULO 83

O local da reunião foi mudado de última hora. Zac me informara quando eu já estava atrasada. Os planos de Joshua eram grandes, não pude deixar de notar. Com o número de pessoas presentes se fez necessário que a coisa toda ocorresse no auditório principal, que evento espetacular...

Era impossível entrar sem ser notada, ainda mais quando todos já estavam sentados. Me senti a verdadeira atração do dia enquanto caminhava até o único lugar vago, ao lado de Zac, em uma das primeiras fileiras.

Ver Joshua em cima do palco, lançando aos tolos as primeiras palavras do seu discurso, foi como uma bela tortura a cada passo, pois eu simplesmente não podia voar até ele e enfiar minha espada em seu coração ou até mesmo demonstrar meu ódio e desprezo com meu olhar.

Além de precisar manter minhas aparências para que ele revelasse, sem preocupações, quais eram os seus planos com essa reunião fatídica, mais de dois mil agentes se encontravam nesse local. Não estava a fim de lidar com uma horda.

Por sorte, antes que fizesse qualquer besteira, alcancei meu assento e me acomodei, mas a tortura estava apenas começando.

Era impossível manter o olhar firme, a postura constante, muito menos evitar a inquietação em minha perna a cada segundo que passava.

A única coisa da qual eu conseguia pensar era em meus dedos enrolando no seu pescoço e o apertando até que seus ossos se desmanchassem sobre eles. Eu podia ver o sangue em seus olhos, ouvir a voz sufocando, tentando implorar pela sua vida, a alma esvaindo aos poucos das íris violeta...

Parei de balançar a perna quando Zac colocou a mão sobre meu joelho, contendo os visíveis sinais de meu nervosismo. O encarei por alguns instantes, apenas para receber o seu claro olhar de advertência me dizendo "contenha-se".

Ele estava certo, eu precisava fazer isso, caso contrário Joshua iria perceber, mas não era apenas minha vontade de matá-lo que estava me perturbando. Eu me encontrava dividida entre dois atos. O primeiro era deixar esse lugar correndo para ir atrás de Ian a fim de me derramar em seus braços e me desculpar pelo que fiz, por mais que soubesse que isso não seria o suficiente para reparar os estragos que fiz. O segundo era me acovardar para sempre, jamais conseguindo arranjar a mínima coragem de olhar na cara daquele que era muito mais do o amor da minha vida...

Bem, eu claramente havia escolhido a segunda opção, mas a primeira ainda me deixava completamente assombrada.

Passei a prestar atenção no que o maldito Joshua estava dizendo. Ele parecia estar na metade do seu discurso.

— O motivo de eu ter me ausentado esses dias foi por estar estudando maneiras de destruir Ian e seu clã. — Se estivesse bebendo algo, teria me engasgado, mas evitei demonstrar qualquer tipo de reação, diferentemente de Zac, que pigarreou. Ele sabia de algo. — Creio que estamos no momento ideal de acabar com essa intriga de séculos.

Muitos agentes comemoraram essas palavras bobas, mas minha única reação foi engolir o meu ódio enquanto tentava me manter nesse lugar sem cometer qualquer besteira. Joshua, esse maldito... ele, ainda por cima, ousava tramar contra Ian, mas eu não deveria esperar mais nada dele depois de tudo o que fez comigo. Seu objetivo era nos destruir.

De tudo o que ele disse, o fato que mais me assustou foi a sua certeza de que conseguiria.

— Sei que vocês têm muitas apreensões quanto a isso, mas creio que dessa vez a OMH tem os meios para a vitória definitiva! — Que discurso mais eloquente... quase revirei os olhos por isso, mas estava temendo demais para que demonstrasse qualquer desprezo. — Dessa vez, caros agentes, possuímos uma poderosa aliada ao nosso lado. — Seus olhos, dentre tantas pessoas, encararam justamente a mim. — Lyanna Keeper!