A Rainha das Chamas I

LXVI - O Juramento

"Não existe um mundo sem você, ele já não existia antes de você. Prefiro apagar-me da existência do que ter o meu coração a sofrer sem a sua essência.
— As Cinzas".

CAPÍTULO 66

— O que aflige minha alma não poderá me tocar. — Pronunciei as primeiras palavras do feitiço que tentei montar. — Na fonte dos meus poderes, jamais chegará. Da minha aura e minha força, meu ser precisará...

Franzi o cenho quando as palavras se tornaram estranhas. Algo não estava encaixando. O Livro da Quebra apenas dava instruções sobre como direcionar o feitiço a ser criado para uma situação e os passos a serem seguidos para se encontrar uma forma perfeita de realizá-lo. O texto base era incompleto e um aviso bem grande ditava que ele nem sempre servia, ou seja, dependendo de como o feitiço foi lançado a Quebra deveria ser criada do zero, mas, por sorte, esse não foi o meu caso.

Um feitiço de quebra para magias lançadas contra poderes era bem mais simples do que a grande maioria dos que estavam contidos no livro. Todos tinham o mesmo modelo, primeiro uma explicação sobre a magia a ser quebrada, depois as instruções, a criação dos passos e por fim um texto base, coisa da qual eu esperava ser útil de usar quando encontrasse o feitiço perfeito para quebrar a maldição presente nos poderes de Ian. Seria muita sorte a minha se o feitiço que eu estava criando no momento fosse útil para esse caso, mas infelizmente a coisa era muito mais complexa.

Outra coisa da qual eu acabei descobrindo era relacionada a complexidade do feitiço a ser lançado, quanto mais elaborado, mais difícil seria a criação do feitiço de quebra. Talvez esse fosse o problema, eu estava tentando criar algo complicado em um tempo muito curto. Era por esse motivo que nada encaixava, muito menos funcionava.

Larguei o livro na cama e soltei um grunhido frustrado. Isso não me levaria a lugar algum. Me levantei e ajeitei o vestido que ficou um tanto amassado. Ouvi alguém mexer na maçaneta da porta e ajeitei as tiras das minhas sandálias de salto.

— Lyanna! — Katherine entrou pela segunda vez sem bater. Ela estava tão eufórica que nem deveria ter se lembrado. — Lyanna... — Repetiu meu nome com um tom provocante ao me olhar de cima abaixo. Ela havia partido antes de me ver com o vestido. — Céus, Ian é tão sortudo... filho da mãe, tenho é inveja dele.

Uma risada deixou minha boca.

— É sério. Você está tão linda, conseguiu superar a própria beleza. — Comentou ao apoiar a mão no peito.

— Obrigada, Kat. — Agradeci sem me gabar. Eu não tinha me olhado no espelho até então, mas duvidava muito que iria me reconhecer.

Kat caminhou em minha direção e ergueu a mão para tocar meu antebraço, porém se interrompeu e a levou até a testa quando suas sobrancelhas se franziram. Estranhei seu comportamento, nunca a vi com qualquer tipo de mal-estar.

— Está tudo bem, Kat? — Perguntei assustada.

— É só uma dorzinha. — Minimizou o problema. — Não se preocupe comigo, hoje o dia é seu.

Era impossível que eu não me preocupasse. Por mais que fosse só uma dor, Guerreiros não sentiam esse tipo de coisa. Por experiência própria sabia que qualquer coisa do tipo era um grave sinal de alerta.

— Que livros são esses? — Perguntou ao inclinar a cabeça na direção da cama.

— Um é o Livro da Quebra e o outro é o da Aprisione. — Respondi. — Sei que o da quebra é essencial para criar o feitiço que libertará os poderes de Ian. — Katherine ergueu as sobrancelhas, impressionada com o que eu disse. — O outro eu ainda não li, deve ser para aprisionar algo, é o que parece.