LXX - O Quarto Inferno

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"No silêncio da escuridão
Meu peito vibra em solidão
Com extrema agitação
Vivo no escuro e sem razão
Sem alma para ver
Não sei o que dizer
Não sei o que fazer
Vai ser assim até eu morrer
— As Cinzas".

CAPÍTULO 70

O ar infectou meus pulmões com uma poeira corrosiva. A grama seca, a terra arenosa cobrindo o chão, as árvores sem folhas e com as casacas despedaçando, tudo indicava que a vida se recusava a permear nesse lugar. Apenas os corvos ousavam sobrevoar o céu nublado, o rodeando sem parar.

O vento gelado assobiando em meus ouvidos enganava bastante. Nem parecia que o verão se aproximava de Faenwell, país que ficava no hemisfério sul, bem próximo da linha do equador. Tudo no ambiente era frio e mórbido, até mesmo a cidade mais próxima, completamente esquecida no mapa, era deserta, mas nada disso era à toa. O lugar em que pisávamos era muito mais do que amaldiçoado. Os portais que davam acesso para o Quarto Inferno ficavam nele.

Investigar o que estava por trás do ataque dos Bloodusks era uma das nossas prioridades. Após os três dias de descanso que pedi a Ian, fomos atrás dos túmulos dos demais Reis e nos certificamos que seus corpos jaziam lá. Para o nosso alívio, ou desespero em não ter ideia de quem estávamos enfrentando, todos os ossos estavam em seus caixões. Ao terminarmos de ver o túmulo do último Rei, Astroth, partimos para as terras de Faenwell.

No momento nos encontrávamos parados em frente a um pequeno mausoléu bonito e preservado, apesar de esquecido no meio do nada. As portas de ferro fundido, colunas coríntias que sustentavam o frontão triangular, estatuas de bestas gigantes, uma em cada lado da escada, que pareciam guardar a entrada, tudo era muito belo de se apreciar, porém me dava um certo medo saber o que existia por trás daquela porta.

De acordo com Ian, esse tipo de inferno era uma outra dimensão criada pela Imperium Magicae. Dentro dele se encontravam as estruturas perfeitas para conter e comportar todos os monstros, contudo eles continuavam a ter permissão para deixar o local, exceto o Rei que deveria permanecer confinado — coisa que não estava acontecendo e, quando entrássemos, checaríamos o motivo.

A regra dessa magia, em relação ao inferno, não se aplicava muito bem aos Radusks, que tiveram seu primeiro inferno destruído, e ao Dusken, que conseguia se sobrepor a magia. A única coisa que acontecia com eles era que seu espaço de vivência permanecia delimitado a um espaço, os Radusks à mansão Reymond e o Dusken à Forest Dunkin. Eu esperava que em relação a eles as coisas permanecessem assim.

— Mantenha sua espada em mãos. — Ian pediu antes de abrir os portões do inferno. — Estaremos no lar deles, é melhor permanecermos armados.

— Devo me preocupar com algo a mais? — Perguntei, me virando em sua direção após sacar a espada.

— As criaturas devem estar de luto pela morte do Rei. — Contou ao caminhar para frente das portas do mausoléu, as encarando. — Ainda por cima, estão fragilizados por conta da perda do poder que vinha de seu ancestral. No momento eles estão em transição para a ascensão de um novo Rei, Leonor, então estamos em vantagem.

— Leonor? — Ergui uma sobrancelha por ele saber o nome do futuro Rei Bloodusk.

— O primeiro filho de Satech, sucessor do trono. — Explicou, sacando sua espada. — Achava que, a essa altura, soubesse que todos os Reis infernais possuem filhos para caso um Rei morra.

Deveria ter imaginado que isso se estendia aos demais tipos de dusks por conta do fato de terem citado sobre um Rei Waydusk, além do mais era algo que fazia bastante sentido.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora