XII - O Demônio

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"Era uma vez
Um rei
Dois reis
Três reis
Era uma vez
Quatro reis
E sobre o outro não posso falar
Me engasgam palavras
Não consigo contar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 12

O calafrio arrepiante que percorreu minha espinha não se dava por conta do frio na prisão. O ambiente era tão gelado que conseguia ver o calor se dispersar do meu corpo e condensar-se no ar, mas o que fazia meu corpo tremer era o que estávamos prestes a fazer.

A temperatura não me afetava, ao contrário de Zac e Joshua que esfregavam os braços repetidas vezes para se aquecer, mas não podia negar que até mesmo o ato de respirar era completamente gélido e machucava minhas narinas por conta do odor desagradável de mofo. Não era sujo, apesar de tudo, mas o veratium que compunha o interior das paredes cinza-claro retinha a umidade e impedia que o sol esquentasse o concreto, o que deixava a prisão da'Vill com um ar triste e melancólico.

O térreo, onde caminhávamos, não continha cela alguma. Era apenas um corredor extenso repleto de portas azuis que hora ou outra eram acessadas por alguns agentes. Nosso destino, de acordo com Zac, era o último andar do subsolo, um lugar cheio de celas vedadas onde se encontravam os piores vilões detidos pela organização. Talvez um dia Ian fosse morar em uma delas, mas não sabia se o veratium, mesmo sendo o metal mais resistente do mundo e tão poderoso que inibia alguns poderes dos mais fracos, fosse capaz de contê-lo. Pelo menos, até então, foi o suficiente para deter o Waydusk, mas Ian... eu desconhecia a magnitude de seus poderes.

Tivemos que utilizar as escadas para acessar o local do qual pretendíamos. Por ser mais antiga do que a OMH, a prisão não possuía elevadores e o veratium impossibilitava a modificação do edifício. Foram alguns minutos, que pareceram incansáveis, descendo até que chegássemos no andar. Quando entramos no amplo corredor cheguei a ficar tonta. Tudo nele era branco e as celas, completamente fechadas e com apenas uma pequena abertura na porta, provavelmente propiciavam um ambiente sufocante.

Ao começarmos a atravessar o corredor percebi que se iniciou uma certa agitação nos detentos que conseguiam nos ver. Através da pequena abertura da cela, nos lançavam xingamentos e ofensas, mas o pior era o que diziam a mim.

— Vejam só! — Um rapaz com a aparência perturbadora chamou a minha atenção. Percebi que seus pulsos estavam envoltos por uma contenção de veratium, o que indicava que ele era um ancião. Essa medida servia para que ele não conseguisse sacar sua espada. — Um novo herói entrou para a OMH! — Ele soltou uma gargalhada exagerada.

— Parece que agora eles têm um novo brinquedinho. — Um outro comentou, também começando a rir.

Rangi os dentes pelo ódio que dominara meus pensamentos. Virei meu rosto na sua direção e o encarei, com meus olhos flamejando. Bastaria apenas um pensamento meu para que o seu corpo se transformasse em pó.

— Se acalme, Lyanna. — Joshua pediu ao colocar as mãos nos meus ombros. — A maioria está sob o efeito de medicações para a inibição de seus poderes. Apenas ignore-os.

Respirei fundo e acalmei as chamas em meu corpo. Eu devia ter imaginado, mas a raiva repentina impediu o meu raciocínio.

Chegamos na cela e Zac abriu a porta para que entrássemos. O espaço era mais amplo do que eu imaginava, suas medidas ultrapassavam com facilidade as do quarto que eu dividia com minha irmã. As paredes e o chão branco eram uma tortura, não podia negar, nada nele possuía outra cor, nem mesmo as saídas dos dutos de ar. O ambiente chegava a arder meus olhos.

As pessoas presentes na cela e a criatura cinzenta posicionada em uma cadeira no centro dela eram as únicas coisas que se destoavam.

Antes de enfrentá-la, encarei os dois agentes que estavam no local. Um deles eu não reconhecia, mas o outro tive até mesmo a oportunidade de vê-lo pessoalmente. Eu não sabia ao certo se era algum tipo de peculiaridade dos anciões, mas era inegável que todos eram muito belos. Com Raphael a coisa não seria diferente. Seus olhos âmbar, pele ébano e sorriso impecável o deixava com as feições de um anjo.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora