XXII (Lyanna) - Por Que Eu?

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"Os feiticeiros entoavam seus cantos contra nós. Selados pelo grande pacto, sugaram nossas forças e nos tornamos pó.
— As Cinzas".

CAPÍTULO 22

LYANNA

Ping. Ping. Ping... O som da água caindo de uma goteira era incomodante. Por não ter cessado durante um segundo sequer, chegava a dar arrepios em todo o meu copo de tão agonizante, mas parte disso também era por conta do frio que marcava minha pele graças ao ambiente gélido e úmido.

Fazia poucos segundos que eu recobrara a consciência. Ainda não tinha aberto os olhos, mas conseguia perceber que o local era muito mal iluminado. Eu estava sentada em uma cadeira bem confortável, percebi ao remexer levemente o traseiro no assento, mas parecia me encontrar na mesma posição há um bom tempo, pois minhas juntas gritavam por um bom alongamento.

Minha mente estava confusa. Não conseguia lembrar muito bem o que aconteceu ou como fui acabar parando nesse lugar, mas, ao perceber um pequeno detalhe, meus olhos se arregalaram. Eu estava sem meus poderes.

Encarei uma parede de rocha iluminada apenas pela luz que entrava de uma cratera no teto, o mesmo lugar do qual a água escorria e gotejava. Não conseguia ver muita coisa, graças a iluminação precária, mas sabia que estava em uma caverna.

Entrei em desespero pela situação bizarra e meu coração se acelerou. Meus músculos nem ao menos tiveram a chance de reclamar de dor quando meu sangue se aqueceu e, de uma forma desesperada, tentei me levantar, porém não consegui. Meu corpo estava tão preso à cadeira que mal podia me mover. Eu não sabia o que estava acontecendo e isso era aterrorizante. Como raios eu estava imóvel se nem mesmo havia cordas ali?

— Então você prefere ser amarrada em cordas? — A voz que soou conseguiu iluminar completamente todos os meus pensamentos. O acordo, claro. Eu provavelmente estava em algum tipo de esconderijo. — Que gostos interessantes...

Minha face se contorceu em uma careta quando desacreditei que ele dissera uma coisa dessas. Era muita ousadia para uma pessoa só, ainda mais por zombar de mim escondido nas sombras, pois nem mesmo consegui encontrar seu rosto ao virar minha cabeça de um lado para o outro.

Onde ele estava?

— Estou aqui. — Ian apareceu bem na minha frente, porém um pouco afastado, no segundo em que suas palavras chegaram nos meus ouvidos.

Não disse nada quando observei seu rosto e encarei seus olhos cor de ônix, que se tornaram ainda mais escuros no local. Ele era indecifrável, não conseguia deixar de encará-lo, o brilho que emanava de suas íris toda vez que nossos olhares se cruzavam chegava a ser cativante.

Não podia me deixar levar por essa sensação.

Ficar encarando Ian por tanto tempo fez com que uma certa raiva acendesse em mim. Como ele podia ser tão cínico?

Eu sabia que ele fizera algo com meus poderes, caso contrário estaria enxergando muito mais do que apenas o seu rosto. Eu não podia permitir que a situação permanecesse assim, precisava fazer alguma coisa para ter os meus poderes de volta.

— Eu não fiz nada com seus poderes. — Disse no segundo em que comecei a criar indagações em meus pensamentos.

— Saia da minha mente!

Ele riu.

— Eu não estou na sua mente. — Retrucou com a graça despontando dos lábios. — Prezo pela privacidade das pessoas.

Rangi os dentes. Desculpinha esfarrapada.

Eu odiava esse truque barato, porém o de conseguir apagar meus poderes era muito pior.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora