A Rainha das Chamas I

LXIV - Luz Nos Meus Caminhos

"O Fogo meu amor não achou
Na Água tentei me afogar
Minha força por si já cessou
Na Terra tentei me enterrar
Minha voz então se calou
O Ar não posso tocar
Vivendo no inferno estou
Luz alguma irá me chamar
Meu coração se estragou
Sem você eu não quero sonhar
Meu mundo inteiro quebrou
Então Escuridão irá me levar
Minha alma viverá a vagar
Sem você eu não posso sonhar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 64

Os dias com minha família e amigos foram mais tranquilos do que eu imaginava. Ter assumido minha relação com Ian não tornou as coisas difíceis, apesar da relutância evidente. Era normal que demonstrassem medo, afinal eles não conheciam Ian como eu, o viam como um vilão e temiam pela minha vida. Enquanto passava meus dias fazendo compras para a casa nova, passeando com minha mãe e irmãs, não pude deixar de pensar que as pessoas não pensariam tantas coisas ruins a respeito de Ian caso conhecessem sua verdadeira face.

Eu sabia como as coisas funcionavam em seu clã, que algumas regras e penalidades eram duras e cruéis demais para que a população simplesmente aceitasse, mas a verdade era que o mundo todo aprendeu a simplesmente odiar e deplorar qualquer coisa vinda daqueles que eram considerados vilões. As pessoas também eram cruéis com eles.

Somente após três dias, quando o mesmo mal-estar que tive na casa de Carol me tomou, decidi falar com Ian sobre a ancoragem dos meus poderes. A pequena tontura que alcançou minha cabeça era sinal o suficiente de que as coisas não estavam indo bem em meu interior e tinha certeza de que isso possuía relação direta com o fato de eu ter invocado uma fração minúscula de Escuridão para demonstrar a Sophia. Esse foi um erro gigantesco, eu esperava pelas consequências, mas não tinha ideia de que meu poder despertaria e retornaria a me perturbar tão cedo. Eu estava bem enganada.

Pousei no pico da Pedra dos Condenados em um piscar de olhos. Cambaleei um pouco e pude jurar que minha visão se escureceu. Quase me xinguei mentalmente por ter acreditado que meus dias seriam tranquilos, deixando Escuridão de lado. Eu mal quis pensar nesse poder, mas ela estava me perturbando, como algo vazio e desolado em meu interior, mas essa sensação era tão gritante que poderia supor que havia algo a mais.

Nem tudo foi flores em casa. Tia Josephine ficou cada vez mais estranha, não consegui me esquecer daquela voz que ouvi conversar com ela no banheiro e por mais que parecesse uma maluquice da minha cabeça, estava começando a acreditar que, no meio tempo em que ela não se juntou a minha família quando estava prestes a demonstrar meus poderes, ela colocou algo no meu champanhe. Outro erro grotesco. Deveria ter percebido isso antes.

— Está tudo bem com você? — Sierg me perguntou.

Era ele quem me esperava para me guiar até o recinto em que as âncoras se encontravam. Antes de zarpar voo para o lar dos vilões, mandei uma mensagem para Ian. Ele disse que não poderia me buscar, mas que me encontraria no cômodo em que os dois jovens estavam. Isso acabou me deixando ansiosa para ver seu rosto.

— Creio que há algo de errado comigo. — Contei, não deixando esse pensamento de lado. — Mas só vou conseguir contar direito após a ancoragem. Podemos ir logo?

— Sim. — Concordou. — Vou te levar até eles.

Assenti e Sierg segurou em meu antebraço, me levando consigo ao nos atravessar diretamente para o recinto em que Matt e Aretha se encontravam, uma sala com sofás vermelhos, uma lareira aconchegante, prateleiras com diversos livros e um vão enorme na parede que dava para um rochedo imenso, percebi por termos parado próximo a ele. Essa era uma biblioteca simples e bem íntima. Chegava a ser reconfortante.