"Sem o teu sorriso a felicidade não existe.
— As Cinzas".CAPÍTULO 86
LYANNA
Ouvir apenas o som dos nossos passos apressados e as respirações pesadas ecoando pelos corredores era algo tremendamente sufocante. Segurar a mão de Ian enquanto nos guiava até o ponto central da Pedra dos Condenados fazia meu coração acelerar a cada segundo.
Por várias vezes pensei em parar, apenas para me virar em sua direção, encarar os seus olhos, tocar os seus lábios enquanto implorava para que ele me perdoasse, mas não, eu queria que isso fosse mais especial, eu precisava falar com ele a verdade que reverberava em mim, por mais que em certos momentos meu corpo tremesse quando pensava na mínima possibilidade de estar enganada.
— Eu sei para onde você está me levando. — O comentário de Ian fez meu corpo flamejar.
Era claro que ele sabia, como não poderia saber? Se meu coração quase saltava para fora apenas por estar próximo dele, eu não conseguia imaginar qual era a sensação que tomava o corpo de Ian.
— Você... — Por uma fração de segundo não consegui formular uma frase. — Você nunca chegou a me levar até ele... — Constatei em um tom brando, para que ele não achasse que eu estava o repreendendo. — Mas eu sabia que ele estava lá desde que eu pisei aqui pela primeira vez. A energia que eu sinto... fica cada vez mais forte conforme nos aproximamos de lá...
Andamos por mais alguns instantes, subimos vários lances de escadas, fizemos inúmeras curvas até chegarmos no local pretendido. Quando meus pés tocaram o chão daquela caverna, a força que reverberou em meu peito foi tremendamente implacável. Não era a maldição que estava me tocando e sim os seus poderes que me chamavam, como se abraçassem minha alma, acariciassem meu ser, acolhessem a mim e meus poderes como se nos reconhecessem.
Soltei a mão de Ian, observando cada canto do lugar. Ele não era muito amplo, porém alto o bastante para que eu precisasse inclinar minha cabeça para cima a fim de observar a abertura circular no topo. Era esse lugar que marcava o pico mais elevado da Pedra dos Condenados.
As paredes que me cercavam estavam cobertas de símbolos da magia elemental, porém havia outros, como se eles estivessem sobrepostos e marcassem um selo. Imaginei que eles eram os principais responsáveis por criarem a maldição que aprisionava os poderes de Ian.
No centro da caverna havia uma larga rocha, de superfície reta, que batia na altura acima do meu umbigo, como se fosse um altar posto para um sacrifício. Cheguei a me arrepiar ao me aproximar o suficiente dela para que conseguisse tocá-la, reparando em como cada parte da rocha possuía pontos luminosos e tinha uma cor que ditava a maldição, assim como a caverna, tanto as paredes quanto o chão. Violeta marsala.
Por breve instante Ian se aproximou de mim e colocou sua mão sobre a minha, tocando a ponta da rocha entre os meus dedos. Uma energia vibrante transpassou dela para as minhas mãos, como se as atravessasse para tocar as de Ian. Foi algo que queimou, como o fogo mais vívido, porém não me machucou, apenas ardeu as brasas em meu coração.
Em um ato impulsivo acabei puxando a minha mão e o encarei ao me virar em sua direção. Sua face não demonstrou reação alguma, mas os olhos brilharam, como se algo em seu interior quisesse se expandir a ponto de tocar a minha alma.
Acabei engolindo em seco com a sensação que me tomou e abaixei o olhar, não conseguindo formular palavras para me explicar. Parecia que o ar da caverna cessaria a qualquer momento.
— Eu não sei por onde começar... — Foi a única coisa que consegui dizer.
— Sou eu quem deveria implorar pelo seu perdão... — Notei que ele se aproximou mais um passo. — Você se entregou a mim, com todo o seu coração, e por um momento acreditou que eu joguei fora o seu amor. — A ponta do seu indicador segurou meu queixo e ergueu meu rosto, fazendo com que nossos olhares se fixassem um no outro. — Você se sentiu ferida e quis que eu sentisse o mesmo, por esse motivo me disse todas aquelas palavras... — Comprimi os lábios em uma fina linha por ele saber me ler tão bem. — Mas você não precisa se desculpar pelo que disse, sou eu quem tenho culpa de tudo o que aconteceu, então, pelos céus, me perdoe, Lyanna...
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A Rainha das Chamas I
FantasyAs Crônicas do Fogo e da Água I "Há muito tempo, através da magia, o passado foi apagado da mente daqueles que habitam a Terra há milênios, os Guerreiros Anciões. Heróis ou vilões, nenhum deles escapou. O único fragmento que se restou na memória dos...