XXXI - Poderoso Inimigo

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"Entre todos os anos
Que vou te esperar
Dedicarei minha vida
Somente a te amar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 31

As lembranças de uma época que se foi retornavam a minha mente com requintes de crueldade. Tristeza era o único sentimento que me atingiu quando eu encarei tudo o que foi perdido, aquilo que destruiu minha família. Observar o prédio central da Keeper's era o mesmo que estar diante de um fantasma em minha vida, que sempre se pendurou em minhas costas como uma grande sombra no meu passado.

Fazia poucos minutos que Zac e eu chegamos. O caminho repleto de conversas agradáveis foi apagado no instante em que o solado de minhas botas pisotearam o cascalho que cobria a fachada da fábrica. Eu estava travada na mesma posição desde que saíra do carro, com o vento assobiando em meus ouvidos e bagunçando os meus cabelos, como se não fosse capaz de continuar.

— Estar aqui é tão... estranho. — Comentei. — Tudo parece intacto... como isso é possível?

Nem mesmo poeira ou mofo se prendiam nas paredes. O tempo não desgastara as estruturas, era como se ele nem ao menos tivesse passado nesse local.

— Alguém tem mantido este lugar assim. — Afirmou em resposta.

A Keeper's nunca teve suas fábricas baseadas em modelos industriais, como a população estava acostumada. Meu pai e o setor financeiro sempre apostaram em designers modernos com o intuito de passar a imagem do que eles produziam dentro de seus estabelecimentos. Tecnologia.

A fachada do prédio principal era composta por um edifício retangular de três andares, com vidros completamente transparentes. Quando a fábrica estava ativa eles exibiam um show holográfico para impressionar os universitários interessados em trabalhar nesse império. Era nessa parte da empresa que ficavam os principais setores administrativos. Atrás dele um extenso pavimento se erguia, ele possuía apenas um andar e seu teto era feito de vidro. Era nesse lugar que a tecnologia era criada e armazenada.

Observar tudo isso era assombroso, meu estômago se revirava apenas ao pensar em desenterrar a sujeira escondida ali.

Fechei a porta do carro e caminhei ao lado de Zac até o perlongado moldado em ferro que compunha a fachada. A única coisa quebrada era o portal de vidro que se erguia abaixo dele, em estado deplorável, assim como a parte onde ocorreu a explosão.

A pequena recepção se encontrava intocável. O porcelanato que cobria o chão não possuía mancha alguma e o balcão de atendimento ainda estava repleto de coisas em sua superfície. O sofá de espera permanecia branco. Até mesmo as letras que compunham a logo da Keeper's estavam livres de pó, chegavam a brilhar.

— Encontraram alguma digital diferente por aqui? — Perguntei enquanto observávamos os arredores.

— Nenhuma marca de mão ou pegada que não fossem as nossas. — Franzi o cenho desacreditada.

— Nem dos antigos trabalhadores da fábrica?

Zac negou com a cabeça.

Um tanto bizarro, eu diria. No mínimo deveria ter inúmeras pegadas espalhadas por todos os cantos já que a fábrica foi deixada às pressas com o risco de uma nova explosão. No dia do incidente circularam inúmeros rumores de que essas explosões poderiam ser piores do que as de um acidente que ocorreu uma vez em uma usina nuclear no menor estado de Astrovell, coisa que meu pai provou ser uma falácia.

— Vamos até o escritório principal. — Zac chamou minha atenção.

Fomos na direção das escadas de vidro e subimos até o último andar, onde ficava o escritório do meu pai. Atravessamos o corredor até chegarmos à sala principal que ficava em seu fim. Ao entrarmos nela entendi o que Zac quis dizer quando disse que o projeto foi roubado. Seu cartaz, que ocupava toda parede, não estava mais nela.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora