III - Olhos Sombrios

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"Seu sorriso
Me conquistou
E meu coração
Capturou
E minha paixão
Por você aumentou
Mas seu coração
Tão pouco durou
— As Cinzas".

CAPÍTULO 3

A casa da família nos subúrbios de Honeyberg não era espaçosa o suficiente para abrigar tantas pessoas. Por fora aparentava ser ampla graças ao gramado verde que a cercava e às inúmeras janelas que rodeavam seus dois andares, mas com dez pessoas dividindo os quatro quartos, o espaço se tornava minúsculo demais para uma convivência pacífica.

Desde que meu pai perdera sua fortuna, todos os familiares que viviam às suas custas na grandiosa mansão em Allenris, cidade onde a mais alta classe habitava, tiveram de se mudar para a única propriedade que o pouco dinheiro que lhe sobrou conseguiu custear. Teria sido diferente se pelo menos um dentre meus tios e tias que permaneceram afortunados tivessem acolhido meus avós e a única irmã que dera o azar de perder tudo junto ao meu pai, mas, naquela época, a arrogância de nossos parentes fez com que eles virassem as costas para nós, nos deixando a mercê da sorte mundana, como se não tivessem se escorado nos negócios de meu pai durante anos, usando do seu conhecimento e a tecnologia de suas fábricas para criar suas próprias fortunas.

Perder seu dinheiro fez com que meu pai visse a verdadeira face daqueles que compartilhavam o mesmo sangue que ele, mas eu sabia muito bem que ele era minimamente diferente dos irmãos, pois mal se reestabelecera e gastava tudo o que recebia para realizar viagens das quais ele dizia que poderiam contribuir para que ele recuperasse o que perdera. Pelo menos com isso já não precisávamos mais da ajuda de meus avós maternos, que apesar de não possuírem muito, foram os únicos que não fecharam os olhos para essa família desgraçada.

— Lyanna, não vai entrar? — Ouvi minha mãe chamar. Ergui minha cabeça vendo-a parada ao lado do batente da porta de madeira.

— Estou indo, mãe! — Respondi. Ela assentiu antes de dar as costas e retornar para a casa.

Tomei fôlego uma última vez antes de entrar.

Assim que pisei meus pés na sala, Sophia, minha irmã caçula, correu até mim e envolveu seus braços em torno do meu corpo, demonstrando completo alívio ao me ver. Repousei uma de minhas mãos sobre seus cachos dourados e ela levantou seu rosto. As íris verdes tremeram em sinal de preocupação.

— Fico tão feliz em te ver bem, Ly... — Sua voz soava como a de alguém que estava prestes a chorar. Pelo menos ela parecia estar preocupada comigo, pois os demais familiares, com exceção de minha mãe, estavam de pé me encarando de uma forma que soava como uma acusação.

— Vocês chegaram bem rápido, parece até que vieram voando... — Caluna, a mais velha dentre minhas irmãs, disse em tom divertido, mas suas palavras me pareceram uma certa provocação, quase franzi as sobrancelhas por isso. — As duas deram sorte em conseguirem chegar cedo, com a confusão na arena o trânsito ficou completamente congestionado.

— É, sorte... — Foi a única coisa que comentei mediante ao que ela dissera, como se eu não tivesse feito algo semelhante a voar para que chegássemos em casa. — Poderíamos ter morrido com o que aconteceu na arena. Ninguém apareceu para salvar a nossa pele. — Acrescentei apenas para provocar minha irmã, sabendo que ela mudaria de assunto para defender os heróis da OMH com unhas e dentes.

Caluna parecia amar Zac e Joshua Reymond tanto quanto Rayssa, apenas não gostava de demonstrar isso, mas, dessa vez, ela não disfarçou, a mais pura indignação estampou sua face.

— Isso jamais aconteceria! — Retrucou quase que imediatamente. — Aposto que havia inúmeros heróis em prontidão para livrar a cara feia de vocês duas. — Cruzou os braços ao dizer e, ainda por cima, virou o rosto ao receber um olhar de desaprovação vindo de Rayssa. — Lyanna, todo mundo aqui sabe que você não gosta deles, não precisa mentir só para parecer que eles são desagradáveis.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora