"Pela minha força que se foi, sei que um dia te tirarei dos braços da morte.
— As Cinzas".CAPÍTULO 71
A minha felicidade não era tão importante quanto o bem-estar do meu povo. Eu abriria mão de tudo pela minha nação. Negaria minha coroa, deixaria minha casa, rejeitaria o meu nome. Eu faria de tudo para que Ligharkell não perecesse, mas jamais entregaria o reino nas mãos da pessoa mais perversa desse mundo, Varrykell, alguém tão ambicioso que seu desejo por poder chegava a emanar dos olhos.
Me casar com ele significava colocar a nação em risco. Eu não faria isso e lutaria para que tivesse o direito de recusar. Minha liberdade e a da minha nação valiam muito para mim e eu as teria a qualquer custo, nem que para isso fosse obrigada a passar por cima das ordens delirantes do Rei de Ligharkell, meu amado pai, que, infelizmente, sucumbiu às propostas de Varrykell a fim de evitar uma guerra civil.
Existiam outras maneiras de conter a pressão dos Lordes de ambas as nações, um casamento, uma aliança dessa magnitude, não se fazia necessário, eu resolveria isso da melhor maneira o possível, mas os dois quiseram tomar o caminho mais fácil, na realidade meu pai foi convencido.
Essa história deveria ter acabado com o término do meu relacionamento com Joshua. Depois desse dia jamais tive o desejo de unificar os dois reinos, mas fui obrigada a fazer isso da pior maneira o possível ao ser acorrentada a um homem asqueroso. O Rei do Fogo.
— Você está atrasada! — Os olhos azuis de Elisa me encararam no segundo em que pisei no corredor de entrada para o salão principal, lugar em que o jantar oficial seria realizado.
Infelizmente ela teria de permanecer ali, ao lado dos dois guardas, pois o requisitante dessa palhaçada deplorava sua presença por conta da origem humilde. Nas palavras dele, uma plebeia qualquer jamais deveria ter se casado com um príncipe. Sierg o odiava profundamente por isso.
— É proposital. — Revelei ao parar em frente a enorme porta dupla que dava entrada para o salão. — Estava conversando com Zac, ele precisava chegar antes de mim. Varrykell não ficaria contente em saber que sua futura esposa anda conspirando contra ele junto ao seu próprio filho.
Um brilho irradiante despontou dos olhos resplandecentes de Elisa quando ela captou a essência por trás das minhas palavras.
— Eu sabia que você teria um plano. — Afirmou com um ar convencido, como se independentemente da ideia que eu tivesse, teria sucesso ao executá-la. A confiança que Elisa tinha em mim era inabalável.
— O fim deste casamento se inicia hoje. — Garanti com minhas palavras repletas de certeza. Se eu desafiasse o Guerreiro do Fogo e vencesse colocaria um fim nessa aliança de uma vez por todas. — Me deseje sorte.
A lancei uma piscadela e com um gesto de mãos, pedi para os guardas abrirem a porta. Evitei a vontade de arrastar Elisa comigo para esse jantar. Passar por cima das exigências de Varrykell seria prazeroso, mas meu pai, cego como vinha sendo, me repreenderia da pior maneira o possível por eu ter desrespeitado uma autoridade.
Ergui o queixo e adentrei o local com um silêncio cruel pairando sobre os arredores. Não era por falta de pessoas à mesa do jantar e sim por conta da tensão que rondava todos os presentes, que se levantaram com a minha entrada. Meu pai, ocupando o lugar de destaque em uma das pontas da mesa, me lançou um olhar duro, desaprovado meu atraso de maneira silenciosa.
Assenti indicando que recebi seu alerta e encarei a mesa extensa procurando meu lugar. Por sorte não seria ao lado de Varrykell, pois ele se encontrava ao junto aos demais Reis que foram convidados para esse jantar e se assentavam na fileira da mesa à direita do meu pai, mas não sabia se ficar na cadeira em frente a dele, na fileira à esquerda da Rainha, era pior.
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A Rainha das Chamas I
FantastikAs Crônicas do Fogo e da Água I "Há muito tempo, através da magia, o passado foi apagado da mente daqueles que habitam a Terra há milênios, os Guerreiros Anciões. Heróis ou vilões, nenhum deles escapou. O único fragmento que se restou na memória dos...