XXXVII - Esquecimento

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"Levando meu amor
De volta para o lar
Levando minha vida
Só para descansar
Sem você essa Terra
Não é o meu lugar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 37

Um pesadelo deveria ter controlado meus sonhos, imagens de toda a dor que sofri ao perder minha irmã e meu pai poderiam ter me atingido no segundo em que dormi, até mesmo esperei por isso, pelos tormentos da minha mente que ainda não se dissipara de tanto sofrimento, mesmo após as inúmeras distrações que eu e Ian arranjamos para que meus pensamentos não se voltassem a tudo o que aconteceu, mas as horas se passaram como um fio e acordei sem nem mesmo perceber.

Ainda estava claro quando abri os meus olhos. Não conseguia entender como o dia e a noite funcionavam no Palácio, mas não sabia exatamente se deveria estar de noite, pois apesar de ter dormido — mesmo parecendo que horas se passaram — o sono soou como um cochilo. Tudo estava muito... estranho.

Meus olhos se direcionaram de maneira involuntária a um livro sobre a mesa. Apenas ele estava sobre ela, minhas anotações, os dicionários e até mesmo o globo haviam sumido. Através da minha visão periférica percebi que Ian não estava mais no sofá. Eu nem mesmo consegui me direcionar a ele, pois meu corpo não me obedeceu.

No instante em que pensamentos dos quais não pertenciam a mim começaram a invadir minha mente, percebi que estava em uma lembrança de alguém que não era eu.

Como se eu estivesse vivendo-a, ela me dominou por completo.

Dormir de armadura sempre era um verdadeiro erro. Se meu pai visse ficaria furioso, mas toda a sua raiva teria motivo, uma resposta a sua preocupação, era o que ele sempre dizia, afinal eu poderia me distrair, esquecer de tirá-la e alguém, que não fazia parte dos nossos súditos de confiança, poderia acabar me vendo. Isso seria um grande problema se eu não apagasse a mente desse alguém a tempo, coisa praticamente impossível de se acontecer.

Eu poderia tentar me livrar da bronca com a desculpa de que a minha rotina andava bem cansativa. Treinar todos os dias junto aos sete Guardiões e após todo esse cansaço ter que praticar horas de magia era desgastante.

— Lyanna! — Ouvi a voz de meu pai ecoar pelos corredores do palácio.

Me encolhi ao perceber que não havia escapatórias, com toda a certeza ele fizera um feitiço de localização para me encontrar, não adiantava fugir. Eu não podia descansar nem por um segundo sequer, céus... que vida difícil...

Não demorou muito para meu pai entrar na biblioteca parecendo furioso. Tenebris chegou logo atrás, tentando impedi-lo sem muito sucesso.

— Sinto muito, Minha Princesa. — Seu olhar pareceu um tanto tristonho por ele não ter conseguido atender meu pedido de impedir que meu pai me encontrasse. — Meu Rei foi mais rápido.

Lancei um sorriso amarelo ao meu pai quando ele me analisou dos pés à cabeça.

— Não terminou suas lições e ainda por cima dormiu de armadura?! — Repreendeu.

Ergui uma sobrancelha e cruzei os braços ao ver que ele também estava com a sua. Que hipocrisia, papai.

— Em minha defesa, não foi por querer, a culpa é sua por ter escrito tudo em latim, essa língua me dá sono... — Reclamei.

— Sem desculpas, querida. — Advertiu. — Você sabe o motivo de eu ter escrito os livros nesse idioma.

Apenas não revirei os olhos em respeito a sua autoridade. Sim, eu sabia muito bem.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora