XXIX - Jogue Comigo

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"A ti dei meu amor
Deixei tudo florescer
E você me deu o teu
Deixando tudo se acender
Mas o Rei nos apagou
Da existência e do poder
— As Cinzas".

CAPÍTULO 29

Realcei meus sentidos em uma tentativa de identificar qualquer tipo de presença. Me levantei e quando estava prestes a sair da barraca, Peter segurou meu antebraço, me impedindo.

— Deve ser o vento. — Supôs, mas eu imaginava o completo oposto sabendo que existiam pessoas que conseguiam se mover sem que nossos sentidos captassem. Poderia ser qualquer um, apesar de que ninguém seria tão descuidado a ponto de esbarrar em alguma lata.

— Fique aqui, vou apenas conferir. — Pedi. Peter assentiu em concordância e deixei a barraca, observando todos os cantos daquele terraço.

Andei de um lado para o outro, vasculhei todos os pontos que poderiam esconder alguém, chequei cada metro quadrado do local, mas nada encontrei. Cheguei até mesmo a me aproximar do parapeito do edifício procurando por alguém pendurado em alguma janela, mas não havia nada, o que me fez acreditar que Peter estava certo. A força daquele vento chato foi a culpada.

Com um estalo de dedos a fiz cessar, desviando seu percurso natural. Saí da beira do terraço e ao me virar na direção da barraca, bati contra alguém do qual nem ao menos senti a aproximação. Suas mãos me seguraram para que eu não caísse.

O perfume cítrico com toques amadeirados que invadiu minhas narinas o denunciou sem que eu precisasse erguer a cabeça para encarar seu rosto.

— Será que atrapalhei o casalzinho? — A voz de Ian soou irônica quando ele me questionou. O sorriso presunçoso que despontou dos seus lábios deixava claro que ele nos atrapalhara de propósito. Eu e Peter não éramos um casal, mas Ian interrompeu algo que ficaria bem interessante.

Me recusava a dizer isso em voz alta.

Mesmo debaixo da luz das estrelas, consegui encarar perfeitamente seus olhos escuros, que esbanjavam algum tipo de inquietação, irritação, talvez... eu não sabia decifrá-lo, apenas me atraía para a escuridão que marcava seu olhar, como se quisesse me afogar nele.

— Raios... — Xinguei baixinho após piscar algumas vezes, afastando a espécie de transe que me atingia sempre que eu o encarava. — Como me achou?

Trinquei o maxilar evitando encará-lo mais uma vez, eu ficaria muda, acabaria me perdendo se ficasse o observando.

— Pergunte a esse rastreador no seu bolso que a OMH te deu de presente.

Encarei a barraca além dele. Que perigo, eu deveria ter imaginado uma coisa dessas...

Desviei meu olhar para Ian, percebendo que seu comportamento não estava lá muito normal. Geralmente ele era bem controlado, no entanto seu peito estava subindo e descendo como se ele se contivesse bastante para não fazer algo do qual eu não conseguia premeditar, cheguei a franzir o cenho. O que havia de errado com ele?

— Imagino que seja por outra coisa. — Supus por conta da semelhança que existia entre nós, mas acabei ignorando minhas próprias suposições por não saber exatamente como isso funcionava. Eu deveria ter lido aquele livro... — O que você está fazendo aqui? — Perguntei ao me tocar da real situação. Não havia motivos para Ian querer ir ao meu encontro.

— Fiquei sabendo, através do seu amiguinho, Joshua, que Bolton te envenenou. — Enfatizou o nome do herói com claro desprezo.

— Você e Joshua por acaso conversam? — Fingi estar impressionada. Achava que os dois só conseguiam tocar insultos e golpes.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora