LVIII - O Cheiro da Morte

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"Sinto tua alma pairar sobre terra.
Quando te verei novamente?
— As Cinzas".

CAPÍTULO 58

Estar ciente de cada segundo que passava bem diante de meus olhos era agonizante. Minutos, horas, dias, cada momento se tornava incessante. A espera coberta de medos e incertezas, preocupações que gritavam por aqueles que nos importavam, tudo soava como a morte se aproximando vagarosamente, exprimindo sua temível beleza.

Eu não estava aguentando mais, me sentia a um passo de tocar no caos ao mesmo tempo em que nenhuma solução me vinha à mente, apenas desespero.

Meu coração chorava em agonia, minhas mãos tremiam, não tinha foco para nada. Mal conseguia segurar minha lâmina para golpear os demônios, mas por sorte pude ter a espada central em mãos, caso contrário o terror me consumiria, pois nada poderia nos salvar.

Em um momento estávamos caçando e no outro nos tornamos presas encurraladas, tínhamos sorte de não nos depararmos com o Rei Bloodusk após uma semana rondando sem rumo, à procura de Jane. Nem mesmo encontramos Ian em qualquer caminho que traçamos, o que me deixava ainda mais aflita.

Eu pensava apenas nele.

Todos estavam cansados, tanto de fugir quanto de caçar. Não conseguimos comer ou beber direito. Nossos celulares estavam ficando sem bateria enquanto nos revezávamos com as lanternas para iluminar a noite. No momento nos encontrávamos em um corredor dos alojamentos, seu fim dava direto para uma parede feita de vidro, que permitia a entrada da luz dos relâmpagos que brilhavam lá de fora a cada segundo. O céu estava nublado e em breve uma tempestade atingiria o solo, mas não era chuva ou ventania que nos impedia de sair.

Do lugar em que eu estava, sentada no chão e encostada na parede, sendo Joshua minha única companhia durante a vigia enquanto os demais dormiam no canto, conseguia ver milhares de Bloodusks cercarem o prédio, como se aguardassem o triunfo do Rei para invadir o local e destruir tudo. Não havia saídas e morreríamos, a culpa de todo o sangue derramado seria minha.

Se eu tivesse seguido o conselho de Ian no segundo em que li aquela mensagem, não estaria me sentindo tão aflita e culpada, se eu tivesse feito o que ele pediu, ele não estaria na OMH, pois a essa altura ele com certeza chegou no local. Ele poderia estar ferido, talvez até mesmo... eu odiava pensar na ideia, mas não tendo o encontrado durante esse tempo todo, era impossível não cogitar. Sentia o cheiro da morte, com sua fragrância de rosas e terra, impregnado em minhas narinas.

Era culpa minha que todos estivessem em perigo, pois se ao menos eu pensasse um pouco, deduziria que minha fuga atrairia o Rei, que correria até mim onde quer que eu me escondesse, levando todos os seus súditos cruéis para bem longe da OMH.

Se Ian morresse por ter sido louco o suficiente para correr atrás de mim, mesmo sem poderes ou forças para se proteger, meu coração seria despedaçado por toda a eternidade. Ele morreria sem ouvir minhas desculpas por tê-lo afastado, muito menos sem saber o que eu sentia por ele.

— Droga! — Me irritei com os meus próprios pensamentos e soquei a parede, machucando dedos dos quais não podiam se regenerar.

Os ossos doeram como se estivessem sendo triturados, o sangue escorreu mais uma vez, pois eu já havia batido tanto que minha mão ficou machucada, algo que não era nada inteligente de se fazer, mas eu me encontrava tão estressada que necessitava extravasar de alguma forma, nem que fosse a pior de todas. Joshua não deixou que eu fizesse isso mais uma vez ao segurar minha mão antes que ela tocasse a superfície dura e fria.

— Pare com isso. — Pediu com firmeza. — Quebrar os seus dedos na porrada e ficar estressada não vai te ajudar em nada.

— Como não ficar estressada se não paro de pensar no pior?

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora