XXIV - Conspiração

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"Em todas as coisas
Que não sei pensar
Em todos os mundos
Jamais imaginar
Por toda minha vida
Vou lhe procurar
Em todos os lugares
Até eu me esgotar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 24

O som do solado de minhas botas contra o chão lamacento não conseguia ser mais rápido do que as batidas do meu coração, cavalgando em disparada e bombeando adrenalina para as minhas artérias, espalhando pelo meu corpo a sensação de medo e uma urgência incessante de correr até que a minha vida estivesse a salvo. A floresta era densa e a cada passo que eu dava ficava ainda mais obscura, como se a força maligna que a rodeava consumisse qualquer luz que tentava penetrar através dos galhos das árvores.

Essa escuridão tão intensa era advinda da criatura. Eu até poderia não conhecer a magnitude de seu poder, mas conseguia senti-lo emanar e revirar minhas entranhas, como se todas as suas forças estivessem aptas a caçar e devorar a vida dos seus semelhantes, a minha vida.

Em meio a corrida desesperada para me salvar não podia ficar me questionando o que exatamente me fazia ser semelhante a ela, mas essa questão passou pela minha cabeça tantas vezes que chegou a me dar tontura. Não, na realidade eram os poderes da criatura que estavam impregnando em mim, como se me lançassem um gás venenoso que bagunçava meus sentidos.

Eu ficaria perdida se continuasse ali. Não reagiria a nada, desaprenderia a usar meus poderes. A única coisa que eu iria fazer seria correr, da mesma forma que já estava fazendo, como se somente minhas pernas fossem capazes de me salvar.

Isso não era o suficiente.

Semelhantes... pensei mais uma vez. Eu até poderia não saber a resposta, mas tinha certeza de que ela estava na ponta da língua de Ian, caso contrário ele jamais teria mandado Sierg e Bolton afastar a criatura de nós.

Aquele maldito era cheio de segredinhos. Não dizer a verdade estava quase custando a minha vida, eu nem mesmo sabia o que fazer, pois qualquer reação foi apagada pela obscuridade da floresta. Os poderes do Dusken estavam me cegando.

Eu não sabia para onde estava indo, apenas tinha a certeza de que o chão em que eu pisava era o da maldita floresta, o que me causava ainda mais desespero. Eu necessitava fugir dali.

Ainda correndo, ergui a minha cabeça em direção aos céus, porém tudo o que eu vi foi escuridão e árvores repetidas que alcançavam um tamanho inimaginável. Essa coisa demoníaca sabia projetar ilusões, infernos... ela poderia fazer qualquer coisa, eu não tinha ideia de qual era a extensão da sua força.

Um estranho cansaço começou a me atingir. Me forcei a continuar correndo, mas a cada passo isso se tornava uma tarefa ainda mais difícil. Eu precisava continuar, minha vida dependia disso, mas minhas pernas estavam deixando de me obedecer.

Meus olhos se embaçaram e minha mente rodopiou, quase vendo estrelas em sua própria infinidade. Com meus passos desacelerando ela ficou cada vez mais perto, sua opressão ficou maior, seus poderes malignos me atingiram com mais intensidade.

A respiração acelerou, o ar faltou em meus pulmões, que arderam como se implorassem por um pouco de descanso. Eu nunca me senti assim, tão depenada, indefesa como uma corsa na mira de um lobo faminto. Conseguia ouvir o som das minhas entranhas sendo devoradas, dos dentes da criatura triturando os meus ossos. Eu iria morrer, soube disso no segundo em que parei de correr.

Abaixei a cabeça e encarei a lama em meus pés. Minha mente fugiu da realidade e simplesmente esqueci o que estava fazendo ali. Uma sensação estranha envolveu meu corpo, fincou meu coração. Eu não sabia o que estava fazendo.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora