A Rainha das Chamas I

LIV - Exijo Explicações

"Sinto tanto sua falta
Que jamais deixarei
De escrever por sua alma
Eu jamais descansarei
— As Cinzas".

CAPÍTULO 54

Em silêncio, Sierg permaneceu em minha companhia até que o sol da manhã raiasse por completo, espalhando o seu brilho caloroso por toda a extensão do céu. Ele apenas foi embora, pois tinha assuntos pendentes para resolver na Pedra dos Condenados. Eu, infelizmente, tive que retornar para a OMH. Mesmo sem qualquer missão pendente, ainda tinha que cumprir horário, o que me deixava bem ociosa após o treino, por não ter um cargo definitivo.

As coisas seriam bem diferentes se eu tivesse entrado na organização por meios comuns. Ter estudado na Curt pelo menos me daria uma segunda função fixa, além da participação na divisão de missões, mas meu poder me deu mais privilégios do que qualquer outro agente obteve. Eu era a a mais jovem da organização.

Sem ter muito o que fazer, preferi me ocupar com um treinamento extensivo dado por Chester. Fazer inúmeras repetições, decorar movimentos e golpes com espadas era muito melhor do que pensar em Ian a todo momento. Eu não sabia se realmente conseguiria manter o conselho que Sierg me deu por muito tempo. Me aproximar de Joshua parecia ser algo ainda mais difícil. Todas as vezes que ele tentou ficar perto de mim praticamente fugi da sua presença, pois apenas encará-lo trazia aquela sensação em meu peito.

Viver esse momento estava se tornando sufocante.

Gastei o máximo de energia que pude durante o dia. Quase me isolei no refeitório na hora do almoço e do jantar, pois sabia que Joshua procuraria por mim. Não pude deixar de notar a maneira com a qual vários agentes me encararam enquanto eu caminhava pelos corredores. Todos me julgavam sem parar e estando com a cabeça tão cheia, nem mesmo entendi o motivo. Diante de tantos problemas, mal notei que a verdadeira bomba ainda nem explodira.

Apenas consegui descansar quando a noite chegou. Tomei um longo banho no vestiário e, assim que troquei minhas roupas, atravessei diretamente para o meu dormitório. Me joguei na cama e enfiei a cara nos travesseiros, pretendendo ficar assim a noite toda. Acabei pegando no sono, mas poucas horas depois ouvi alguém bater na minha porta. Foi como se o tempo nem mesmo tivesse passado, eu não havia descansado nada.

Soltei um resmungo e arrumei minha postura.

— Pode entrar. — Gritei, com preguiça de me levantar para atender a porta.

Meu corpo ainda estava cansado, meu interior uma bagunça, as dúvidas, apesar do que conversei com Sierg, ainda persistiam, mas eu teria que empurrar tudo isso de lado se quisesse entender as duas faces do mesmo sentimento, o amor. Eu precisava entender Joshua e o que eu senti por ele. Sierg disse que isso me deixaria esclarecida. Eu precisava confiar em sua palavra. Se fosse ele atrás dessa porta, eu cederia um pouco, apesar de todas as coisas que ele disse propositalmente, apenas para me machucar. Eu tentaria enxergar o seu lado.

— Com licença. — Katherine pediu ao entrar no quarto e fechar a porta atrás de si. Ela ligou a luz e caminhou até mim, sentando-se no espaço vago que sobrou na cama.

Abracei um travesseiro e a encarei. Ela apoiou a mão em meu ombro e me lançou um olhar compreensivo.

— Acho que nem preciso perguntar se você está bem ou não, dá para ver isso em seu rosto. — Falou ao me acariciar.

— Está tão ruim assim? — Perguntei desanimada.

Em resposta a minha pergunta, Katherine apenas assentiu.

— É, eu realmente estou péssima... — Curvei os lábios em uma fina linha ao admitir.

Eu não diria isso em voz alta, mas sentia como se uma pedra estivesse no lugar do meu coração, pesando meu peito e espalhando uma sensação dolorosa que subia pela minha garganta, como um sufocamento desesperador. Era difícil acreditar que Joshua poderia ser tão cruel a ponto de lançar aquelas palavras para me machucar, mas aconteceu, e aquilo me afetou de certa forma, pois foi como se ele lesse minhas inseguranças e as jogasse contra mim.