XXXIV - Estarei Ao Seu Lado

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"A espera de um milagre
Busco minha paz
A espera de uma vida
Que me traga paz
Com o amor da minha vida
E o luto já se vai
— As Cinzas".

CAPÍTULO 34

As forças de Escuridão me dominaram por completo enquanto estive desacordada. Seu poder consumidor tornou a dor ainda mais cruel, arrebatando meus sentidos, engolindo meu peito e me sussurrando aberrações das quais me deixavam ainda mais desolada, como se quisesse me destruir.

Durma na sua própria solidão, viva sozinha, perca sua humanidade, deixe seu coração morrer.

Essa Escuridão vazia era a única coisa existente além da morte. Era tudo o que eu deveria sentir, era o único lugar do qual eu deveria mergulhar, em tristeza profunda, em amargura estridente, em uma correnteza de sentimentos mais do que dolorosos, decadentes.

O desespero me abraçava como calafrios percorrendo minha espinha. As lágrimas se congelaram em meus olhos, abraçar meus próprios joelhos não era capaz de me trazer calor. Eu não queria respirar, a sensação era tão sufocante quanto arame farpado em meu pescoço, me fazia delirar, perder-me entre o sonho e a completa lucidez.

Um verdadeiro nada repousou em meu peito, desejei que minha vida não fosse real, que a morte me levasse assim como arrancou de mim a vida de meu pai e de minha irmã, mas ela parecia odiar aqueles que possuíam uma espada alojada na coluna, nada vinha, nada veio, apenas a dor e o vazio penetraram em minhas entranhas e me consumiram de uma forma que me senti estar perdida para sempre.

Eu precisava ser arrancada dessa solidão, de uma luz, de alguém que apagasse essa dor, mas ninguém era capaz de me alcançar, como se eu estivesse perdida para sempre, era nisso que eu queria acreditar, uma mentira.

Um toque suave acalentou o meu rosto. Polegares sensíveis afastaram as lágrimas de minhas bochechas. Um afago carinhoso soou em meu ouvido. Braços aconchegantes envolveram meu corpo. Um perfume cítrico invadiu minhas narinas.

— Não chore. — Seu sussurro foi a única coisa capaz de me trazer a realidade, mas não tive coragem de abrir os olhos, muito menos encará-lo. — Não permita que essa Escuridão domine seus pensamentos, você é muito maior do que qualquer obscuridade que ela tente dizer a você. — Suas mãos ainda seguravam meu rosto quando ele se afastou. — O mundo ainda existe. Sua vida não acabou.

— Eu não consegui salvá-los. — Minha voz tremeu. — Que tipo de força tenho se não posso salvá-los?

Abri os olhos encarando as íris ônix de Ian.

Nenhum sorriso, nenhuma graça, nenhuma arrogância. O brilho em seu olhar se compadecia com minha dor, emanando tristeza, algo tão grande que envolveu meu coração.

Se ele não tivesse me encontrado pediria as raízes dessa árvore que me enterrassem e sufocassem meus pulmões, até que eu perdesse a vida. Se ele não estivesse ali a Escuridão me consumiria e minha alma se perderia para sempre.

De alguma forma ele me achou, de alguma forma ele reconhecia o meu sofrimento. Seus olhos eram os únicos capazes de me trazer conforto.

— Eu sinto o quanto está sofrendo. — Admitiu enquanto ainda nos encarávamos. — Não da mesma forma que captamos os sentimentos das outras pessoas, mas exatamente da forma que você sente. Um semelhante atrai seu semelhante.

— Eu não sinto os seus. — Minha voz soou fraca quando me deixei levar por suas palavras, como se somente elas fossem capazes de me distrair.

— Eu resguardo meus pensamentos, assim como todos os outros sentimentos. — Revelou. — Uma tristeza devastadora demais é a única coisa da qual acabo deixando escapar. — Apertei os lábios em uma fina linha. O que ele estava sentindo era algo tão forte que acabei derramando ainda mais lágrimas.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora