LXIX - Você É Tudo O Que Eu Preciso

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"Você é como um pedaço de diamante
Brilha em todas as manhãs dos meus dias radiantes
Eu seria a sua marionete
Completamente perdido em seus traços viajantes
Talvez eu seja louco por estar todos os dias pensando em você
Mas eu sou todo seu para que pense somente em ter você
— As Cinzas".

CAPÍTULO 69

O sono ainda alcançava meus olhos por conta da noite mal dormida. A pequena hospedaria em que eu e Ian ficamos era confortável, mas as horas que tivemos para descansar foram poucas. Chegamos pela madrugada e saímos antes do sol nascer para conseguirmos chegar em um cemitério remoto em Menshire por volta do meio-dia.

A manhã estava bem feia, completamente nublada e fria. Parecia que a natureza estava bem revoltada por conta do que estávamos prestes a fazer. Assim que pisamos no lugar, praticamente abandonado se Ian não tivesse colocado um coveiro para ficar de olho, um trovão estremeceu o céu indicando o que estava por vir.

— Vai chover. — Afirmei ao encarar as nuvens escuras.

— Você acha? — O humor pesou no tom de sua voz quando ele apoiou as duas mãos sobre o cabo da pá, afundando sua ponta na terra enquanto me encarava com um sorriso nos lábios.

Revirei os olhos por ele ser tão bobo e inspirei profundamente para sentir a umidade invadir minhas narinas. A sensação me causou um arrepio que subiu pela minha espinha. Por mais que eu amasse o cheiro de terra molhada, esse lugar era verdadeiramente tenebroso.

— É melhor terminarmos isso logo, antes que essa tempestade nos atinja. — Comentei ao enfiar minha pá na terra e começar a desenterrar o crápula morto.

Ian concordou com a cabeça e após tirar três pás de terra, um arfar cansado deixou seus lábios. O encarei vendo que seus olhos estavam bem vermelhos e a aparência cansada demais. A minha não se encontrava muito diferente, mas a dele estava pior.

— Deixe isso comigo. — Pedi ao continuar meu serviço. — Você passou esse tempo todo dirigindo, deveria pegar um pouco mais leve. Não se esqueça de que estamos sem os nossos poderes.

— Quanto mais rápido, melhor. — Afirmou após bocejar.

Quase bufei por conta da sua insistência. Era justamente nesse tipo de momento que eu mais sentia falta dos meus poderes, quando o cansaço e a exaustão atingiam meu corpo e minhas pernas mal conseguiam se sustentar de pé, mas não tinha pretensão alguma de tirar a pulseira, muito menos Ian. Caso interrompêssemos o que estávamos tentando testar, de nada adiantaria ter entrado nessa desde o início.

— Podemos fazer depois. — Insisti de outra maneira. — Deveríamos descansar um pouco antes de prosseguir, não acha?

— Vamos descansar mais tarde. — Soltei um suspiro com sua recusa. — Quanto mais atrasarmos isso, pior será. Tem um vilarejo aqui perto com uma pousada bem confortável. Podemos ir para lá depois.

— Está bem. — Concordei, mesmo relutante. — Mas, depois, você descansará por no mínimo dois dias antes de partirmos para a próxima.

— Okay. — Ian concordou, apesar de parecer bem contrariado.

Me esforcei ao máximo com movimentos repetitivos para abrir a cova. Consegui tirar mais terra do que Ian, de tão cansado que ele estava.

Após longos minutos, passando de horas, abrimos a cova entre pausas e descansos. Ian o enterrara mais fundo do que o normal. Meus braços se cansaram de tanto se movimentar e meu corpo se aqueceu por conta do esforço, mas quando encarei o caixão, um calafrio subiu pela minha espinha, como se meu interior reconhecesse o ser maligno sepultado naquele lugar.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora