LXXXVIII - O Vazio da Desesperança

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"O teu fantasma me persegue em todos os lugares.
— As Cinzas".

CAPÍTULO 89

Pulei da cama no mesmo instante em que abri os olhos. Pude jurar que vi a sombra de alguém deixar o meu quarto, mas tudo foi tomado pelo desespero com a dor que consumiu o meu estômago. Uma ânsia tomou minha garganta e me vi prestes a vomitar no tapete caso não alcançasse o banheiro a tempo. Por sorte o desastre não aconteceu. Empurrei a porta e me ajoelhei na frente da privada, despejando o líquido escuro e amargo na porcelana antes límpida.

Fiquei aterrorizada em me ver praticamente desfalecer enquanto sentia as tripas revirarem. Aquilo não era obra de qualquer consequência da minha luta contra Ian durante a maior missão promovida pela OMH. Eu sabia que ela estava à espreita, aguardando meu pior momento, o de maior fragilidade, para me atacar e levar a minha alma para o abismo.

Escuridão vivia em mim, uma hora ou outra ela se manifestaria, mas algo em relação a ela não fazia sentido algum e isso a deixava ainda mais revoltada. Eu não lembrava em que momento descobrira sobre seus perigos, pior, a forma de enfrentá-la estava na ponta da minha língua, mas ao mesmo tempo eu não fazia ideia de como agir.

Era estranho perceber que uma força que queria me destruir também estava apta a me dizer alguma coisa, muito provavelmente relacionada ao pesadelo que tive, foi o que eu imaginei graças ao meu coração acelerado, o único indício de que foi algo bem ruim, pois eu não me lembrava de absolutamente nada, por mais que eu me esforçasse enquanto quase desmaiava no chão daquele banheiro.

Talvez fosse melhor que eu voltasse ao hospital.

Assim que terminei de colocar meu estômago para fora, com muito custo, dei descarga e tentei me levantar, mas minha cabeça tiniu, quase não vi nada a minha frente, minhas pernas fraquejaram e meu corpo foi ao chão. Certo desespero me consumiu quando achei que iria desmaiar, mas a pior das sensações ainda era em meu estômago, pois sentia como se uma espada estivesse o atravessando.

— Ma-mãe... — Foi difícil chamar por socorro.

Com o rosto sobre o chão gelado, a mente uma confusão, a respiração pesada e os batimentos acelerados, mais do que eu achava ser possível, preferi me manter jogada até que eu me recuperasse, mas isso não aconteceu. Uma força descomunal, muito mais forte do que eu, passou a me consumir, encher meu corpo, inebriar meus pensamentos.

Senti que minha consciência estava quase se esvaindo, o pedido de socorro que deixou minha boca foi quase inaudível, mas alguém chegou, me segurou em seus braços e a única coisa que consegui focar foi em suas íris violeta.

Joshua?... o que raios ele estava fazendo ali?

Sua mão tocou meu rosto, a boca disse algo, mas não compreendi, apenas senti nojo enquanto encarava aqueles olhos, algo do qual não fazia ideia do motivo. Essa sensação não durou muito, foi me deixando aos poucos, como uma coisa poderosa a empurrasse para fora.

Minha visão se ajustou, as palavras preocupadas alcançaram meus ouvidos:

— Você está segura agora.

Isso era uma mentira.

Encarar a logo da OMH bem na minha frente estava se tornando uma coisa bem entediante. Depois do que ocorrera no banheiro, tive que passar mais três dias em observação no bendito hospital. Os exames indicaram que estava tudo bem, pelo menos com o meu físico, não com os meus poderes.

De acordo com o Dr. Tyller, minhas forças estavam em completo desequilíbrio e algo desconhecido fazia com que Escuridão se sobressaísse dos demais. Pelo que ele me disse isso não parecia ter nada a ver com a minha pequena desavença contra Bolton no ano passado, apesar de que eu nutria sérias dúvidas sobre isso, o que me fez odiá-lo ainda mais por ele ter sido o único Condenado a escapar da minha ira.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora