"Estátuas sem vida
Castelos ao chão
O gosto doce da vitória
Amargou-se com destruição
— As Cinzas".CAPÍTULO 19
A escuridão ainda tomava conta de meus olhos quando senti alguém tocar meu braço. O tempo parecia estático, os segundos não passavam, mas eu conseguia perceber a movimentação ao meu redor, mesmo inconsciente, ou talvez eu estivesse delirando. Eu queria me mover, mas meu corpo tomado por dor e amargura me impedia.
— Lyanna! — A voz de Joshua ecoou distante, quase como se eu não estivesse ali.
Gritos alcançaram meus ouvidos. O choro de desespero me tomou, mas minha mente permanecia distante, como se meu interior quisesse afastar essa dor.
— Não... você não pode morrer! — As mãozinhas de Matias sacudiram meu corpo enquanto ele se apavorava com a situação.
Senti meu corpo se contorcer com espasmos involuntários. A sensação chegava a ser corrosiva, devastadora, mas, de repente, tudo ficou límpido. As vozes cessaram, a dor amenizou, a sensação de estar muito próxima a morte se afastou de mim quando uma mão tocou meu rosto e um polegar acariciou minha bochecha.
Um bem-estar reconfortante me preencheu com tamanho carinho, mas eu não sabia quem estava ali, me tirando daquela dor, como se agarrasse minha mão e me puxasse de volta para a realidade.
— Céus... o que eu não faço por você? — Uma voz, da qual meu delírio não me permitiu reconhecer, disse.
Cheguei a cogitar que era minha mente criando essa situação para me poupar do sofrimento, me tirando da sensação de ter sangue descendo pela minha goela, me engasgando, mas tudo me pareceu muito real quando minhas feridas começaram a se curar.
Mais tempo do que eu podia premeditar parecia ter passado, mas quando abri meus olhos e uma luz amarelada me atingiu, vi que essa não era a realidade.
Em um segundo eu estava caída no chão, praticamente delirando, no outro eu estava completamente recuperada, sem ferimento algum. Era como se alguém realmente tivesse... me salvado.
Passei uma das mãos trêmulas pelo pescoço, apenas para me certificar de se o que eu vira foi real. Não havia nada, apenas resquícios de sangue, dando a verdadeira face de tudo aconteceu. Chegava a parecer absurdo, mas eu não tinha muito tempo para ficar estranhando, não nesse lugar.
Soltei um suspiro para afastar o peso da situação e me levantei, observando o cômodo sujo. A primeira coisa que notei foi que nenhum dos meus poderes falhavam e o ambiente não era nada opressor, como se as ilusões da Mãe Waydusk não alcançassem o local.
Assim que terminei de analisá-lo, observei cada um dos que estavam escondidos ali. Jovens adultos com até mais idade que eu, crianças e, o que mais me chocou, bebês. A situação chegava a ser deprimente de tamanha a miséria.
Em meio a tantos rostos assustados consegui reconhecer um, Patrícia. Eu deveria ter imaginado que ela também estaria nesse lugar. Ela e Marlon foram levados no dia da festa no lago, porém eu não via sinais dele no local.
— Lyanna! — Patrícia exclamou ao correr em minha direção. Assim que me alcançou, seus braços me envolveram, demonstrando que ela estava tremendamente aliviada ao ver um rosto conhecido, mas isso não durou muito, logo ela me soltou e me encarou com estranheza. — O que você está fazendo aqui?
— Vim em missão, preciso tirar todos vocês daqui. — Expliquei. — Marlon está?
— Sim. — Respondeu. Citar o nome dele fez com que ela ficasse com o olhar tristonho. — Ele saiu há um dia para buscar comida e não voltou mais. Matias estava à procura dele, mas não obteve sucesso.
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A Rainha das Chamas I
FantasyAs Crônicas do Fogo e da Água I "Há muito tempo, através da magia, o passado foi apagado da mente daqueles que habitam a Terra há milênios, os Guerreiros Anciões. Heróis ou vilões, nenhum deles escapou. O único fragmento que se restou na memória dos...