A Rainha das Chamas I

LXXXVII - Eu Preciso de Você

"A magia em minhas palavras não lhe trouxeram de volta. Quase mil anos se passaram e sua alma está perdida.
— As Cinzas".

CAPÍTULO 87

A luz que tomou minha visão quando minhas pálpebras se ergueram fez com que meus olhos doessem. Soltei um resmungo e demorei para me acomodar, mas assim que minha voz soou, alguém correu em minha direção e cobriu parte da luminosidade.

— Céus! — A voz de Joshua, cercada de preocupação, encheu os meus ouvidos e causou uma sensação estranha em meu coração. — Ainda bem que você acordou!

Minha visão se ajustou, reconheci o lugar em que estava antes mesmo que reparasse em tudo. O som do monitor cardíaco e os aparelhos conectados eu meu corpo já denunciava. Eu estava deitada sobre a cama de um hospital.

— O que houve? — Perguntei confusa ao não conseguir me lembrar de qualquer detalhe.

Sentia como se minha mente fosse um grande borrão de lembranças costuradas e jogadas em mim. Nada do que eu pensava fazia sentido, nem mesmo a sensação que, mais uma vez, atingiu meu coração quando encarei o olhar de Joshua.

Parecia que minha cabeça iria explodir.

— Eu sinto muito, Lyanna... — Joshua comprimiu seus lábios em uma fina linha. — Eu deveria ter lhe protegido, mas não fui capaz...

Conseguir sentir a culpa que cercava a sua voz foi algo sufocante, mas nada se comparou com a ânsia que subiu pela minha garganta quando ele se aproximou de mim e me abraçou. Como se o rejeitasse, meu corpo se retraiu e paralisou. Ele estava tão abalado que mal percebeu, mas dei graças aos céus por isso, não queria que ele se magoasse ou pensasse que eu estava o rejeitando.

Eu jamais faria isso.

— Nossa missão foi bem-sucedida, mas isso quase custou a sua vida e a do meu irmão... — Quase congelei quando ele falou de Zac.

Apenas pelo seu tom choroso consegui perceber o quanto ele estava sendo afetado por isso. Sua voz chegou a cortar meu coração, mas aquela sensação estranha, quase imperceptível, permaneceu me tocando. Se eu desse ouvidos a isso, com certeza gritaria para que ele se afastasse, mas algo a suprimiu e me senti confortável para abraçá-lo. Foi tão aconchegante que cheguei a suspirar.

— Como ele está? — Consegui perguntar.

— Em coma. — Respondeu, me deixando com um ar triste. — Os danos que ele sofreu não foram piores do que os seus, mas você sabe... meu irmão não possui tanto poder.

Por um momento ele se afastou, vi as lágrimas em seus olhos e a tristeza se alastrou em mim. Durante o tempo em que estive na OMH pude ver o quanto esses dois se amavam. Zac era a única família que Joshua tinha. Eles eram o conforto um do outro por mais de mil anos. Eu não conseguia imaginar o desespero de Joshua apenas com a possibilidade de Zac ser agarrado pela morte.

— Sinto muito... — Toquei o seu rosto com suavidade e enxuguei uma lágrima que insistiu em cair.

De volta à minha consciência, as lembranças do que aconteceu retornavam aos poucos. Pelo menos saber que a missão foi um sucesso era um grande conforto, por mais que eu soubesse que fiquei muito mais tempo do que gostaria presa à uma cama.

Invadimos a Pedra dos Condenados, derrotamos o clã de Ian, todos foram pegos e levados, quase ninguém escapou. O maior clã de vilões foi extinguido e usei os meus poderes para destruir cada pedaço do que antes era o lar deles. Não foi isso o que me fez entrar em coma, mas sim o meu confronto final contra Ian.

Por algum motivo, pensar em atacá-lo me deixava deprimida.

Soltei um suspiro e desviei meu olhar.

— Por quanto tempo... — Engoli seco antes de perguntar. — Quanto tempo durou esse coma?