VI - Mentiras Expostas

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"Seus olhos tão lindos
Quanto esmeraldas
Sorriam para mim
Como lindas palavras
Eu mergulhava em você
Entre nossos suspiros
Me perdendo em seu
Lindo infinito
Que um dia se foi
E se foi de uma vez
Como esquecerei
O dia em que
Mergulhei nos teus lábios
Pela última vez?
— As Cinzas".

CAPÍTULO 6

Pensamentos e memórias das quais eu não conseguia esquecer martelavam minha mente com extrema rigidez. Angústia e medo me cercavam tanto quanto os questionamentos que iam e vinham sem parar.

Eu deveria estar me concentrando em encontrar uma maneira de ajudar Rayssa, mas desde que tinha pisado os meus pés fora de casa não conseguia parar de me voltar ao que acontecera no lago e no shopping. Aquela criatura estava me atormentando, nem mesmo o silêncio da noite e minha caminhada no interior do Honeyberg Park foram capazes de me aquietar. Minha única saída viável foi encontrar a lanchonete mais próxima e usar algum aparelho do estabelecimento para me conectar à internet e pesquisar sobre o acidente. Para a minha sorte, o centro da cidade era bastante movimentado durante a noite e o que não me faltavam eram opções.

Assim que entrei em uma lanchonete, fiz o meu pedido e usei um dos tablets conectados à mesa para acessar minhas redes sociais. Naveguei pelo feed de notícias enquanto saboreava meu lanche e logo me deparei com um post de uma página que compartilhou o link de uma matéria.

"Vazamento de gás provoca incêndio em shopping. Testemunhas relatam terem visto um novo herói em ação".

Franzi as sobrancelhas com o título. Quis que eles não estivessem falando de mim, mas negar isso seria fechar os olhos para a minha própria ação.

Cliquei no link e pulei a parte cansativa e sensacionalista do texto, indo direto para os relatos das testemunhas.

"Eu e minha esposa vimos quando uma mulher entrou correndo no parque que já estava em chamas. Conseguimos ver o exato momento em que ela fechou as mãos e o fogo desapareceu. Depois disso ela andou para debaixo de um daqueles negócios que saem água e jogou uma bola de fogo nele. Uma bola de fogo que saiu da mão dela! As coisinhas ativaram na hora, mas já não tinham chamas para serem apagadas. Foi surpreendente!" Relata Lucas, de 27 anos. Sua esposa, Renata, confirmou tudo o que ele disse: "Uma pena não termos conseguido gravar o rosto dela. Ela salvou a vida de muitos impedindo que o fogo se alastrasse." Completou.

Diferentemente de Renata e Lucas, José, que estava próximo deles, discordou: "Aposto que foi ela quem explodiu tudo. Tenho certeza de que aquele fogo não veio de vazamento de gás algum, sei do que estou falando, estudei para isso!" Disse o jovem engenheiro de 25 anos. "Além do mais, uma pessoa que solta fogo pelas mãos não deve ser lá boa coisa..." Completou.

Fechei a matéria ignorando a vontade de xingar o rapaz nos comentários, mas, em partes, eu concordava com ele. Aquelas explosões não foram causadas por um vazamento de gás acidental, aquilo foi algo completamente proposital.

Soltei um suspiro em desânimo e rolei para os comentários na postagem da página. A maioria deles concordavam com o que José dissera, mas somente um em específico chamou minha atenção:

"Eu estava no dia da explosão no shopping junto com a minha filha e ela desapareceu. Ela recebia assistência especializada da OMH. Já liguei para o centro social, para a delegacia e para o centro de ajuda da organização, eles não me enviaram respostas. Quero minha filha de volta, estou desesperada!!!" Dizia o comentário de uma mulher.

Franzi minhas sobrancelhas. A filha dela possuía poderes e desapareceu, ainda por cima a OMH não fizera nada para ajudá-la. Isso era quase impossível. Ter um filho com poderes significava ter atenção especial da OMH em todas as ocasiões. Nascer com poderes era um passaporte premium para receber ajuda, dinheiro e alimentação exclusiva vindos da organização a qualquer hora. Um dos maiores motivos de eu nunca ter revelado aos meus pais que os possuía. Eles me usariam para obter o que quisessem a qualquer custo.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora