"Meu coração pulsou
Mas você não estava aqui
Minha vida caiu
Mas eu não desisti
Meu coração pulsou
E você não estava aqui
Minha vida desandou
E eu não desisti
Por você...
— As Cinzas".CAPÍTULO 47
Dor era uma palavra muito pequena para descrever a imensidão do que eu estava sentindo. Após ter esgotado meu corpo, até mesmo o ato de respirar era dificultoso.
Eu odiava me sentir fraca, incapaz, ver que algo me faltava para que eu conseguisse usar o auge dos meus poderes. Fazer com que as estruturas daquele prédio retornassem ao seu lugar de origem ao voltá-lo no tempo não parecia ser uma fração do que Escuridão era capaz. Seria ingenuidade da minha parte pensar que apenas uma maldição fazia com que eu não aguentasse seu poder. Usá-lo daquela maneira me deu a sensação de que ele estava extrapolando para muito além de mim.
Como isso era possível?
A cada segundo que passava, conseguir estabelecer uma conexão com minhas âncoras se tornava mais necessário. Eu tinha certeza de que elas poderiam me ajudar a sustentar esse poder extravasante, não era à toa que os Guardiões se esforçaram tanto para me ajudar a encontrá-las. Tê-las era uma necessidade, mas eu não podia ir atrás delas enquanto estivesse em uma cama de hospital.
Meus olhos mal se abriram e a realidade da minha situação decadente recaiu sobre mim. Deitada de bruços, sentia o peso das minhas asas sobre meus pulmões e costas, quase me afundando no colchão. Me encontrava tão fraca que mal podia sustentá-las, era como se eu me deitasse em cada centímetro do chão gelado abaixo das pontas apoiadas nele. A sensação era tão arrepiante que meu corpo chegava a tremer.
Um resmungo escapou de minha boca no segundo em que tentei me mover. Quando meus olhos se ajustaram à luz do quarto, que os ardia como o inferno, certa alegria me tomou ao ver que Josh estava sentado na poltrona ao lado da cama. Era sempre ele quem estava comigo nessas terríveis situações, mas dessa vez ele estava bem acordado. Suas íris violeta não se encontravam sobre meu rosto, concentravam-se apenas nas asas, se movendo de um lado para o outro, como se estivesse as admirando.
As asas membranosas de Escuridão também me impressionavam. Até então não conseguira invocá-las, mas usar tanto do seu poder fez com que eu tivesse um breve acesso a elas, graças ao sacrifício dos Guardiões, eu sabia disso, mas essa paz entre mim e meu próprio poder não penduraria por muito tempo. Eu já conseguia senti-lo revirando minhas entranhas.
— Ainda bem que você acordou. — Joshua pareceu tremendamente aliviado ao me dizer isso. Seu olhar se dividiu entre minhas asas. — São magníficas... — Comentou. — A que poder pertencem?
— Escuridão. — Respondi. — Não é como os outros. Descobri a existência dele recentemente.
Tentei me inclinar para observar melhor as asas, mas, além da dor, fui impedida por algo que me prendia a cama, ainda por cima acabei descobrindo que a parte superior do meu corpo estava completamente despida. Provavelmente cortaram as roupas para que conseguissem me examinar melhor e não puderam me vestir novamente com as asas atrapalhando. Apenas uma calça bem larga me cobria da cintura para baixo.
Chiei por conta do esforço que fiz, segurando um berro que quis sair da minha boca. Eu estava tão fraca que bastaram algumas tiras de couro amarradas sobre a cama para me segurar.
A energia me faltava, meus poderes estavam quase inacessíveis, eu não me recuperaria tão cedo se demorasse para enfiar qualquer coisa no estômago, mesmo enjoada por conta dos medicamentos para dor que não estavam funcionando tão bem quanto deveriam.
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A Rainha das Chamas I
FantasyAs Crônicas do Fogo e da Água I "Há muito tempo, através da magia, o passado foi apagado da mente daqueles que habitam a Terra há milênios, os Guerreiros Anciões. Heróis ou vilões, nenhum deles escapou. O único fragmento que se restou na memória dos...