LVII - Bloodusk

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"Meu coração passeou
Nos lábios da Escuridão
Mas tua Luz me iluminou
As trevas espantou
Porém a morte
Terrível te levou
— As Cinzas".

CAPÍTULO 57

A conversa com Zac durou até o amanhecer, apesar de eu não ter respondido seu questionamento sobre o que eu faria caso ele estivesse certo. Na realidade eu não conseguia acreditar nessa possibilidade, havia algo de errado nela, um ponto crucial do qual não conseguia pensar. Não tocamos mais no assunto do passado, não aquele do qual fazia nossos miolos fritarem apenas pensando em possibilidades, conversamos sobre como Zac seguiu sua vida após o despertar.

Me pareceu que todos os anciões tiveram um caminho árduo a seguir após o mundo perder suas memórias. Zac me disse que ele e seu irmão sentiram-se muito sozinhos depois do que aconteceu. Estavam devastados pela perda de pessoas das quais nem se lembravam do nome e nada os ajudava a passar essa dor, mas quando eles começaram a reconstruir o mundo e formar as primeiras vilas, os dois encontraram uma senhorinha que estava sozinha, perdeu toda a família com a destruição do mundo.

Os gêmeos decidiram ajudá-la para que ela não se sentisse só, não da mesma forma que eles durante todo esse tempo, assim eles poderiam apaziguar a dor que marcava seus corações.

A senhora, da qual se chamava Hortênsia, os acolheu com muito carinho e amor, como se fossem seus filhos. Os três viveram juntos por muitos anos na cidade que ajudaram a reconstruir, em Clavadell, perto da mansão Reymond, sessenta e dois no total, até que a senhorinha foi levada deles por conta da idade, mostrando, mais uma vez, a crueldade da imortalidade.

Zac disse que uma das maiores dores que sentiu foi quando ele teve que enterrá-la. Pela sua expressão pude ver o quão amável ela foi com os irmãos, pois não importava quantos anos tivessem passado, ele ainda lembrava dela com o mesmo sentimento de séculos atrás. Seus olhos estavam repletos de lágrimas quando ele terminou seu relato, mas tratou de afastá-las quando piscou algumas vezes.

Contei a ele como vinha me sentido em relação a morte do meu pai e Caluna. Em breve se completaria um pouco mais de um mês e não conseguia afastar o luto. As imagens do momento em que se foram ainda não deixavam minha mente, muito menos os meus sonhos. A ferida em meu coração ainda estava lá, mas o tempo passava e a cada novo dia eu conseguia deixar que essa cicatriz se curasse.

Em meio as nossas conversas, ouvi meu celular vibrar. Ao pegá-lo em minha jaqueta, vi que era Ian quem vinha me mandando mensagens. Parecia ser algo importante, mas acabei me distraindo ao ver que horas era.

— São seis da manhã. — Comentei ao colocar o celular de volta na jaqueta. — Vou limpar essa bagunça e ir tomar um café. Me acompanha?

Um sorriso despontou de seus lábios em resposta a minha pergunta. Zac era amigável demais, foi muito mais compreensivo em relação a Ian do que Joshua, por um momento cheguei a acreditar que ele iria me jogar na prisão, mas isso não aconteceu. O passado que tivemos juntos com toda certeza tinha relação com isso.

— Vou te ajudar para irmos mais rápido. — Se ofereceu.

Assenti e juntos limpamos a areia que havia dentro dos sacos e jogamos o material danificado no lixo. Fomos para o refeitório com os pés descalços, largando nossas botas e jaquetas no centro de treinamento. Não havia qualquer outro agente no local, apenas os ajudantes de cozinha separando as refeições nas bandejas do buffet.

Eu e Zac fomos os primeiros a pegar aos pães doces fresquinhos, chegavam a estar quentes e exalavam vapor. Enchi meu prato com meia dúzia deles e peguei um copo de capuccino enquanto Zac conversava com os funcionários, os elogiando pela limpeza, organização e dedicação no preparo das comidas. Eu deveria ajudá-lo nos elogios, a comida realmente era maravilhosa.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora