A Rainha das Chamas I

LXIII - Não Te Receberemos

"Você é a luz que me fascina
Força que me inspira
Você é o amor da minha vida
É o sol que me ilumina
Você é meu respirar
Motivo do meu caminhar
Alegria da minha Terra
Belo e doce é te amar
Sem você
O sol escureceu
A Terra pereceu
A lua sumiu
Meu coração se partiu
Eu não vivo sem você
Lyanna
— As Cinzas".

CAPÍTULO 63

Colocar meus pés dentro de casa não foi tão reconfortante quanto eu imaginava. O clima estava mórbido, a sala fedia. Parecia que ninguém limpava o local há uns bons dias e por um momento acreditei que o motivo disso era a decepção que minha família tivera comigo ao ler tantas notícias desagradáveis sobre mim, rondando pela internet. Quando encontrei tia Josephine estirada no sofá, descobri o real motivo.

— Ora, ora, que é vivo sempre aparece! — Me alfinetou ao colocar seus olhos em mim.

O estado de minha tia era deplorável. Para alguém que sempre foi muito vaidosa com a sua aparência, estava na cara que sua saúde mental se encontrava tão detonada quanto os demais aspectos físicos. Seus cabelos estavam desgrenhados, a camiseta do pijama se encontrava imunda e repleta de manchas. Os olhos inchados e remelentos, o rosto sujo, com migalhas próximas da boca. Tia Jose não estava fazendo o mínimo da sua higiene pessoal. Céus... o fedor que ardia o meu nariz vinha dela.

Embalagens de doces e comida velha a cercavam, muito provavelmente ela vinha morando naquele sofá e não deixou que ninguém a tocasse. Que situação deplorável, chegava a ser assustadora.

— O que raios está acontecendo aqui? — Indaguei custando a acreditar no que meus olhos viam. Tia Jose estava ainda pior do que nos dias em que eu passei em casa de luto pelo meu pai, pela minha irmã, pelos Guardiões. Era como se a pior fase dela tivesse chegado no dia que eu deixei esse lugar.

Meu espírito de limpeza falou mais alto e no mesmo instante comecei a catar todos os lixos espalhados pelo chão.

— Em que lugar todos estão? — Perguntei enquanto tirava uma fatia de pizza fresca grudada no tapete. Me embrulhou o estômago ver o queijo, ainda derretido, grudar no tecido e se esticar quando o puxei.

Coloquei a gororoba dentro de um plástico e continuei a limpar. Minha tia não me respondeu.

— O que houve com você, Josephine?

Me aproximei dela e tentei tocá-la, mas tia Jose se encolheu, como se eu estivesse prestes a dar-lhe uma surra.

— Por favor, não me machuque! — Implorou.

Cruzei os braços entendendo exatamente o que estava acontecendo. O meu pequeno showzinho junto a Ian e todas aquelas imagens provavelmente se acumularam. Tia Jose estava morrendo de medo de que eu pudesse ter me tornado uma vilã, pior, estava se corroendo por dentro porque não podia contar da minha suposta traição a ninguém. Misturado a dor do luto e tudo o que ela vinha passando, seus sentimentos deveriam estar uma loucura. Esse estado era muito mais do que compreensível.

— Você deve estar assustada, não? — Perguntei com um ar sereno, para não parecer intimidante. — Eu imagino o que você deve estar pensando...

— Você não sabe de nada, Lyanna, nada! — Retrucou. Me aproximei um passo e ela se escolheu. — Sabe como sua mãe está decepcionada por você ter se juntado a um vilão?

Comprimi os lábios em uma fina linha.

— Eu não me juntei a um vilão. — Afirmei. — Ainda sou uma agente da OMH. Vocês não sabem de nada e vim aqui oferecer minhas explicações. — Esclareci. — Onde está minha mãe?