LXXXII - Mente Retalhada

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"A ira me consumiu
Escuridão me tomou
O mundo destruí
Pois sua vida me deixou
Não queria mais que a vida
De ninguém pisasse sobre a Terra
Pois sem o amor da minha vida
Cada segundo me desespera
Vidas foram sacrificadas
Tudo parece ser em vão
Meu amor eu sinto falta
De segurar a sua mão
— As Cinzas".

CAPÍTULO 82

Estudar magia era um verdadeiro tédio. Tantas palavras, termos, princípios, fundamentos, regras e condutas deixavam minha mente à beira da exaustão. Eu não conseguia mais ler nada.

Fazia no máximo três horas que eu deixara Zac no centro de treinamento a fim de ficar enfurnada no meu quarto para encontrar, através do Livro da Quebra, uma magia eficiente para, além de arrancar o parasita da minha mente, me fazer lembrar do que Joshua me fez esquecer. O pior era que essa estava longe de ser a parte mais difícil. Mesmo usando o livro eu ainda precisava criar os feitiços, o que tornava a tarefa ainda mais tortuosa.

Pedir ajuda estava fora de cogitação. Me contactar com as únicas pessoas que entendiam de magia faria com que eu tivesse que admitir mais cedo a vergonha do que eu fiz. Não estava a fim de derramar lágrimas de arrependimento e ainda me recusava a ter certeza de algo inevitável. Eu não estava pronta para enfrentar isso.

O que me restava era continuar lendo e tentando associar quais feitiços foram feitos em mim, para que encontrasse a solução mais eficiente ao meu problema.

Preferia meter a cara contra a parede.

Ainda folheando o livro, prestando muita atenção em cada uma daquelas palavras e matutando minha mente para encontrar algo eficiente, notei que, perto das últimas páginas, um pedaço de papel branco estava destoando bastante das folhas amareladas do grimório, era como se fosse algo solto que não deveria estar ali.

Aproveitei que a sua ponta estava exposta e a puxei, revelando uma folha dobrada presa entre as páginas de dois feitiços dos quais eu poderia dar atenção depois. De primeira não consegui lembrar muito bem o que esse papel era, mas em segundos a imagem de Ian entregando-o a mim no dia do meu aniversário alcançou meus pensamentos.

Não pude deixar de sorrir quando pensei na noite incrível que tivemos, em como ele me fez sentir nas alturas com seus toques suaves e seus beijos intensos, mas... eu tinha acabado com tudo. Eu acreditei na armação que fizeram contra nós e quebrei seu coração. Eu destruí o que tínhamos e o rejeitei. Não merecia qualquer perdão ou piedade, muito menos o que se restara do seu amor por mim.

Com um grande peso no coração, por estar longe dele e saber que nossa relação se encontrava destruída, comecei a desdobrar a carta, como se ela fosse uma relíquia inestimável.

A raiva que eu senti dele por ter acreditado que fui traída me cegou de uma maneira que não vi o quão absurda era aquela situação. Minha arrogância e meu orgulho ferido fizeram com que eu dissesse coisas impensadas. Eu não tinha como curar o passado e não conseguia encarar o futuro. Me faltava muito mais do que coragem.

Ao abrir a carta respirei fundo antes de começar a ler. Apenas pela estrutura consegui notar que era um poema. Ian sabia como eu gostava de ler aqueles que ele dedicou a...

"Você é a luz que me fascina
Força que me inspira".

Comprimi os lábios e fechei a carta, sabendo que não conseguiria lê-la, muito menos apreciá-la, sem que começasse a derramar lágrimas até me esgotar. Eu sabia o quanto ele me amava e que algo assim não existia nesse mundo, porém eu não queria ter isso jogado contra a minha cara, como se me punisse por eu ter sido tão cruel com ele. Eu não devia ter o rejeitado, mas sabia que depois de tê-lo ferido tanto merecia o seu desprezo.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora