LVI - A Arte da Necromancia

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"Ouço teus desejos
Com meu coração
Vejo tua vida
Na palma de minhas mãos
Preciso a sentir
Mas não posso a tocar
Nem te ver sorrir
Muito menos te amar
— As Cinzas".

CAPÍTULO 56

— Ah, não esperava que você fosse sentir minha falta tão cedo! — Stella brincou com bom humor ao sair de dentro da biblioteca do Ar.

Eu havia acabado de fazer uma aterrissagem desastrosa na varanda, quase tropecei em meus próprios pés e rolei pelos ladrilhos de pedra ao ter ficado sem meus poderes no segundo em que entrei nos limites do palácio. Meus joelhos estavam doloridos por eu tê-los batido com tudo no chão.

— Ah, estrelinha, sua companhia é irresistível! — Afirmei no mesmo tom, apesar de que minhas palavras eram completamente verdadeiras. Stella me ajudou a levantar e caminhamos juntas para dentro da biblioteca.

Pelos livros espalhados por todos os cantos, alguns amontoados em pilhas e outros abertos em páginas bem específicas, notei que Stella andava bem ocupada. Era muito provável que, sem os Guardiões, ela estivesse se sentindo sozinha nesse lugar enorme. Se o feitiço do tempo ainda estivesse de pé nesse lugar, a solidão dela seria muito maior. Esse era, praticamente, um sacrifício que ela fazia para conseguir estudar as magias e tentar reverter a situação com as maldições.

— Kat avisou que precisava quebrar aquela promessa ridícula que fez para o Ian. — Comentou enquanto me guiava pelos corredores. — Já deixei tudo preparado. Vai ser um bom exercício para você. Andei pesquisando sobre alguns feitiços de memória em outros livros e achei algo que vai te ajudar.

Entramos na biblioteca da Luz e, por algum motivo, senti algo estranho repousar em meu peito ao colocar meus pés nela, era pesado e brutal, envolto de uma energia que não conseguia distinguir. Decidi não comentar sobre essa sensação e observei o que Stella preparara. Todos os móveis da torre foram empurrados para o canto, dando espaço para um grande espelho que foi colocado no centro da biblioteca. Ao lado dele havia uma cuia, uma atadura e uma adaga sobre um lençol vermelho.

Caminhei com Stella até o espelho e nos sentamos uma em cada ponta dele.

— Por que um espelho? — Indaguei ao ver Stella colocar a cuia no centro dele e pegar a adaga afiada.

— A melhor maneira de se treinar a pronúncia de feitiços na mente é usando uma base refletora. — Explicou. — Assim você poderá escrever o feitiço nele e ler em sua mente usando o sentimento de posse e poder. Espelhos conseguem abrir poderosos e perigosos portais, com essa técnica você o usará para criar um acesso a sua mente.

— Vou me lembrar de treinar mais vezes com essa ela.

— Cuidado para não abrir uma cratera no chão sem querer. — Alertou como se estivesse falando sério. Rimos juntas. — Vou acrescentar alguns elementos nesse exercício para mesclar o feitiço em um outro que o tornará ainda mais forte. Tenho certeza de que, com isso, você verá algo bem importante. — Assenti para que começássemos logo. — Vamos, me dê sua mão.

A estendi o máximo que pude e Stella usou a adaga para fazer um corte na minha palma. Ignorei o ardor quando alguns bons vasos foram atingidos e o sangue passou a escorrer sobre a cuia que teve seu fundo coberto por ele. Quando terminou, Stella envolveu minha mão com a atadura e empurrou a cuia em minha direção.

— Não se esqueça de vigiar seus pensamentos enquanto escreve. — Avisou. — Quando terminar, vou te auxiliar o pronunciando enquanto você o diz em sua mente. Depois você deverá lê-lo em voz alta e ao terminar, vou fazer o segundo feitiço.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora