LIX - Satech

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"A melodia tentadora
Da dança das estrelas
Cobre minha alma
Como passos de madeira
Perto da minha vida
Em imensa solidão
Vivenciou vasos quebrados
Calou-se o coração
— As Cinzas".

CAPÍTULO 59

O vazio que atingiu meu peito fez o recinto girar. Meu estômago se revirou e quase vomitei as tripas em meus próprios pés. Soluços irromperam minha garganta, lágrimas pingaram no chão.

— Não... — Nem mesmo tinha voz para falar.

Acreditar no que eu estava vendo faria com que aquela barreira que eu consegui erguer diante do luto fosse completamente destruída e todos os sentimentos ruins estariam livres para quebrar a minha alma em pedacinhos. Eu não conseguia crer que ele partira sem que eu pudesse dizer que o amava. Isso era tão devastador, tão bárbaro e odioso que não tinha forças para me mover.

Ver que meu irmão e Stella também se foram, por culpa minha, me machucava, até mesmo a presença do corpo falecido de Austin me causava uma angústia da qual não sabia que era capaz de sentir por ele. Me senti em um verdadeiro inferno.

Pela primeira vez que me permiti amar alguém, essa pessoa foi arrancada de mim com imensa crueldade. Cada segundo que eu permanecia naquele lugar, com os joelhos no chão e tentando tirar forças do meu ser para ao menos conseguir me aproximar do corpo dele, sentia meu coração virar pó. Todos erraram em suas suposições, o Rei não queria que Ian vivesse e em breve todos os que estavam comigo se encontrariam nessa mesma situação. Iríamos morrer.

Ele não está morto. Ele não podia estar morto. Eu não queria que ele estivesse morto. Não. Não. Não. Não e não.

Era tudo culpa minha. Eu o matei porque permiti que ele viesse ao meu encontro. Ian morreu e minhas mãos se encontravam sujas com seu sangue. Eu não passei mais tempo com ele, pois fui tola o suficiente para não admitir que o amava. Senti como se arame farpado enrolasse meu pescoço e respirar se tornou uma tarefa impossível.

Não. Isso não é possível...

Enfiei as mãos nos cabelos e soltei um grunhido agonizado. Nada poderia me salvar, nada poderia mudar o que aconteceu.

Não. Não. Não.

Eu não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Isso era um insulto, não podia ser real.

Os braços de Katherine me envolveram, a ouvi chorar perto de meus ouvidos. Satech estava nos enganando, Ian jamais morreria pelas suas mãos.

Escuridão me tomou, a realidade se afastou.

Ian jamais seria morto por um demônio de merda. Eu não iria acreditar no que meus olhos viam.

Me levantei involuntariamente, graças ao meu poder e comecei a caminhar na direção dele, me afastando de Katherine, de todos, querendo me levar até a realidade com apenas minha espada em mãos. Meu poder, minha arma e minha própria vontade eram as únicas coisas que podiam me trazer sanidade.

Não. Dessa vez a voz na minha mente foi sombria e obscura, como um aço fundido por Escuridão. Era ela se manifestando em mim, em meu interior. Me aproximei o suficiente e o encarei de perto. Este nem mesmo é o corpo dele.

Apenas um movimento de meu braço foi o suficiente para cortar aquela cabeça, que rolou pelo chão. Um truque barato feito para me enganar, zombar da Rainha Caída que precisava despertar.

— Ninguém brinca com meus sentimentos. — Declarei por fim quando um raio cortou o céu e iluminou ainda mais o local por conta do teto de vidro.

Bastou apenas que eu piscasse para que Escuridão se fosse. No momento em que ela me tomou, todos os meus poderes retornaram. Também foi ela quem barrou aquela ilusão horrenda que tinha a pretensão de quebrar todo o meu coração.

A Rainha das Chamas IOnde histórias criam vida. Descubra agora