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Já faz quinze dias que estávamos viajando. Parando em bares e hotéis de beira de estrada, resolvendo um caso aqui, outro ali. Estava cada vez mais confortável com a presença dos irmãos. Dean me irritava e me atraía na mesma proporção, mas continuo me mantendo afastada do perigo. Quanto a Sam, ele tem se mostrado uma ótima companhia. Arrisco-me até em dizer que, estou gostando de tê-lo como amigo.

Em uma noite, em um hotel qualquer, na cidade de Arkansas, acordo com um barulho no lado de fora. Dean e Sam dividiam uma das camas, enquanto eu ficava com a outra. Tivemos que dividir o quarto, pois era o único disponível. Vejo que os irmãos ainda dormem então levanto-me devagar para não acordá-los. O quarto era invadido por uma luz fraca que vinha dos postes na rua, então consigo chegar até a janela, sem tropeçar em nada. Abro a cortina apenas um pouco para eu conseguir espiar o movimento externo. Segurando firme a minha adaga, busco por qualquer coisa suspeita, avisto dois homens rindo e conversando alto, mas eram humanos. Estava tão concentrada que nem percebi que Sam havia acordado e já estava de pé. Tomo um susto quando ele acende a luz.

- O que está fazendo acordada a essa hora? - pergunta baixo rindo da minha cara assustada

- Acordei com um barulho - disse relaxando e rindo também - Mas são apenas dois idiotas bêbados na máquina de gelo. Desculpa se te acordei!

- Não, tudo bem! - diz abrindo uma garrafa de água e sentando em umas das cadeiras da pequena mesa - Eu tenho dormido pouco mesmo.

- Como tem se sentido? - pergunto também sentando em uma cadeira no lado oposto e largando a minha adaga sobre a mesa

Sam conta-me o quanto está com medo de se tornar um monstro. Dean havia contado a ele que o pai deles havia feito um último pedido. Proteger Sam e se fosse necessário, precisaria matá-lo. Sam ficou transtornado com isso, eles discutiram, ficaram até sem se falar durante uns dois dias.

- Sam, você é umas das pessoas mais gentis que eu já conheci - falo com sinceridade - Acho impossível você ser um monstro

Ele apenas sorri, agradecendo silenciosamente pelo apoio.

- Escuta s/n, até hoje não falamos sobre o que aconteceu em Providence - diz Sam - Quer conversar sobre isso?

Respiro profundamente, lembrando do ataque de pânico que tive e que Sam presenciou

- Na verdade, não - Falo brincando com os meus dedos sobre a mesa - Não quero falar sobre isso! Foi um ataque de pânico que eu não tinha a pelo menos um ano. E prefiro não tocar mais nesse assunto.

- Tudo bem! Estarei aqui se precisar!

- Obrigada! E você? Quer falar sobre o seu pai?

- Não! Na verdade, também não quero falar sobre isso! - ele fala sorrindo e logo voltando o seu olhar ao irmão que dormia profundamente - Papai sempre jogou tanta responsabilidade nas costas do Dean!

- A infância de vocês não deve ter sido fácil! - falo também olhando para o Dean e imagino as dificuldades que os dois devem ter enfrentado.

- Nem se quer tivemos uma! Mas para o Dean foi pior. - sorri amargo - Muitas vezes o papai saía para caçar e nos deixava sozinhos no quarto do hotel. Dean cuidava de mim, mas não tinha ninguém que cuidasse dele.

Aquilo me acertou em cheio. Olhar aquele homem corajoso, impulsivo, forte... E saber que um dia ele foi uma criança sozinha, obrigada a amadurecer tão cedo e agir como um adulto, era muito triste.

- Sabe, eu também não tive uma infância normal - falo ainda olhando o homem que dormia - Fui criada por pais adotivos e completamente malucos. Não tive amor, fui educada em casa, não tive contato com outras crianças. Eu não podia fazer nada, além de ler livros que passariam muito longe da sessão infantil.

Meus pais adotivos eram satanistas, nunca me deram amor e consideravam este, um sentimento para os fracos. Ficava vinte quatro horas trancada em casa, lendo livros sobre inferno, demônios, cultos satânicos, latim e outras línguas...
Ouvindo meus tutores dizendo, sempre que podiam, que estavam fazendo um grande favor ao me abrigarem e que um dia seriam recompensados pelo sacrifício. O pior foi quando perceberam que, mesmo sendo criada para o mal, o meu coração era bom. Viviam falando que eu era assim por causa da minha mãe. Que ela era tão pura e boa, que passou isso para mim, como se fosse uma doença. Quando completei dezoito anos - na véspera da minha iniciação no culto satânico - Eu fugi! E aí percebi que, sendo filha biológica, de quem eu era, jamais teria paz.

- O que aconteceu com os seus pais de verdade?

- Minha mãe morreu no parto e meu pai... É um monstro!

Depois de alguns minutos em silêncio, Sam resolve mudar o assunto incômodo sobre nossas infâncias não vividas.

- Essa sua adaga é incrível - diz notando o objeto sobre a mesa - posso? - pergunta sinalizando que gostaria de pegá-la.

- Claro! Pode pegar!

Sam segura a adaga com todo cuidado, como se estivesse segurando uma joia valiosa.

- Ela é muito bonita! - fala passando os dedos sobre as inscrições gravadas no cabo - É Latim? O que significa Bellator lucis?

- Guerreira da luz - respondo sorrido com a admiração que Sam mostrava pela arma

- Nossa! Que incrível! - exclama, virando a peça em sua mão, notando que do outro lado havia uma inscrição diferente. - E essa aqui, o que significa? Amor noster vicent

Meu sorriso se desfaz aos poucos, sentindo o peso daquela frase, lembrando o quão mentirosa ela é, e o quanto ela significou um dia.
Depois de alguns segundos, Sam me olha, aguardando uma resposta.

- O nosso amor vencerá! - respondo com um fio de tristeza no olhar

- Parece ser importante! - fala me devolvendo o objeto

- É! Já foi! - Olho a frase gravada na adaga - Foi um presente! - sorrio sem humor - O amor não venceu afinal!

- O que aconteceu?

- Não sei! A julgar pelo que aconteceu comigo... - falo levantando - Deve estar morto!

Dean se meche na cama, aproveito a distração e digo ao Sam que irei tentar dormir mais um pouco. Ele não tenta perguntar mais nada, apenas diz que ficará acordado e que chamaria se visse qualquer coisa suspeita.

Deito-me de costas para os irmãos e logo deixo o sono me invadir, levando embora todas as memórias ruins que foram despertas agora a pouco.

Deito-me de costas para os irmãos e logo deixo o sono me invadir, levando embora todas as memórias ruins que foram despertas agora a pouco

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