XIV.

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MARYANN 'MARY' B. | VANCE HOPPER.
6 MESES ANTES.

    Eu e Vance estamos juntos há cerca de um mês.
    Minha mãe e ele se deram tão bem que eu perguntei a mim mesma se eles já se conheciam.
    Ela gostou dele de imediato.
    Ela nunca gostou de nenhum namorado meu. Nenhum.
    Minha mãe mandou que meu pai comprasse outra mesa, uma com um lugar a mais para Vance.
    Ele obedeceu.
    A mesa chegou ontem e aqui estamos: conversando sobre qualquer coisa que passar por nossa mente.
    Nosso pai não está em casa.
    — Ah, cara. Você precisa assistir O Exorcista. É o melhor filme da década!
    — Vance, é para maiores de 14 anos. — Comento, o repreendendo.
    — Meu pai não me deixa assistir filmes de terror. — Comenta Finney, visivelmente triste.
    — Eu não estou vendo seu pai aqui. — Rebate Vance.
    Finney sorri.
    Seu sorriso se dissipa quando ele olha para nossa mãe.
    — Mãe... ?
    — Assista... Ninguém vai deitar na minha cama de madrugada quando estiver morrendo de medo.
    — Eu não vou "morrer de medo".
    — Ah, vai sim. — Afirma Vance rindo.
    — Não vou não.
    — Não vai, ele está crescendo. — Digo.
    — Ele vai se cagar de medo.
    — O linguajar, Vance. — Eu e minha mãe repreendemos uníssono.
    — Desculpa.
    — O filme vai passar daqui a 15 minutos no canal 27, tem certeza de quer assistir?
    Finney parou para pensar um momento.
    — Tenho.
    — É. Ele vai se cagar todo.
    — Vance! — Dou um tapa em seu ombro. — Eu aposto 10 dólares que ele não vai sentir medo.
    — Eu aposto 10 dólares que ele vai sentir medo. — Diz Vance.
    — Fechado. — Apertamos nossas mãos.
    Quinze minutos depois, lá estávamos. Assistindo O Exorcista.
    Finney havia se deitado em um canto do sofá. Me se deitei no meio e Vance do meu lado direito.
    Havia um lugar vago ao lado de Vance, porém minha mãe avisou que iria dormir, e assim fez.

    Passaram-se cerca de uma hora de filme.
    Finney estava morrendo de medo.
    Me estiquei até a mesa e peguei a carteira de meu pai. De lá, tirei 10 dólares.
    Discretamente, entreguei o dinheiro à Vance. Não quero que Finney se sinta envergonhado.
    Vance riu baixo e beijou minha têmpora.
    Um barulho de uma porta chamou a minha atenção e de Vance, nos viramos para trás.
    Os olhos de Finney estavam grudados na televisão.
    Gwen saía de seu quarto, completamente enrolada em seu cobertor.
    — Mary... — Sussurrou ela.
    — Oi, meu bem?
    — Eu tivesse um pesadelo.
    — Eu gostaria de te convidar para se deitar conosco, porém eu acho que será aí que você terá pesadelos de verdade. — Diz Vance.
    — Eu não vou ver o filme, juro. Só quero companhia...
    — Tá, tá. Venha. — Chamei a garota com a mão.
    Ela andou lenta até nós, se deitando ao lado de Vance.
    Vance não sabia como reagir à presença da garotinha.
    Ela apoiou sua cabeça no peito de Vance.
    Eu havia conversado com ela há um tempo.
    Ela tinha muito medo dele.
    Contei para ela como ele realmente era.
    Ela viu esse lado de Vance.
    O lado bom.
    Gwen não tem mais medo de Vance.
   
    Vance, sem saber o que fazer, o mais devagar possível, colocou seu braço sobre os ombros da garota, a abraçando, assim como está fazendo comigo.
    Sorrio.
    — Você está parecendo um pai de família... Um pai bom. — Sussurro em seu ouvido.
    — Talvez da nossa família. — Ele sussurra de volta e me beija.
    Rio baixo.
    O coração acelerado.

   

    — Vou ter pesadelos durante sete décadas. — Diz Finney se levantando.
    — Vance avisou você. — Diz Mary.
    — Eu avisei você! — Reforço.
    — Vai, vá dormir. — Mary beija a cabeça de Finney. — Boa noite. Eu te amo.
    — Eu te amo. — Finney retribui um abraço, claramente sonolento.
    Mary desliga a TV.
    — Merda, ela dormiu mesmo. — Digo.
    Ela joga o controle ao meu lado, o deixando em cima do sofá.
    — Hm... Tive uma ideia. — Mary tira o cobertor de cima da garota. — Carregue ela.
    — Você está brincando com a minha cara?
    — Não, vai! A gente precisa acordar cedo amanhã.
    — Tá bom, tá bom. — Me abaixo e seguro a menina em meus braços.
    Ela não é nem um pouco pesada.
    Mary segue em nossa frente, abrindo a porta do quarto da garota.
    A coloco na cama com o maior cuidado possível.
    Mary cobre a garota com o cobertor e beija sua testa.
    Me levanto e saio do quarto. Volto ao perceber que Mary não me seguiu.
    Ela está parada ao lado da garota, a observando dormir.
    Há um sorriso em seu rosto.
    Ela não mostra seus dentes, mas é um sorriso verdadeiro.
    Mary olha para seus irmãos como se eles fossem parte das sete maravilhas do mundo. Olha para eles como se eles fossem os filhos que ela nunca teve.
    Como se fossem as coisas mais importantes do mundo.
    Talvez fossem de fato.
   
    — Você fica linda sorrindo. Mais perfeita que o normal. — Sussurro para não acordar Gwen.
    Mary me beija.
    Seu sorriso aumenta.
    Ela me abraça e então me puxa para fora do quarto.
    Mary se vira de costas para mim.
    Abraço sua cintura.
    Tiro o cabelo de seu pescoço e o beijo.
    Ela fecha a porta de seu quarto e a tranca assim que entramos.
   
    Mary liga o som.
    Put Your Head On My Shoulder.
    — De novo? — Pergunto sorrindo.
    Ela afirma com a cabeça, sorrindo.
    "Me segure em seus braços"
    Mary remexe seus ombros devagar, me convidando para perto.
    Aceito o convite de bom grado.
    Abraço sua cintura.
    Ela abraça meu pescoço.
    "Coloque seus lábios perto dos meus, querida."
    Ela aproxima nossos lábios. Eles se tocam levemente, mas ela não me beija.
    Tento beijá-la, ela desvia rindo.
    Rio, fingindo estar indignado por ela ter recusado meu beijo.
    Ela coloca sua cabeça em meu ombro.
    Permanecemos ali.
    Dançando.
    Os corpos colados, sorrisos em nossos rostos.
    Beijos delicados e lentos.
   
    Amo ficar perto dela.
    Amo beijá-la.
    Amo passar tempo com ela.
    Amo pensar nela.
    Amo falar com ela.
    Amo como me sinto perto dela.
    Amo dançar com ela.
    Amo como ela cuida de seus irmãos.
    Amo seu jeito de mãe.
    Amo sua inteligência.
    Amo sua gentileza.
    Amo sua confiança.
    Amo seu corpo, mesmo com todas as imperfeições que ela afirma ter.
    As estrias já brancas em sua cintura.
    Aquela barriguinha sobrando.
    As unhas pequenas roídas pela ansiedade.
    Tudo.
    Amo todos os seus fios de cabelo.
    Amo cada centímetro de sua pele.
    Eu amo ela.
    Eu amo ela?
    Sim.
    Ali.
    Em seu quarto.
    A garota de meus sonhos em meus braços.
    Lembrei-me da música que vinha em seguida.
    Can't Help Falling In Love.
    O maior sorriso possível apareceu em meu rosto.
    Eu segurava o seu rosto.
    Seus olhos brilhavam, olhando no fundo dos meus.
    Ela estava esperando para que eu a beijasse.
    Eu sorri.
    Eu sorri e a beijei.
    Ali.
    Ali eu percebi que a amava.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora