XXX.

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Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, Mary e Vance temiam por suas vidas.

Os dois acabaram de apanhar, pois quebraram a janela do cômodo.
Seus corpos ardiam e tremiam.
Sentiam que a qualquer momento desmaiariam.
Agora havia um corte no rosto de Mary, de sua testa até sua bochecha.
Seus corpos estavam fracos.
As pernas quase cedendo.
Mary se sentou no colchão. Não aguentava mais ficar em pé.
Vance se sentou ao lado dela. Uma de suas mãos segurou a coxa da garota, tentando a manter por perto.
O calor de Mary esquentava o corpo de Vance.

Haviam se passado cerca de 2 horas.
Seus corpos não doíam tanto quanto antes.
Já estava de madrugada.
Eles não conseguiam dormir.
Estavam sentados no colchão, as costas em contato com a parede fria.
Vance envolve a cintura de Mary com um de seus braços e a puxa para perto.
- Está preocupada? - Questiona Vance.
- Um pouco.
- Ele não vir aqui tão cedo. O mascarado não vem nos ver de madrugada. Ele está bravo conosco. Não quer nos ver.
- Você... Você está certo. - Mary tanta se convencer disso.
O garoto pega a mão de Mary, ela está quente. A dele, por sua vez, está fria como gelo.
Mary permite-se encarar Vance enquanto ele traça as linhas de sua mão.
A garota usa a blusa de frio de Vance.
É a semana dele de usar blusas de frio.
O mascarado escolhe se você merece passar frio ou não.
Ele escolhe se você merece comer ou não.
Albert escolhe se você merece viver ou não.
- Na última vez que o vimos, ele usava uma máscara sem aqueles sorrisos. Não havia boca.
- Sim. Qual o problema? Acho que ele tem alguma coisa com máscaras.
- Você percebeu que ele tem comportamentos diferentes? Seu comportamento se encaixa com a máscara que ele está usando.
De repente, um estalo ecoou na cabeça de Vance.
Agora, tudo fazia sentido.
- Verdade, verdade! - Ele ficou se ajoelhou no colchão, virado para Mary.
- Quando ele me... - A língua da garota enrolou. Um arrepio percorreu seu corpo. - Hm... Ele usava aquela máscara sorrindo.
- Quando ele usa a máscara triste, ele dá mais atenção para mim.
- Quando ele nos espancou, ele usava a máscara sem boca.
Mary e Vance se encaravam.
Muitas de suas dúvidas foram respondidas naquele momento.
Então, eles criaram nomes.

O Perigo. - Atraído por Mary.
O Psicopata. - Um desgraçado sem empatia.
O Triste. - Atraído por Vance.

Notaram que o mascarado que se sente atraído por Mary é mais perigoso do que o que se sente atraído por Vance.
O Perigo precisa sentir o poder. Precisa dominar a situação.
O Triste gosta de estar por perto de Vance. Ele não é tão violento quando O Perigo, mas ainda assim não é digno de confiança.
O Psicopata não vai pensar duas vezes antes de acabar com você.
NUNCA O IRRITE.

- Acabamos de apanhar do Psicopata.
- Sim... Nós precisamos atacar quando O Triste estiver dominando o corpo.
- Você está certo. Ele é o menos violento.
Um silêncio absoluto se instalou no cômodo depois daquela frase.
Não havia o que dizer.
Estavam "juntos" novamente, mas completamente separados.
Completamente sozinhos.
- Desculpa por terminar com você. - Mary cospe as palavras.
- Ah...
Mary sabia que ele não queria falar sobre aquilo, mas ela queria. Ela precisava.
- Eu tive um sonho algumas semanas antes da minha mãe morrer. Nesse sonho, eu via flashs de sua morte, e depois, como o nosso relacionamento ficava. Não nos amávamos mais. Se amávamos, não sabíamos demonstrar.
Vance a olha confuso e triste. Não sabe como reagir.
Ele sabia haver algo errado, mas não fazia ideia do quê.
- Eventualmente, nós só nos encontrávamos para "dormir" juntos. Eu sempre ligava para você às cinco da manhã, e você sempre ia. Até que... E-Eu bati em você.
- Você o quê?
- Você havia dito algo como: "Você precisa superar isso". Eu reagi da pior forma... Eu tentava atingi-lo novamente. Você segurou meus pulsos e me segurou contra a cama, tentando me acalmar. Acabou me machucando.
- Mary, eu nunca... Você nunca faria isso.
- Não, Vance. E se eu fizesse? Eu estava com muita raiva naquele maldito sonho.
- Amor, foi um sonho. Só isso.
- Só um sonho?
- Sim.
- Eu tinha tanto medo que isso acontecesse com a gente. - Diz ela. A amargura entope suas veias. O frio do cômodo a faz arrepiar.
- Ah, Mary... - Ele não sabe o que dizer para consolá-la.
Vance a envolve em seus braços.
- Eu sabia que você queria me proteger de algo.
- Eu queria te proteger de mim. - Revela.
A frase faz o peito de Vance doer.
- Eu havia me tornado um monstro. Eu tinha medo que você realmente me enxergasse como um.
Mary abraçou a cintura do garoto.
- Eu nunca te enxergaria como um monstro. Mary, você não é um! - Ele beijou sua cabeça.
- Vance...
- Mary, você não é um monstro.
Ele a apertou forte.
As palavras soavam vazias na cabeça de Mary.
Ela tentava se convencer de que aquilo era verdade, mas não conseguia.
Sempre se culparia.
Sua mãe havia se suicidado por sua culpa.
Seu pai havia se enterrado nas bebidas por sua culpa.
Seu relacionamento com Vance havia acabado por sua culpa.
Tudo era sua culpa.
- É minha culpa. - Ela sussurra. A voz baixa, trêmula.
Vance poderia dizer qualquer coisa, mas nunca mudaria nada.
Não havia nada há ser dito.
Vance sabia que Mary precisava de seu silêncio.
Sabia precisar estar ali por ela.
Consolar Mary não era necessariamente difícil. Com o tempo, ele se tornou ótimo nisso.

Vance a puxou para perto.
A garota se deitou entre suas pernas, a cabeça em seu peito.
- Eu estou aqui, Mary.
- Eu sei. - Ela diz, a voz fraca.
Mary move sua cabeça para cima, para olhar Vance.
O garoto a olha curioso.
Mary pensa em todo o tempo que passou longe dele.
Ela não aguentava mais.
- Você sabe o que eu vou dizer, não sabe? - Pergunta ela.
- Sei. - Ele sorri.
- Eu vou dizer mesmo assim.
Mary se levantou e ficou de joelhos na frente de Vance, se esticando sobre ele. Uma mão em cada lado da cintura do garoto. Os joelhos atrás de suas coxas.
- Me beija.
Vance sorri e leva suas mãos ao rosto da garota.
Mary sorri levemente.
Ele a beija, afável.

As mãos frias de Vance seguram a cintura nua de Mary, por baixo de sua blusa.
A garota arfa por conta dos arrepios que sentiu.
- Está fria, não está? - Questiona.
Ela assente com a cabeça.
- Mas não tem problema.
- Eu posso... - Ele afasta suas mãos.
- Não, não. - Ela o impede.
Vance sorri, provocativo.
Sabe que Mary precisa de seu toque.
Ele a faz relaxar, por mais que ela odeie isso.
- Eu espero que ele não nos pegue aqui. - Diz Vance, ofegante.
- Eu meio que espero que ele nos veja. - Revela Mary.
Vance sorri e a beija novamente.

Pensavam um no outro, mesmo que estivessem no porão de um homem com três personalidades há mais de 3 meses.
Três personalidades.
Três meses.
Irônico, não?

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora