LXI.

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ALBERT SHAW.
33 ANOS ANTES.

    Ele finalmente me solta.
    Me sinto paralisado.
    Simplesmente não consigo me mexer.
    O homem de cabelos castanhos avermelhados se afasta e levanta-se. Tento me levantar, mas não tenho forças.
    Há lágrimas secas e ainda líquidas.
    Há sangue.
    Estou zonzo.
    Posso ouvir o som de seu cinto se fechando.
    Abraço meu próprio corpo. Posso sentir meus ossos. Estou faminto há horas.
    Sinto fome. Sinto dor. Muita dor.
    Fui rasgado por dentro. Inteiramente aberto.
    Ele sai do cômodo. Consigo ouvir a porta se fechar, tremo ao ouvir o som estridente.
    As luzes se apagam. Minha visão tenta se acostumar com a falta de iluminação.
    Com o tempo, me acostumei, mas jamais vai parar de doer.
    Uma luz entra pela pequena janela. Brilha em meus olhos e me lembra de que estou vivo.
    Sinto-me morto. Belisco meu braço para conferir.
    Sim, estou vivo. Isso é sinceramente pior.

    São pessoas diferentes.
    Com o tempo, decorei tudo sobre eles. Menos seus nomes.
    O homem que saiu daqui tem aproximadamente 1,77 de altura, entre 35 e 50 anos e possui olhos verdes.
    O outro tem cerca de 1,85 de altura. Tenho certeza que ele está na faixa de seus 50 anos. Seu irmão costuma dizer que ele viveu durante meio século.
    Depois de anos, perdi minha fé.
    Eles dizem que eu deveria orar. Mas honestamente, isso é besteira.
    Se Deus realmente existisse, eu não estaria aqui, porque eu sei que não mereço.
    Se Deus realmente existisse, teria piedade.
    Eu orei, mas ele não ouviu.

    Me levanto.
    Puxo minhas calças para cima e fecho o zíper.
    Não consigo me sentar. Dói demais.
    Dói e eu não posso fazer nada.
    Tudo o que posso fazer é lidar com tudo isso.
    Há dias em que não sinto meu corpo.
    Há dias em que simplesmente não vivo.
    Há dias em que não me lembro de nada, e quando acordo, tudo a minha volta está diferente.
    Pratos e garrafas quebradas, arranhões nas paredes e sangue no chão.
    Eu não me lembro de ter feito tais coisas.
    Não foi eu. Foi outra pessoa.
    Essa outra pessoa é... maligna.

   
    Horas se passaram.
    Estou encolhido. As costas na parede e meus braços segurando minhas pernas.
    Não sei a quanto tempo estou aqui, mas tenho noção de que é muito tempo.
    Minhas lágrimas já se secaram, mas as sinto petrificadas em meus olhos.
    Minha garganta está doendo, cansada de lágrimas e lágrimas e lágrimas e nada de água para beber.
    Encaro o telefone ao meu lado esquerdo.
    Nunca tocou.
    Está quebrado.
    O chamo de "ponto fixo".
    Há vezes em que o homem está por cima de mim e tudo que eu consigo olhar é ele. O telefone.
    Tentei usá-lo, mas sua linha foi cortada.
    Fecho meus olhos.
    Por um momento, jurei que ele tocou.
    Cobri meus ouvidos, tentando abafar os sons de minha mente.
    Mas não são.
    Não são de minha mente.
    Abro meus olhos.
    O telefone está tocando.
    Me levanto o mais rápido que eu posso.
    Meu corpo está dolorido, mas me obrigo a ficar de pé.
    O tiro do gancho, depois o colocando em meu ouvido.
    — Alô? Alô? — Chamei. — Há alguém aí? Preciso de ajuda! — Gritei.
    Ninguém respondeu.
    Chamei novamente e nada.
    Não havia ninguém.
    O ouvi desligar.
    Afastei o objeto de meu ouvido, completamente confuso.
    Talvez seja só a estática.
   

    Há dias ouvi os dois conversando. Conversavam enquanto eu fingia estar dormindo.
    O mais baixo — talvez mais novo — revelou que vai fazer uma rápida viagem. "Acho que irei daqui uns 5 dias" — avisou.
    Desde o dia em que ouvi isso até agora completaram 5 dias. É hoje.
    Ele voltará apenas de noite.
    Essa é a única chance que tenho de escapar.
    Durante anos tentei escapar.
    Durante anos arquitetei planos e planos e planos e planos, todos falharam, todos eram imperfeitos.
    Mas não hoje.
    Planejei tudo durante os 5 dias.
    É o plano que mais me parece seguro, de todos.
    Todos esses anos, fiz planos onde apenas fugia. Mas nesse... eu o mato.
    Talvez esse seja o porquê dos outros não terem funcionado. Não havia sangue.
   
    Todo esse tempo, estive construindo esse plano.
    Falhando e o melhorando.
    Executando planos imperfeitos para então, executar esse.
    E nesse plano, eu finalmente escapo.
    Todo esse tempo, estive construindo esse plano. Estive o construindo para eles.
    Tudo o que quero fazer é sair daqui.
    Não quero chamar a polícia ou qualquer coisa.
    Tudo o que quero é vingança.
    E essa vingança eu planejarei com o tempo.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora