XIX.

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Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, Vance observava Maryann chorando.
 
    O garoto estava sentado ao seu lado.
    Havia acordado há 2 horas.
    Havia percebido que Mary estava chorando há 2 horas.
    Estava ao seu lado há 2 horas.
    Estava esperando que ela parasse de chorar há 2 horas.
    Mas ela não parou.
    Não conseguia.
    — O que aconteceu? — Ele perguntou novamente, a voz trêmula.
    Ela não respondeu.
    A garota soluçava e tremia.
    — Eu posso ajudar?
    Mary reuniu suas forças e se sentou.
    Os olhos se abriram devagar, estavam vermelhos e inchados.
    Sua respiração estava desregulada.
    A primeira reação da garota foi se jogar nos braços de Vance.
    Seu único apoio.
    — O que aconteceu?
    Vance nunca esteve tão angustiado.
    — Me conte, por favor.
    Lágrimas começaram a surgir em seus olhos.
    O que poderia ter acontecido para que Mary chorasse tanto ao ponto de não conseguir falar?
   
    Vocês estão sozinhos, Mary.
    Você está segura.

    A garota se afastou.
    — Respire fundo. — Disse ele respirando para mostrar a ela.
    Ela o imitou.
    A garota levou suas mãos até seu rosto e o secou.
    Mary segurou a barra de sua blusa e a tirou.
    Vance estranhou o ato da garota, porém não demorou 10 segundos para ele entender.
    Havia uma marca de uma mão em seu sutiã.
    Havia uma marca de uma mão em sua cintura.
    Haviam marcas por todos os lugares.
    — Mary... — Ele lamentou.
    Não conseguia mais disfarçar sua tristeza.
    Não havia o que dizer.
    Nenhuma palavra que ele dissesse que a confortaria.
    Nada que ele fizesse a confortaria.
    Aquilo estava além de seu controle.
    A garota o abraçou novamente.
    — Sinto muito. — Ele sussurrou. — Quando isso aconteceu?
    — V-você... Você estava dormindo.
    — Sinto muito.
    Se ele estivesse acordado poderia ter impedido.
    Você poderia ter impedido, Vance.
    Vance precisava chorar.
    Vance precisava desabar, mas não podia deixar nada sair de seus olhos.
    Não podia chorar.
    Precisava ser forte.
    Precisava fingir ser forte.
    Precisava estar ali para Mary caso ela precisasse.
    Precisava que ela estivesse ali para ele, caso ele precisasse.
   

    Mary não conversou não Vance o dia inteiro.
    Simplesmente não conseguia.
    Sua língua enrolava quando ela tentava dizer algo.
    Seu estômago se revirava quando ela olhava para ele... Especificamente para seus olhos.
    Eram azuis.
    Os olhos do mascarado também eram azuis.
    Tudo a lembrava dele.
    Em qualquer lugar.
    Ele estava por toda parte.
    Ele estava no teto.
    Ele estava nas paredes.
    Estava no colchão que ela se deitava.
    Estava em suas roupas.
    Estava na comida que ela devorava.
    Estava em seu corpo.
    Seu corpo.
    "Seu" corpo.
    Estava em "seu" corpo.
    Mary correu até a privada e vomitou tudo o que conseguia.

   
    Vance assistia do outro lado do cômodo Mary o olhando.
    Ela já não chorava.
    Seus olhos estavam vermelhos. Muito vermelhos.
    Ela a encarava como se quisesse matar alguém.
    Ele também a encarava assim.
    A quem queria enganar?
    Vance estava pronto para matar ele, mas não possuía um plano.
    Ele preferiu ficar quieto. Se algo desse errado, ele não poderia tentar no dia seguinte como na escola. No dia seguinte, ele estaria morto.
    A porta foi destrancada.
    Mary se levantou o mais rápido que conseguiu.
    O ar fugiu de seus pulmões.
    Seu coração disparou.
    Uma sensação de formigamento a perturbava.
    Vance se levantou e correu até ela.
    Ele se colocou à frente da garota e se virou para a porta.
    Ela se abriu devagar.
    — Trouxe o jantar de vocês, suas pestes. — O homem avisa com desgosto.
    Vance e Mary sentiram vontade de vomitar.
    Ele colocou os pratos no chão e as garrafas ao lado deles.
    — Se eu fosse vocês, eu comeria. Não sei quando vocês comerão novamente.
    — Por quê? — Perguntou Mary se colocando a frente de Vance.
    Ele segurou sua mão, não permitindo que ela se aproximasse do homem.
    — Há uma pessoa lá em cima que vai ver se você descer?
    — Não. — Ele fez pouco caso.
    — Ela vai ouvir se eu gritar?
    — Não, ela não vai. Não com a porta fechada.
    Ela.
    Mary apertou a mão de Vance.
    — Há isolamento acústico. Grite se quiser. Você só se cansará.
    Ele fechou a porta.
    Mary se virou para a janela. Talvez fosse possível.
    — Socorro! — Gritou o mais alto que pôde.
    — Socorro! — Vance a acompanhou.
    Eles gritaram por vários minutos sem parar.
    O mascarado estava certo. Eles apenas se cansaram.
    — Porra! — Vociferou Mary.
    — Não vai funcionar. — Concluiu Vance, a garganta dolorida.
    Eles se sentaram na frente dos pratos.
    Estavam cansados e com fome.
    Com o tempo, aprenderam a aproveitar a comida.
    Nas primeiras 3 semanas, eles devoravam a comida. Tomavam a água o mais rápido que conseguiam.
    Depois, aprenderam que eles não sabiam quando comeriam novamente.
    Agora eles comem a comida devagar, a aproveitam.
    Quando terminam de comer, eles juntam os pratos e os colocam no canto do cômodo.
    Eles se sentam no colchão e tomam a água conforme o tempo.
    A comida era ruim, mas estava pior.
    Havia um gosto metálico e indescritível nela.
    Havia algo de errado com a comida.
   
    Mary havia comido há alguns minutos.
    Seu corpo estava estranhamente mole.
    Mary estava tensa, mas em uma parte, estava aliviada.
    Agora, Mary tinha certeza que o homem não incomodaria Vance.
    Ela tinha certeza que Vance não fazia seu "tipo".
   
    Se Mary soubesse que Albert não possuía preferência de gênero.

    Vance se levantou e caminhou até Mary.
    A garota estava encolhida e encostada em uma parede.
    Ele se sentou ao lado dela.
    Mary se obrigou a colocar sua cabeça em seu ombro.
    — Se sente melhor? — Perguntou ele.
    — Não. — Respondeu ela, sincera. Talvez parecesse rude, mas não se importava. — Eu acho que apenas estou mais leve. Acho que simplesmente descarreguei o que precisava. Não chorei apenas por ontem, chorei por muitos motivos.
    Vance conhecia todos os motivos.
    — Esquecemos de anotar o dia. — Ela comenta.
    — Verdade.
    Ela se levanta e Vance a segue.
    A garota caminha até o "banheiro".
    Ela se vira para a tampa da garrafa e a ela pega.
    A garota risca o dia.
    — Impossível. Isso é impossível, Mary.
    — Não. Eu contei as semanas, dias, horas, muitos, minutos e segundos.
    — Cinquenta e nove dias?
    — Cinquenta e nove dias, 18 horas e 47 minutos.
    — Não.
    — Vance.
    — É impossível, Mary.
    — Não é. Você perdeu a noção dos dias... — A garota diz, a voz cansada e fraca.
    Uma sensação de falta de ar perturbava Vance.
    Mary segurou em sua mão e o puxou para se sentar no colchão.
    — Você está bem? — Ela perguntou.
    — Hm... Sim. Estou bem. É só... Uma falta de ar.
    A frase "falta de ar" fez com que Mary notasse que também sentia falta de ar.
    A garota levou as costas de sua mão até sua testa.
    Ela suava.
    — Ei... Você está sentindo calor? — Questionou.
    — Sim. — Confirmou Vance.
    Mary se levantou devagar.
    Algo estava muito errado.
    Errado demais.
    A garota sentia sua respiração falhar.
    Vance se levantou.
    — Eu... Eu não estou me sentindo bem. — Comentou Vance, a voz trêmula.
    — E-Eu também não... — Respondeu Mary.
    Vance a segurou para se manter em pé.
    Suas pernas estavam moles.
    Ele segurou seu rosto e tentou olhar em seus olhos.
    A visão do garoto estava distorcida, assim como a de Mary.
    Ela tentou dar um passo em sua direção, mas suas pernas falharam.
    Vance colocou seus braços ao redor da cabeça da garota para que ela não de machucasse.
    Os dois caíram no chão gelado, mas não sentiram nada.
    O ar gelado ainda saía da parede, gelando a cabeça dos dois.
    Estavam delirando e vendo tudo duplicado.
    Seus lábios e línguas formigavam.
    Não eram mais capazes de controlar seus próprios corpos.
    Ao fundo, a porta foi aberta novamente.
    O mascarado andou até os dois e se abaixou por cima de Vance.
    Ele se virou para Mary, a garota já estava apagada.
    O homem segurou seu rosto e o obrigou a olhar em seus olhos.
    A imagem do homem por cima de Vance o irritou, mas ele nem conseguia se mexer.
    Seu corpo estava pesado.
    A máscara do homem agora apresentava um sorriso enorme.
    Vance sentiu seu corpo queimar.
    O homem o olhou de cima a baixo e riu alto.
    Sua risada se repetia várias vezes na mente de Vance.
    O garoto tentava se manter acordado, atento, mas suas pálpebras pesavam assim como todo o seu corpo.
     Vance Hopper apagou.

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                           Recado

    Gente, eu criei um Instagram para mim mesma, porém como escritora.
    O TikTok vem tirando o som dos meus vídeos sobre as histórias. Isso estava me irritando bastante, então eu criei um Ig. Ele é privado, mas eu aceitarei as solicitações.
    O TikTok é @lily.write
    O Instagram é @lil.ywrite
    Eu ficaria muito feliz se vocês me seguissem nos 2.
    Eu vou postando edits nas 2 contas.
    É isso, muito obrigada!
   

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora