Epílogo IV

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Rᴏʙɪɴ ᴇ Fɪɴɴᴇʏ hesitaram em levantar da cama naquela manhã.

    Os dois rolaram de um lado para o outro, sonolentos.
    Terrance pegou uma maçã e caminhou até o quarto de Finney, batendo algumas vezes na porta, depois a abrindo.
    — Filho? Está na hora de se levantar. — Anunciou, encarando Finney com sua cabeça apoiada no peito de Robin.
    O garoto se sentou na cama, quase caindo para trás.
    — Pai, eu posso fal...
    — Não. — Respondeu, o cortando e saindo do quarto.
    — A. — Murmurou, antes de virar-se para Robin. — Ei. — Ele o cutucou.
    — Hm. — Ele resmungou, se virando de costas para Finney.
    O garoto observou as costas nuas de Robin antes de se levantar.
    — Se você não levantar, não vou deixar você dormir aqui hoje a noi... — Ele retornou a olhar para o moreno. O mesmo estava parado, em pé, do outro lado da cama.
    — Desculpe, o que estava dizendo?
    — Nada, nada. — Finn riu, virando para seu armário.
    As roupas de Robin estavam misturadas com as de Finney, misturando também seus perfumes.
    O moreno se aproximou de Finn e o abraçou por trás, cheirando seu cabelo castanho e depois pousando seu queixo no ombro do garoto.
    Depois de alguns meses do dia 31 de outubro de 1979, os cabelos de Finney começaram a cair. Não caíram todos, claro, mas uma quantidade grande.
    Ele chorava todos os dias e por muitas vezes, precisava parar a si mesmo. Ou seja, Finney se dopava de remédios.
    Seu cabelo cresceu novamente, mas dessa vez, castanho. Não era escuro como o de Robin, mas era definitivamente castanho.
    Robin beijou o pescoço de Finney e disse:
    — Você está fedendo. — Ele caminhou até o banheiro.
    — O que é que você disse?! — Rebateu Finney, indignado.

    Gwen foi a última a sair de casa, logo acompanhando seu irmão e seu melhor amigo.
    Caminharam até a escola enquanto Terrance dirigia até o mercado.
    "Você está bonito, pai." Elogiou Gwen, assim que o viu.
    "Obrigado, filha." Agradeceu, contente pelo elogio de sua filha.
    A manhã do dia 7 de maio estava estranha. O céu, mais escuro do que o normal, e o vento, frio demais para o habitual.
    Havia um peso incômodo nos ombros de Terrance, pareciam puxá-lo para baixo, cada vez mais.
    Estava tendo alucinações. Quando se olhava no espelho, via sua ex-esposa atrás dele.
    Terrance estava com um sentimento ruim dentro de si. Um pressentimento.
    Não importa o que visse ou ouvisse, sempre haveria algo para lembrar a sua filha.
    Livros? Ela amava ler.
    Músicas? As ouvia durante 5 horas do dia.
    Uvas verdes? Suas frutas preferidas.
    Uma mulher ruiva? Exatamente como Mary.
    Terrance faria qualquer coisa — exceto sacrificar pessoas com quem se importava — para ter Mary de volta. Ele não poderia perder mais ninguém. Estava prestes a desabafar. Já havia perdido sua esposa e sua filha.

   
   
    Quando Finney e Robin entraram na sala de aula, sentaram-se juntos no fundo. Donna os cumprimentou, sorridente, depois se sentando à frente deles.
    A aula começou, normalmente, e horas depois, o intervalo chegou.
    Finney e Robin são os únicos que ficam na sala de aula, mesmo quando podem sair.
    Robin sabia que a presença de muitas pessoas deixava Finney nervoso. O moreno preferia passar todos os intervalos do ano ao seu lado. Mesmo se ele quisesse ficar afastado de todos.
    — Eu vou ao banheiro. — Anunciou Finney, se levantando.
    Robin assentiu com a cabeça, se virando para o livro de Finney e em seguida fazendo uma cara de nojo. Ler definitivamente não era como Robin escolheria passar o tempo.
    Finney caminhou até o banheiro, fazendo o que precisava e depois lavando suas mãos.
    Assim que o garoto saiu do banheiro, misturou-se no meio das pessoas para passar pelo corredor.
    — Ei, Finney? Tudo bem, cara? — Uma voz ecoou por cima de seu ombro.
    O moreno não precisou ouvir duas vezes para saber quem era o dono daquela irritante voz.
    Ele se virou, avistando Andrew a alguns metros de distância.
    — Andrew, eu não estou afim de brigar, beleza? — Finn deu de costas, andando para longe.
    — Por quê? Não tem a bichinha do Robin para te defender? — Indagou, insistente.
    Finney respirou fundo, colocando as mãos na cintura e encarando o chão, depois balançando sua cabeça em negação
    — Andrew, eu já disse. Eu não quero brigar.
    Àquele ponto, o corredor havia parado para assistir eles. Finney sentiu seu sangue ferver ao notar todos os olhares sobre si.
    Robin saiu da sala ao notar o alvoroço formado em frente ao seu namorado.
    Fazia semanas que Andrew estava mexendo com Finney, o irritando e provocando. Até aquele momento, ele havia aguentado tudo em silêncio.
    — Eu não quero brigar, porquê...
    — Porque a sua irmã não está aqui para te defender? — Questionou.
    Robin se aproximou, sentindo que Finney estava prestes a explodir.
    — Não faça isso.
    — Eu vou ficar bem. Vamos ficar bem.
    — Claro que vão. Por que não ficariam? — O moreno perguntou, rápido.
    — Ele vai ficar bem.
    — "Ele vai ficar bem"?
    — Sim, depois que passar por um médico.
    — Por que ele precisaria de um... — Robin não teve tempo para continuar a frase.
    Finney se virou e em segundos, havia se tornado um vulto. Um vulto que atingiu Andrew com um soco em seu rosto.
    O amigo de Andrew correu para cima de Finney, mas Robin o impediu de chegar até ele, chutando seu abdômen e o fazendo cambalear para trás.
    Joe — o amigo — tentou acertá-lo com um soco, porém Robin desviou, o acertando em sua barriga.
    Anthony virou-se para Finn. O garoto sorria, levemente feliz por ver Andrew sangrar.
    O moreno levou um soco no rosto, mas não perdeu seus sentidos, logo o agarrando pela blusa e acertando diversos golpes no rosto do garoto.
    Robin continuava brigando com Joe, a assim que conseguiu derrubá-lo, o deixando zonzo, virou-se para Finney e correu até ele.
    — Finn, pare! — Ele tentou afastá-lo de Anthony, sem sucesso.
    Finney o empurrou para longe e continuou golpeando o garoto. Quando ele finalmente caiu no chão, cuspia sangue. Havia apenas um corte no supercílio de Finn e seu punho, completamente machucado.
    Suas mãos tremiam, implorando para ele parar, mas ele não parou.
    Finney chutou a barriga de Andrew, o fazendo tossir.
    Robin o agarrou e o puxou para o chão, ficando por cima do garoto. Suas mãos prendiam os pulsos de Finney no chão enquanto ele se debatia.
    — Saiam! Saiam daqui! — Vociferou Robin, enquanto os garotos se levantavam com dificuldade.
    Finn observou os dois indo embora, correndo. Virou seu olhar para Robin, furioso.
    — Me solte!
    — Finney, você não pode bater neles! O que vai mudar se você continuar batendo nele? Ele continuará sendo um babaca. Você é o único que vai se prejudicar!
    — Quem caralhos é você para me dar lição de moral sobre brigas, Arellano? — Questionou, irritado.
    Robin continuava sem palavras, tentando digerir o que havia acontecido.
    — Agora, me solte. — Insistiu, a voz mais calma.
    O moreno saiu de cima de seu namorado, se sentando no chão. Sangue escorria de seu nariz enquanto ele tentava recuperar seu fôlego.
    Finney se levantou, arrumando suas roupas e caminhando até a sala.
    Os dois voltaram para casa antes do horário em que as aulas acabam. Estavam silenciosos e incomodados.
    Robin sabia o porquê de Finney ter feito aquilo, mas não gostaria que ele se metesse em brigas como ele fazia.
    Tudo o que o moreno queria fazer era proteger seu namorado, mesmo sabendo que Finney não precisava de proteção.
    Ambos sentaram-se na cama, de costas um para o outro, em lados opostos. Tiraram seus sapatos e ficaram minutos em silêncio.
    Não sabiam como quebrar aquela grande barreira entre eles. Ela foi construída com brigas, sangue, gritos e depois, silêncio absoluto.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora