LXV.

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Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, os garotos sentiam o vazio dentro deles enchendo-se de medo.

    Havia algo errado.
    O cabelo ruivo de Mary havia se tornado um cabelo castanho-avermelhado, o brilho natural de seus olhos havia sumido.
    O mesmo havia acontecido com Vance. Já Billy e Bruce, haviam se tornado mais rudes, porém, suas aparências não haviam mudado. Griffin não sofreu nenhuma mudança.
    Algo estava mudando conforme o tempo passava, e não havia nada que eles pudessem fazer para parar aquilo. Aquilo era a vingança.
    Foram ensinados a vida toda que vingança é algo ruim. Talvez fosse, talvez não. Eles nunca saberiam se não experimentassem um pouco.
    Vingança não é algo repentino, é algo premeditado. Deve ser aproveitado. Albert sabe disso, agora, Mary também.
   
   
    Sua respiração estava acelerada, e seu coração, mais disparado do que nunca.
    Com lágrimas em seus olhos, Finney se levantou. Olhou para o chão, as garrafas de vidro haviam se estilhaçado em mil pedaços.
    Tropeçou algumas vezes antes de andar até o corredor.
    Tinha algo diferente naquele cômodo. Algo que o assustava demais para o permitir a fala.
    Haviam sombras negras no porão. Cinco sombras, para ser exato. A cada hora elas se tornavam mais detalhadas, físicas, reais e isso o assustava cada vez mais. Estão o assistindo. Assistindo seus passos, respirações e cada batida de seu coração.
    Respirou fundo, engolindo seu choro e o medo. Dirigiu-se até o corredor e depois, até o vaso. Retirou a tampa da caixa acoplada e tentou acostumar-se com seu peso.
    O garoto andou até a parede a qual Vance havia mencionado e se ajoelhou a sua frente. O material de vítreo atingia a parede repetidas vezes, começando a quebrá-la.
    Por trás da pintura velhíssima, havia algum tipo de material que caía no chão como areia branca.
    Ficou lá por certo tempo, se cansando. Ofegante, levantou-se e caminhou até o vaso, enchendo sua mão com a água limpa da caixa acoplada, a bebendo em seguida.
    — Eca, que nojo! — Billy deu de ombros, se afastando dele e passando por Vance, que analisava o trabalho de Finney meticulosamente.
    Bruce estava sentado no chão, ao lado de Mary. A mesma possuía um olhar esbugalhado. Sua face exibia seu ódio fulminante e o terror eminente. Estava agachada, olhando para o chão, as mãos ao redor de sua cabeça.
    "Ah, qual é? Estou sendo realista. Você não vai achar alguém melhor que eu. "
    "Hm... Eu pensei em Maia ou Valerie para uma garota."
    "E para um garoto?"
    "Anthony ou Eric."
    "São nomes lindos."
    "São... Eu já pensei muito sobre ter uma família."
    "Desde quando?"
    "Desde quando te vi pela primeira vez."
    Mary precisava gritar, mas simplesmente não podia. Quanto mais alto falava, mais suas cordas vocais se desgastavam.
    O menor se afastou do vaso, secando suas mãos em sua roupa. Caminhou até a parede e começou a quebrá-la novamente.
    Seus olhos se viraram para Finney por alguns segundos. Como em um ato de desconfiança, Finney parou e virou seu olhar até encontrar o de Mary, o qual ele não sabia ser de sua irmã. Era apenas um borrão escuro ao longe.
    Estava pensando em tantas coisas, que sequer pensou em sua irmã. Haviam coisas demais para pensar, coisas demais para memorizar.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    NÃO SE ESQUEÇA.
    Não poderia jamais se esquecer.
    Jamais esqueceria, mesmo que se esforçasse para isso.
    Estava descontando seu ódio naquela parede, tão concentrado que mal percebeu atingir algo de metal. O som ecoou em seus ouvidos, chamando sua atenção.
    Soltou a tampa de porcelana no chão, tirando alguns pedaços da parede. Então, pôde ver a placa de metal que Vance viu meses antes.
    Ansioso, procurou pelo seu foguete de brinquedo em seu bolso. Assim que o achou, tentou usá-lo para retirar os parafusos da placa.
    Não conseguindo, se virou para o vaso sanitário, correu até ele e começou a desmontar o que viu pela frente, começando pela alavanca.
    Vance teve um déjà vu, e por um momento, estava na pele de Finney. Ele desejou tanto que o mascarado não visse o que Finney havia feito... Jamais se perdoaria se ele fizesse com Finney a mesma coisa que fez com Mary.
    Assim que Finney achou uma peça fina em formato circular, a retirou de lá. Voltou-se para a placa e retirou os parafusos da mesma, depois a colocando no chão.
    Quando retirou a placa da parede, a primeira coisa que viu dentro daquele congelador foram carnes. Arremessou algumas para longe para ter espaço para ele lá dentro.
    Entrou no congelador, o ar frio fez seu corpo arrepiar. O loiro encostou suas costas na parede do congelador e forçou chutes contra a porta do mesmo, tentando sair. Chutou-a de novo e de novo e de novo, cada vez mais forte, mas a porta não abriu. Do lado de fora, ela permanecia trancada, como sempre.
 

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora